Por Thaísa Magalhães (*)
Texto publicado na edição de maio do Jornal Página 13
A classe trabalhadora, a essa altura do jogo de sobreviver no Brasil, já convive com a piora na qualidade das condições do trabalho; com a desvalorização do seu salário frente à inflação, desde de 2016; e com a retirada de direitos considerados adquiridos – a precarização – palavra chique para dor e sofrimento da classe trabalhadora. Mas quem defende a classe trabalhadora? A esquerda. Quem são os aliados da esquerda? A classe trabalhadora. Mas quem defende os trabalhadores quando a Central Única coloca no palco do Dia Internacional do Trabalhador, seus inimigos?
Pelo segundo ano seguido a CUT Nacional adere à lógica da frente ampla antibolsonaro, na verdade frente amplíssima, da qual são convidados para saldar as conquistas de direitos do trabalho figuras como Rodrigo Maia (DEM), um dos protagonistas do golpe de estado sofrido no Brasil em 2016 e responsável direto pelo engavetamento de dezenas de impeachments contra Bolsonaro (sem partido) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), talvez o pai da precarização do trabalho na perspectiva da história recente do país.
Para pelo menos duas gerações de trabalhadores e trabalhadoras – a que ficou madura e a que adentrou no mercado de trabalho nos anos 90 – ver FHC no palco central, como convidado de honra do Primeiro de Maio das centrais, é mais do que traição: é um ataque. É um erro ter o olhar sensível e taxar como progressistas os setores aliados do grande capital, por um mero discurso científico frente a uma crise sanitária. Porque esses setores nunca tiveram dúvidas quanto a cobrar o preço das crises econômicas na exploração do trabalho, na diminuição de salários e na retirada de direitos. A derrota do avanço do conservadorismo de características fascistas não pode ser construída junto com a vitória do ultraneoliberalismo.
Aqui no Distrito Federal, no olho do furacão nas lutas contra o golpe, nas lutas contra as deformas trabalhista, da previdência e, agora, administrativa, a direção da CUT aprovou por unanimidade não transmitir inimigos dos e das trabalhadoras na “festa” do 1º de maio. Foi transmitida uma homenagem à luta que vem sendo travada pelas organizações sindicais em defesa dos direitos trabalhistas, a luta de solidariedade encabeçada pelas mesmas e movimentos parceiros como a CMP e o MST, a luta que cada um de nós tem travado para garantir a nossa própria sobrevivência e a dos outros.
Talvez o fato de Brasília estar tão ligada aos defensores e aos algozes da classe trabalhadora, não há como não ver com nitidez o que a luta de classes significa e como ela se impõe na vida de cada brasileiro e brasileira. A esquerda, os partidos de esquerda, os movimentos de esquerda, e a Central única dos e das trabalhadoras precisam reencontrar seus caminhos ao lado de seus aliados, não perdendo de vista que luta de classes não é um conceito antigo, anacrônico e ultrapassado, e sim, uma arma que está sendo usada pelos liberais para aumentar o poder da classe dominante.
Sigamos em luta, pela vida, pela saúde, pela emancipação da classe trabalhadora!
(*) Thaísa Magalhães é Secretária das Mulheres da CUT-DF e militante da Articulação de Esquerda.