Europa e a desagregação do sistema capitalista – V

Por Gabriel Araújo (*)

A situação política doméstica da França nos últimos anos serve para qualquer analista político enquanto uma demonstração dentro das dimensões territoriais e políticas de uma nação, daquilo que está a ocorrer em escala internacional, geopolítica e economicamente, no conjunto dos países imperialistas.

A França tem sido palco de um intenso acirramento das lutas de classes, provocada principalmente pelas diretrizes político-econômicas colocadas em prática e pela sua política externa, em que ambas voltam contra si mesma. Pelo menos no que diz respeito aos donos do regime político francês, ou seja, a direita neoliberal.

Com relação a economia, conforme já foi mencionado em artigo anterior, a média de crescimento do PIB está estagnada, beirando a zero ou até mesmo a retração. Em paralelo a essa situação, os trabalhadores tem sido submetidos a sistemáticas retiradas de direitos, como os casos das reformas trabalhistas e previdenciárias, além das percas de direitos sociais, sob a fajuta justificativa de que isso serve para oxigenar o mercado. O mesmo vale para a situação da dívida pública, que em 2023 chegou ao equivalente de 117,3% do PIB da França.

Esse contexto levou a França a um clima quase que insurrecional, tendo como grande marco que caracterizou essa situação, a luta nas ruas e durante vários meses dos coletes amarelos.

Essa oposição se refletiu político-institucionalmente, com o crescimento recorde do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional no parlamento, o aumento de cadeiras por parte da esquerda e a perca da maioria no parlamento pela coligação do governo francês, o que tem dificultado a formação de uma coalizão nos últimos anos.

A recente dificuldade de aprovação da lei de imigração (medida paliativa para lidar com uma condição criada pelo próprio imperialismo, que destrói os países de capitalismo atrasado provocando processos de imigração de trabalhadores para os países imperialistas na busca de melhores condições de sobrevivência) e agora a saída do partido MoDem e seus 40 parlamentares do governo, reforçam ainda mais a desagregação que os principais representantes do regime político e econômico neoliberal vem enfrentando após anos de hegemonia.

Marine Le Pen, líder do Reagrupamento Nacional, desponta como favorita no primeiro e no segundo turnos para as eleições de 2027. A parlamentar e candidata da extrema-direita tem angariado apoio popular porque faz o óbvio para tal. Le Pen, por exemplo, é favorável as negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia para colocar um fim no conflito, com uma postura bem menos hostil aos russos, foi contrária a reforma da previdência, direciona sua linha política para tratar de temáticas doméstica que afligem a sociedade francesa de maneira concreta.

Esses exemplos mencionados logo acima são em linhas gerais as diretrizes políticas atuais que tem permitido que a extrema-direita viesse avançando em todo o conjunto dos países imperialistas, principalmente no continente europeu.

Mas a extrema-direita não consegue levar até as últimas consequências as pautas populares justamente porque a extrema-direita é na sua essência uma corrente política contrarrevolucionária, pró-imperialista, antipopular, anticientífica, conservadora, ou seja, um braço político da burguesia e do processo de conservação do sistema capitalista. A extrema-direita é uma ferramenta capitalista. E é característico da extrema-direita quando ascende ao poder, voltar todas as suas baterias contra a classe operária, com a mais profunda truculência, para implementar o programa político-econômico da burguesia.

Se por um lado a desagregação do sistema capitalista apresenta para o conjunto da classe operária uma maior aproximação da chegada do mundo sem explorados e sem excluídos, ela também apresenta a chegada de desafios enormes e uma intensificação da aparição de métodos políticos de lutas de classes cada vez mais abertos e ferozes. As organizações proletárias precisam preparar suas bases e suas estruturas para se encontrarem à altura das demandas de agora e do futuro.

(*) Gabriel Araújo é dirigente do MNLM e militante petista

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