O Andes-SN corre o risco de se deslegitimar frente à sua base como principal sindicato dos docentes do ensino superior
Por Marcos Piccin*
Neste 2015, o Andes – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior fez a maior greve de sua história: 139 dias. Como resultado prático: nada, absolutamente nada, nem mesmo arrancar do governo a promessa de continuar negociando. Em que pese a conjuntura de ajuste fiscal e a concepção empresarial da educação que é majoritária no Governo Federal, sair de uma greve sem nenhuma conquista pode ser uma grande derrota para o sindicato. “Pode”, porque caso saia sem nenhuma conquista objetiva, mas com a ampliação dos níveis de consciência da base e da mobilização, o que significa que fortalece sua legitimidade, um próximo movimento paredista pode sair vitorioso.
Mas o que se vê é o contrário: o Andes-SN perde legitimidade a passos largos frente à sua base social devido à política voluntarista e esquerdista de sua direção, em que o principal problema é achar que bastam uma convocação e reivindicações justas para que a categoria se mobilize (analisei mais detidamente a conjuntura e esses problemas no jornal Página 13 de dezembro).
Antes de continuar é importante assinalar o seguinte: o Andes-SN é estratégico! Portanto, lutar para que mude a linha política majoritária que orienta sua direção é uma tarefa de primeira ordem para quem milita no movimento docente.
Não bastasse isso, o Proifes — cuja legitimidade questionamos, criado em gabinetes, orientação governista e baixa capacidade de mobilização — fechou um acordo com o Governo no dia 18 de novembro que, apesar de insuficiente, traz algumas conquistas reais à categoria.
Ainda em setembro o Governo havia proposto um reajuste de 10% em dois anos, que em parte refletiu as pressões da greve, mas que o Andes-SN, acertadamente, não aceitou naquele momento, porque não repõe nem a inflação. Mas a conjuntura recrudesceu, ampliaram-se as posições reacionárias no Congresso Nacional e no governo de que o funcionalismo deveria ter zero de reajuste, e o Andes-SN saiu da greve sem nem mesmo garantir os 10%.
O Andes-SN poderia ter aceitado, como movimento tático diante da difícil correlação de forças na conjuntura, e ao mesmo tempo mostrando à base que, ainda que aquém do necessário, o reajuste não teria existido sem o movimento grevista.
É incrível que o Andes-SN deixe de capitalizar politicamente o que é, em grande parte, resultado da mobilização que ele produziu! É infinitamente pouco da pauta de reivindicação apresentada, é sim! Mas se trata de fazer política e de se legitimar frente à base, sem deixar espaço para o sindicalismo chapa-branca e moderado organizado em torno do Proifes-Federação.
*Marcos Piccin é professor na UFSM