Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia sinuosa da política para “prender”, neutralizar Bolsonaro, e “soltar” e/ou adestrar e cultivar o bolsonarismo
Mãe e aliada do Bolsonarismo, a direita histórica, sintetizada pelos partidos PSDB, PMDB e DEM, especialmente com a intervenção da sua agência jurídica, pretende apenas neutralizar Bolsonaro. Faz sentido? Sim, afinal, Bolsonaro, é quadro burguês da extrema direita e, notadamente, peça movida pelos interesses dessa classe social. Sendo o que é, ele sofrerá apenas ataques táticos e sob controle da direita histórica e dos seus privilégios.
A parelha golpista é contrária à soberania nacional
A parelha golpista, registrada no título acima , tem relação umbilical com o golpe de 2016, o advento de Bolsonaro, do bolsonarismo e da atualização, a serviço do imperialismo, da política contrária ao desenvolvimento industrial brasileiro e, no mesmo arco de atuação e aliança, contrária à soberania nacional. O Mensalão, a Operação Lava Jato e o golpe de 2016, realizações do PSDB, PMDB, DEN , Rede Globo, sistemas financeiros, jurídicos e policial, são posições e produções emblemáticas no que concerne à política entreguista das riquezas energéticas, minerais e dos recursos sociais, que são sintetizadas pelas investidas da burguesia branca, desde o governo de Getúlio Vargas, contra o desenvolvimento e modernização da indústria brasileira.
Na mesma toada, o PIBRG, nos artigos e editoriais dos principais jornalões que circularam no final do mês de janeiro de 2024, apresentou posição fechada contra a política de desenvolvimento da indústria nacional enunciada pelo presidente Lula . É preciso desnaturalizar o papel de neutralidade do STF e da chamada justiça no Brasil. Decorre dessa necessidade a indagação: o sistema jurídico é contra o desenvolvimento nacional e a soberania popular? Sem dúvida! A judicialização da política é um dos braços de atuação do imperialismo no Brasil. A parelha, a rigor, é uma tríade composta pela força militar, jurídica e do Partido da Imprensa Branca Racista. A bem do entendimento do golpe de 2016 e do advento do bolsonarismo, a tríade expressa a política arquitetada de modo subjacente pelo PSDB, PMDB, DEN e de modo direto pela burguesia branca brasileira e imperialismo.
É viável a aliança com setores da burguesia?
A despeito de ser uma tática, as alianças não são centrais na conjuntura atual. De modo conjunto, a burguesia já deu inúmeros sinais que pretende derrotar o governo Lula. Basta fixar o olhar na atuação do Banco Central, Congresso , Senado e do PIBRG. A medida ou política ideal passa pela atualização da esquerda anti-sistema, anticapitalismo e pela construção de um programa capaz de mobilizar e organizar o campo negro-popular e classe trabalhadora, que devem orientar o processo. O foco é a hegemonia, a mudança de correlação de força, à esquerda e não a aliança com setores da burguesia, que no momento não querem aliança tática, notadamente no projeto de desenvolvimento nacional, com o governo Lula. Na verdade, não querem aliança em campo ou ponto algum que reabilite a soberania nacional e ameace o imperialismo.
As escalas golpistas no início de 2024
Do ponto de vista do entendimento da luta de classes, no início de 2024, o golpe de 2016 e as políticas mobilizadas pelo imperialismo são as chaves interpretativas indispensáveis para o entendimento da disputa pendular Lula , campo negro-popular e/ou classe trabalhadora, versus Bolsonaro, Bolsonarismo, extrema direita e direita histórica brasileira.
Com o objetivo de situar os processos golpistas na escala do subcontinente América do Sul e no tabuleiro da geopolítica global, é fundamental olhar os estágios ou estados dos golpes sucessivos na quase totalidade dessa escala geográfica subcontinental, com exceção da Venezuela, como produção arquitetada e dirigida, com a subserviência das burguesias internas e de suas agências, pelo imperialismo. Nos embates com a extrema direita brasileira, relevando os processos e derrotas políticas do império na Ucrânia, Faixa de Gaza e África Ocidental, teremos cada vez mais na estrutura profunda e de superfície das guerras e golpes a simbiose de imperialismo e sionismo. O processo na Argentina é um retrato dinâmico dessa realidade, que se materializa com a saída do país dos BRICS, o apoio ao sionismo e ao imperialismo.
Tudo indica que a parelha inseparável, imperialismo e sionismo, estará presente e atuante na oposição ao governo Lula e ao projeto de soberania nacional.
Estágio do golpe de 2016 e desdobramentos eleitorais e políticos
No Brasil, em decorrência desse estágio golpista e de progressivo esmagamento dos desígnios e conquistas democráticas, nacionais e populares, a disputa com a extrema direita, que é cavalo de Tróia da direita e imperialismo, exige mobilização e alteração da correlação de forças envergada por mudanças estruturais e dos inadiáveis enfrentamentos nos planos institucionais e da sociedade mais ampla. Em outros termos, a crise permanente do capitalismo e derivada dela as crises política e institucional exigem transformações estruturais e de confronto aberto contra as políticas, entre outras, de privatizações. O que significa também o consequente impedimento da entrega dos recursos energéticos , hídricos, minerais e estratégicos ao monopólio , exploração e dominação do império atlanticista.
Feito o desenho preambular, fica patente a absoluta impossibilidade de virar a página do golpe de 2016 sem derrotá-lo no chão da sociedade brasileira. Ilusões à parte, podemos bradar que desconsiderar os desdobramentos dos marcos golpistas, no pleito eleitoral e no político de longa duração, é um erro grave. Para tanto, no plano tático há a urgente necessidade de o governo Lula enfrentar ou confrontar as instituições modelares do Estado Burguês brasileiro, que são expressões ou formas políticas derivadas, é o caso do Banco Central, Congresso e PIBRG, e aliadas do golpe. A propósito dos golpistas, nos referimos ao sistema jurídico, militar, forças armadas e sistema de comunicação.
