Página 13 entrevista aqui o companheiro João Moraes, que disputará a prévia para a definição da candidatura a prefeito pelo PT na cidade de São Caetano do Sul, que ocorrerá no dia 15 de março, das 9 às 17 horas na sede da Apeoesp (Rua Rio Grande do Sul 177, casa 35 – Centro de São Caetano do Sul).
Página 13: Como pré-candidato a prefeito de São Caetano do Sul pelo PT nos conte um pouco de sua trajetória política e dos motivos que o levaram a colocar o seu nome na disputa interna do PT.
João Moraes: Nasci em Dracena, interior de São Paulo e vim para São Caetano com alguns anos de vida, nos anos 60. Fui operário da indústria de móveis e embalagens no Grande ABC nos anos 70. Fui presidente do Diretório Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Mogi das Cruzes e vice presidente do Diretório Central dos Estudantes. Em maio de 1979 participei da reconstrução da União Nacional dos Estudantes, em Salvador, na Bahia.
Militei na clandestinidade no período da ditadura militar no país.
Fui um dos fundadores do PT de São Caetano do Sul no início da década de 80, tendo sido eleito vereador pelo Partido por dois mandatos consecutivos, de 1983 a 1993.
Sou graduado em Arquitetura e Urbanismo, mestre em Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia e Ciência Política) pela PUC-SP e doutor em Sociologia pela PUC-SP e USP e sou professor universitário em São Caetano e em diversas universidades da região metropolitana.
Atualmente sou membro do Diretório Municipal e da Comissão Executiva do PT de São Caetano e membro da Macro ABC do PT.
Coloquei meu nome à disposição do partido com o objetivo de contribuir com o debate político e a construção de um programa de governo que possa dialogar com os diferentes setores sociais da cidade, as mulheres, os idosos, a juventude, os trabalhadores das diferentes áreas de atuação. Esta disputa será muito importante para fortalecermos os laços do partido com a classe trabalhadora no combate aos problemas estruturais da cidade.
Página 13: Como você analisa o momento político do país de conjunto e o lugar da disputa eleitoral de 2020 neste contexto?
João Moraes: Vivemos tempos de guerra. A coalização do golpe de 2016, que determinou a prisão e a interdição de Lula, e a vitória de Bolsonaro em 2018, não quer apenas nos derrotar. Quer destruir a esquerda brasileira, a começar pelo PT. Eles sabem que na história do Brasil o petismo é a mais forte e a mais importante experiência organizativa de quem vive do trabalho, sofre opressão e dominação.
O PT precisa de uma nova estratégia, que nos permita reconquistar a maioria da classe trabalhadora, nos leve à vitória eleitoral, ao poder e ao socialismo. As eleições de 2020 serão muito importantes para podermos dizer claramente à população que o governo Bolsonaro é inimigo dos de baixo, assim como os grandes meios de comunicação, o poder econômico, a manipulação ideológica e o imperialismo. Nas eleições é preciso capacidade de ligar estas grandes questões às questões concretas que afligem o cotidiano da vida da população no município.
Página 13: Como está vendo a movimentação das forças políticas no Estado de São Paulo e o PT no Estado?
João Moraes: Mais uma vez as forças politicas de centro direita procuram se articular em São Paulo em torno dos projetos privatizantes, da destruição dos direitos e no ataque sistemático às populações periféricas, Estas forças que foram representadas por Dória, Skaf e França na disputa para governador em 2018, já se articulam agora nos municípios tendo em vista acumular forças nestas eleições municipais. A violência extrema da PM na recente votação da “reforma da previdência estadual” é um sinal do caráter absolutamente reacionário destas forças políticas.
Neste contexto o PT tem que abandonar a ilusão de que a classe capitalista, ou qualquer uma de suas frações pode vir a ser aliada estratégica das classes trabalhadoras.
Acredito que a partir do momento que o PT afirme a sua identidade política e uma tática eleitoral que privilegie coalizações com os partidos de esquerda, poderá obter êxito nas eleições deste ano.
Página 13: Em 2016 o PT teve um péssimo resultado eleitoral, elegemos apenas 8 prefeitos no estado e nenhum no ABC pela primeira vez na história. Como avalia o cenário eleitoral na região este ano?
João Moraes: Acredito que o PT no Grande ABC tem grandes chances de vencer nas disputas das prefeituras de São Bernardo do Campo, com Luiz Marinho, em Diadema com o Filippi e em Mauá com o Marcelo Oliveira ou Osvaldo Dias. Mas não nos iludamos, serão disputas duras, em que a prioridade deve ser unir o Partido em torno de uma campanha militante. Nas demais cidades, inclusive em São Caetano acredito que o partido encontrará maiores dificuldades para vencer, pelas características estruturais das cidades ou por fatores conjunturais. Entretanto, é fundamental que o PT tenha candidato ou candidata em todas as cidades da região e lute pela vitória, que deve estar no nosso horizonte e vai depender muito do clima politico geral do Pais e da capacidade global do PT de se apresentar como alternativa de esquerda ao desastre social do governo Bolsonaro.
Página 13: No ano passado alguns setores do partido cogitaram de não lançar candidatura própria do PT em São Caetano. Como este debate foi superado? Dê um quadro geral da disputa política na cidade. Quem são nossos inimigos?
