Que direção o PT precisa tomar?

Por Denise do Amaral L. P. Santos,

Silvia Garcia de Castro,

Solange Augusto,

Luciana Diniz Barbosa,

Carolina Carpenter,

José Antônio de Castro Santos,

João Estevão Garcia de Castro e

Rogério Barros (*)

Candidato do PT a prefeitura de Guaratinguetá, Fábio Selles, na saída do seu
local de votação

A escolha do nome de Fábio Selles na reunião do Diretório Municipal de Guaratinguetá para candidato à chapa majoritária do PT 2024 foi feita de modo irregular, não seguindo os critérios da Comissão Executiva do PT Nacional (Critérios para indicação de candidaturas do PT para a Federação Brasil da Esperança, de 28 de setembro de 2023). Como nesta reunião foi levada a proposta de frente de esquerda como alternativa à chapa majoritária e a votação do DM não obteve dois terços dos votos, nosso grupo decidiu entrar com recurso na Comissão Executiva do PT-SP (27 de maio de 2024) para que o encontro municipal decidisse entre candidatura majoritária do PT ou frente de esquerda na chapa majoritária.

Com a aprovação do nosso recurso, foi chamado o Encontro Municipal do PT em 16 de junho de 2024. Nosso grupo defendeu a frente de esquerda no encontro municipal: “que o PT estabelecesse um processo de diálogo político com o PSOL, que já estava em pré-campanha desde março, e discutisse uma aliança para a eleição majoritária de 2024, apresentando pontos programáticos considerados indispensáveis para que uma aliança pudesse se consolidar. O PT ainda poderia, assim, cumprir um papel importante para a construção de uma alternativa política popular e de esquerda para Guaratinguetá no curto e no longo prazo, somando forças num polo de esquerda e direcionando suas energias para retomar uma representação petista na Câmara de Vereadores”. Porém, essa tese não foi aprovada no encontro e sim a da candidatura própria de Fabio Selles.

Seguiram-se, então, para as etapas dos registros dos candidatos: para vereadores, eram apenas cinco no dia do encontro municipal e, até 30 de junho de 2024, o PT conseguiu registrar o total de 12 candidatos a vereadores. E a campanha teve início em 16 de agosto de 2024, inicialmente nas redes sociais e nas ruas, mas sem material impresso. Em setembro, chegaram materiais, dando impulso à campanha até 5 de outubro.

Resultado em 6 de outubro de 2024:

Diante desses números, nosso grupo fez algumas análises e considerações:

Esse resultado eleitoral da majoritária do PT só não foi pior do que em 2016, quando Tania Araújo teve 1.063 votos. Este ano, Fábio Selles, candidato majoritário do PT, recebeu 1.253 votos, apenas 162 a mais que o candidato do PSOL, Thales, que teve 1.091.

O resultado da chapa proporcional foi o pior da história do Partido dos Trabalhadores de Guaratinguetá. A diferença entre a chapa proporcional do PT e a do PSOL, somando os votos na legenda, foi de 282 votos, ou seja, o PSOL teve o dobro de votos de vereadores, proporcionalmente, em relação aos do PT. Diga-se que foi a primeira disputa eleitoral do PSOL na cidade. Professora Denise, com 472 votos, foi a mais votada do PT de Guaratinguetá, mas a chapa de vereadores não atingiu votos suficientes para eleger um vereador. O coeficiente eleitoral em Guará para eleger um vereador do partido é de aproximadamente 6 mil votos.

Segundo Gleisi Hoffmann, “o balanço do PT a nível nacional foi positivo, o PT venceu 248 prefeituras no primeiro turno deste ano. O resultado é positivo, se comparado ao primeiro turno de 2020, quando os eleitos somaram 182”.[1] Em Guaratinguetá, ao contrário do que Gleisi apresenta, o resultado foi negativo: em 2020, tivemos 3.700 votos majoritários e 2.328 para a chapa de vereadores. Já em 2024, como foi dito anteriormente, o resultado eleitoral da majoritária do PT Guará só não foi pior do que em 2016 além de ser o pior resultado da chapa proporcional da história do Partido dos Trabalhadores de Guaratinguetá.