O reposicionamento exige mobilização e mudança de correlação de força ativada pelos espaços, instâncias e organizações da classe trabalhadora e campo negro-popular. A ênfase recai, no que toca à luta política, na força de base da CUT, PT, MST, Movimentos Sociais, categorias sindicais e partidos de esquerda. No quadro conjuntural , as forças de esquerda farão, sem abdicar da autonomia crítica, um movimento tático favorável ao governo Lula, todovia, empurrando -o à esquerda e, ao mesmo tempo, sustentando nos espaços gerais da sociedade as políticas estratégicas que assegurem as derrotas do golpe de 2016 e as vitórias revogatórias a serviço da classe trabalhadora e campo negro-popular. No momento, é um dado transitivo que precisa de alteração, existe um duplo problema.
Há uma baixa intensidade do governo Lula no enfrentamento das instituições governadas pelos golpistas e, na mesma inércia, temos igualmente a paralisia e baixa intensidade de embate e menos ainda de radicalização da esquerda de conjunto. Os dois polos devem ser ativados concomitantemente para a subsequente alteração da correlação de força que historiciza, nos bolsões de Estado; isto é, Banco Central, sistema jurídico, forças armadas, sistema policial e de comunicação, as principais políticas impostas pelo golpe de 2016. Os bolsões de Estado são forças orgânicas do bolsonarismo e, antes, são forças controladas pela burguesia brasileira e imperialismo. É ponto central investir nas reformas transfomadoras do pais
pós golpe de 2016, sem dúvida e com a articulação e luta encetada pelo polo governamental e , sobretudo, pela classe trabalhadora e polo negro-popular. As crises contínuas do capitalismo e, na sua esteira as crises política e institucional, se resolvem rigorosamente na luta política. Avultam a mobilização ,as mudanças estruturais e com o envolvimento do campo negro-popular nas reformas revogatórias, entre outras, das privatizações. Mas é necessário desfazer, a partir de políticas e salário e renda, a base conjuntural do bolsonarismo , em parte , nucleada em setores movediços da classe média capturados pelas intervenções do Partido da Imprensa Branca , Racista e Golpista, o PIBRG. Sem ocultar outras leituras, o setor da classe média possível de deslocamento eleitoral e político desconsidera a sua real condição social e, movido pela ideologia totalitária da burguesia branca, se posiciona, equivocadamente, como parte do bloco de poder burguês e contra os trabalhadores, a despeito de ser, na origem , parte da classe trabalhadora.
Instituições jurídicas atuam contra o campo negro-popular
A crise política, de ordem estrutural e sistêmica, não pode ser superada através dos instrumentos ou instâncias burguesas, especialmente as jurídicas. É o caso do JTF, que não passou pelo selo eleitoral, e é, por tal razão, infenso ao crivo e controle tributado pelo voto, eleição e critérios erigidos pelo exercício temporal e democrático. Historicamente, no Brasil, juízes (as) e os catalogados magistrados superiores estão acima da Lei e o exercício, para assegurar os privilégios burgueses e brancos, em oposição aos interesses dos negros, das demandas populares e dos trabalhadores, só termina com a aposentadoria. É preciso, portanto, pauta negro- popular e operária no centro das lutas.
“Prender” Bolsonaro e preservar o bolsonarismo
A prisão para Bolsonaro, anunciada apenas taticamente pela direita histórica, de acordo com os processos, não substitui um movimento político de soberania popular e dirigido por meio de participação. Há necessidade de mobilização e organização que convulsione outra base na sociedade. A vitória não virá com as ações movidas pelo sistema jurídico. É presico, para reverter as ações políticas materializadas pelo golpe de 2016, compreender o uso do fascismo-bolsonarismo, especialmente contra Lula, PT e classe trabalhadora, como força taticamente útil à direita e instituições burguesas. A questão não é o fascismo isoladamente ,mas sim o seu uso que significa e impõe, sobretudo, derrotar a burguesia e com ela as ações do imperialismo.
No momento atual, início de 2024, os privilégios da burguesia estão amalgamados pelos movimentos simbióticos do imperialismo, sionismo e bolsonarismo. De modo complementar, a direita histórica pretende neutralizar Bolsonaro; ele é um obstáculo à frente ampla contra Lula e PT, no entanto, continuará casada com o bolsonarismo. No Brasil, é um dado a ser considerado, temos a fusão orgânica do bolsonarismo, sionismo, quadros lavajatistas e golpistas.
Desse modo, a pauta da direita contra bolsonaro, que é útil e mais ainda ou principalmente peça da burguesia, do projeto neo-liberal, antinacional e dos privilégios ativados pelas agências e instâncias golpistas do imperialismo e /ou dirigida pelo imperialismo, não desfaz as políticas golpistas e contrárias à soberania nacional e classe trabalhadora. A burguesia, ao entregar Bolsonaro apenas para um relativo “desgaste”, não entregará os generais, empresários e os colunas das agências imperialistas. Na mesma linha estratégica, não abandonará os projetos neoliberais, notadamente as privatizações e a política contrária ao desenvolvimento nacional. Não há notícias, em concordância com o exposto, de exposição e, menos ainda, de enquadramento dos militares do alto comando, que executaram e executam golpes e atualizaram , especialmente no golpe de 2016, em parceria com o PIBRG e sistema jurídico, a senda histórica contrária aos processos populares, democráticos e de soberania nacional.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab – Bahia. O fruto proibido é de sua autoria: https://youtu.be/3YGEf7WM6Fw