João Moraes: No processo de reuniões em 2018 e 2019, que culminou com a realização do último PED, as/os militantes do PT na cidade tiveram a maturidade politica suficiente para a evolução da discussão, no entendimento de que com a candidatura própria, poderíamos compor uma chapa forte de vereadoras e vereadores, para o fortalecimento do partido na cidade, além de estabelecer uma interlocução direta com a população com um programa de governo que trate dos reais problemas vivenciados no município, nas áreas da saúde, educação, segurança, cultura, mobilidade urbana, enchentes, dentre outras questões.
Página 13: O que diferencia São Caetano das demais cidades do ABC?
João Moraes: Para 2020 São Caetano tem um orçamento público estimado em R$ 1.670.000.000,00 na Lei Orçamentária Anual, para uma pequena área territorial de 15,331 km² e uma população de aproximadamente
160.000 habitantes, segundo estimativa do IBGE em 2018. O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) é o maior do Brasil, atingindo o índice de 0,862, calculado com os dados do último censo do IBGE. O PIB per capita em 2017 era de R$ 82.119,69, conforme dados do IBGE.
Estes dados indicam que se trata de uma cidade totalmente urbanizada, que não apresenta em mesmo grau os graves problemas sociais e de infra estrutura urbana dos demais municípios da região do ABCDMRR.
Mas o que os números frios não revelam é que a desigualdade é sim muito presente no território da cidade. São Caetano tem várias dezenas de cortiços com péssimas condições de habitabilidade e não conseguiu resolver o grave problemas das enchentes, que afetam duramente parte da população todos os anos.
Aqui predominam também práticas clientelistas, como revelado pelo chamado “escândalo do fura fila da saúde” em que a “fila” do atendimento do SUS é “furada” em troca de favores políticos e votos. Há ainda a falsa ideia de que não existem pobres na cidade. Na minha dissertação de mestrado, cujo título é “Cidade Rica, Casa Pobre: A Urbanização em São Caetano do Sul”, procuro estudar e retratar a cidade realmente existente, para além das idealizações.
Outro traço marcante da realidade é o autoritarismo crescente nas relações, como o controle exercido pela administração atual nas escolas, com a remoção compulsória de diretores sem consulta à comunidade escolar.
Página 13: Com quais setores sociais você acha que devemos dialogar prioritariamente na campanha?
João Moraes: Temos que dialogar com os jovens, negras e negros, população LGBT e as trabalhadoras e trabalhadores dos diferentes segmentos da economia. É fundamental um diálogo qualificado com os servidores públicos municipais e profissionais da saúde, educação entre outros. É importantíssimo também o diálogo com a população idosa. Será fundamental incorporar no nosso plano de governo as demandas das mulheres, assumindo a perspectiva da perspectiva feminina na vivência dos problemas do cotidiano da vida urbana. Do ponto de vista das classes sociais, a classe trabalhadora será interlocutor privilegiado, com espaço também para diálogo e compromissos de governo com os pequenos e médios comerciantes e pequenos e micro empresários.
Página 13: Quais os principais desafios para um governo petista em São Caetano? Quais áreas e políticas públicas devemos priorizar no nosso programa de governo?
João Moraes: Os principais desafios para um governo petista se iniciam na campanha. Sabemos o que a grande mídia desenvolveu nestes 40 anos de existência do PT: o “vírus” do antipetismo, com ataques permanentes e sistemáticos a Lula e ao partido. Esse sentimento de rejeição ao PT é forte em São Caetano, Bolsonaro teve aqui quase 70% dos votos no 2º turno da eleição presidencial de 2018. A disputa será travada numa cidade conservadora, dominada por uma pseudo “elite” de homens brancos e “famílias tradicionais”.
Nosso desafio será buscar os corações e mentes dispostos a conhecer nosso projeto político para a cidade, e disposição não nos faltará para isto.
Para tanto construímos uma proposta inicial de programa de governo a ser detalhada pelo Partido para a campanha com o envolvimento de toda a militância e profissionais comprometidos. Algumas fontes para a nossa construção inicial foram o movimento nacional BRCidades, as construções do Cidades Sustentáveis.Org e os programas de governo das campanhas petistas da região, em especial o Programa de Governo do PT de São Bernardo do Campo na campanha de 2016.
Em linhas gerais, nossas prioridades serão:
– Controle do orçamento: democratizar informações sobre a cidade e a gestão publica;
– Universalizar o acesso ao transporte coletivo, defendendo o bilhete único metropolitano e a tarifa zero para a população de baixa renda, estudantes e desempregados;
– Moradia digna e direito a cidade;
– Pela vida e direitos das mulheres e minorias;
– Segurança pública, preventiva, humanizada e investigativa;
– Saúde pública e universal;
– Acesso à cultura urbana na produção cultural local;
– Enchentes: restaurar o papel da Emplasa no planejamento da região metropolitana de São Paulo e integrado ao plano de drenagem de cada cidade;
– Desenvolvimento econômico e sustentável, geração de trabalho e renda;
– Escola democrática, participativa e inclusiva, com a valorização dos profissionais da educação.
Página 13: Tem alguma mensagem especial para a militância petista de São Caetano na prévia do dia 15/3?
João Moraes: Minha mensagem é de confiança na nossa capacidade coletiva de nos superarmos e construirmos coletivamente as condições para sairmos vitoriosos desta campanha eleitoral e com um Partido renovado na cidade. O PT de São Caetano já foi uma referência importante no debate petista na região e tem tudo para voltar a ocupar este papel, depende de nós, vamos à luta!