O PT Guaratinguetá precisa, urgentemente, tomar esses resultados eleitorais para fazer uma avaliação dos motivos que levaram à piora do desempenho de uma forma geral e, também, ao pequeno número de votos da eleição 2024 diante da grande soma de votos da direita e extrema-direita na cidade. O que pode ser? A alegada retórica de que a cidade é conservadora? Que a população não vota na esquerda? Que a extrema-direita usa fake news? E tantas outras explicações que sempre escutamos.

Será isso mesmo? Ou será que falta ao PT atuação nos bairros e na comunidade na defesa dos direitos do povo trabalhador? Falta a presença dos filiados e militantes dos sindicatos e movimentos sociais na luta contra as arbitrariedades sofridas pelos trabalhadores e no movimento de aumento de salários e condições de trabalho? E na luta por escolas e atendimento de saúde para a demanda da cidade? Na luta por moradias e contra privatizações em todas as áreas da gestão executiva? Enfim, estar presente na luta do povo de Guaratinguetá.

Nosso grupo acredita que o PT de Guará está com dificuldades na direção para reconstruir essas atuações junto ao povo trabalhador. Isso porque uma parte do PT de Guará está longe desse objetivo, tendo uma prática cada vez mais burocrática e autoritária.

Nosso grupo acredita que o PT precisa reconhecer que foi um erro a posição tomada de prioridade em candidatura própria majoritária do PT colocada em cima da hora sem uma análise da competitividade desta candidatura (se teria aceitação popular e capacidade de agregar apoiadores). Além disso, analisar qual seria a prioridade para destinar os recursos às candidaturas do PT Guará para conseguir uma das metas do partido na cidade: a de conseguir uma ou mais cadeiras na Câmara Municipal. E, principalmente, assumir que para combater a extrema-direita que se mostrava forte no contexto de Guará em 2024 (PSD, PL, Republicanos como adversários, tendo a força do governo do estado, do poder econômico e base orgânica como militares, empresariado e fundamentalismo religioso) precisaria uma frente de esquerda no majoritário.

O PT precisa se posicionar contrário a propostas que foram discutidas especialmente na Executiva do DM PT Guará, como conversas de alianças e coligações com partidos de direita e extrema-direita, posição à qual nosso grupo se colocou veementemente contra.

Nossa avaliação é a de que o PT de Guará precisa se organizar para crescer em Guaratinguetá, principalmente retomando a base da juventude que, em 2020, teve candidaturas representativas e com mais de mil votos (João Luís, com 673; Miriã Sol, com 181; e Paulinho, com 281, somando 1.135 votos). Candidato do PSOL de 2024, o representante da juventude Pedro Japa teve 555 votos, ou seja, o candidato jovem de esquerda com maior número de votos.

Também retomar ações como apoio ao cursinho popular Cloves de Castro, movimento passe livre, movimentos culturais como Hip Hop e outros. Além disso, continuar atuando nos movimentos das áreas ambientais, como luta contra aumento do preço da água e esgoto e a não privatização da SAEG, na área da educação, como movimento por mais creches e escolas de tempo integral, pela melhoria do atendimento aos alunos de inclusão, movimentos de moradia, movimentos pela melhoria do atendimento na saúde etc.

Enfim, o PT precisa continuar na direção da luta da classe trabalhadora, das mulheres, do movimento negro, LGBTQIA+, ambientais e outros. Fazer campanha de filiação e um trabalho de reconhecimento de lideranças que poderão ser os futuros candidatos para 2028. Para tudo isso, precisamos de um partido que seja grande na luta, mas principalmente democrático e popular.

A luta continua, companheiras e companheiros!

Guaratinguetá, 12 de outubro de 2024.

(*) Denise do Amaral L. P. Santos, Silvia Garcia de Castro, Solange Augusto, Luciana Diniz Barbosa, Carolina Carpenter, José Antônio de Castro Santos, João Estevão Garcia de Castro e Rogério Barros são militantes do PT de Guaratinguetá.

[1] https://www.cartacapital.com.br/politica/a-avaliacao-de-gleisi-hoffmann-presidenta-do-pt-sobre-os-resultados-do-1o-turno-das-eleicoes-2024/.