Reflexões sobre a guerra contra o Irã

Por Marcel Frison (*)

Os EUA resolveram atacar instalações do programa nuclear iraniano e entraram na guerra iniciada por Israel contra o Irã.

O principal argumento para esta guerra é eliminar o suposto risco do Irã produzir bombas atômicas.

O programa de produção de energia nuclear e enriquecimento de Urânio do Irã tem sido acompanhado pela ONU e pela Agência Internacional de Energia Atômica nas últimas décadas, uma exigência feita pelos EUA e Europa sob pena do aumento das diversas sanções econômicas já estabelecidas. Neste processo jamais foi identificado qualquer indício da existência da produção de armas nucleares por parte daquele país.

Evidente que esta relação, uma vez sustentada por imposições das grandes economias (e detentoras dos mais poderosos exércitos do mundo), gera tensões constantes entre o controle draconiano da Agência Internacional e a soberania nacional do Irã.

Interessante que o programa nuclear do Irã não foi uma invenção da Revolução Islâmica, mas foi estimulada e financiada pelos EUA na década de 50 quando o Irã era governado pelos Xás aliados ao Ocidente.

Convém lembrar igualmente que o Irã, agora sob o comando dos Aiatolás, é signatário do tratado de não proliferação de armas nucleares.

Israel não assinou este tratado, não há controle algum sobre o programa nuclear israelense e tampouco o mundo sabe quantas bombas atômicas possui este país.

Apesar da forte retórica contra os EUA, anti-ocidente e anti-israel, o Irã adota uma postura reativa e defensiva na geopolítica internacional, não realizando ataques diretos e unilaterais a outros países.

Por outro lado, historicamente e recentemente, Israel efetuou diversas ofensivas militares contra seus vizinhos no Oriente Médio e invadiu territórios ilegalmente como as Colinas de Golã na Síria, na Cisjordânia e no Líbano.

Israel é responsável por um verdadeiro genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza cujas principais vítimas são mulheres e crianças.

Afastadas das hipocrisias e mentiras que dominam os noticiários e os discursos das potências ocidentais sobre o Oriente Médio, quaisquer análises lúcidas a respeito apontariam Israel como um estado muito mais perigoso para a paz mundial do que o Irã.

Ficou claro nas escaramuças iniciais entre Israel e Irã, que o primeiro, apesar do enorme desequilíbrio (Israel apoiada e financiada pelos EUA e o Irã submetido a fortes sanções econômicas) não tem condições objetivas de vencer esta guerra sozinho. A entrada dos EUA no conflito é no sentido de forçar, como o próprio Trump afirmou, uma capitulação imediata do Irã.

O ataque dos EUA foi realizado em meio a propostas de negociações promovidas pela Comunidade Europeia sobre as quais o Irã tinha manifestado disposição em participar. Aliás, interrompeu iniciativas do próprio corpo diplomático estadunidense em buscar mediações ao conflito.

Trump afirma que a “guerra não é contra o Irã”, mas contra o seu programa nuclear. Ursula von der Leyen, presidente da Comunidade Europeia, disse que o Irã “não pode ter armas atômicas”.

Esta “conversa” é conhecida, na guerra contra Iraque, em 2003, os EUA e a Grã-Bretanha com a apoio da França atacaram o país sob o pretexto de que Saddam tinha armas de destruição em massa. O Iraque foi revirado e arrasado, Saddam Hussein morto, e nem para sustentar a mentira foram apresentados quaisquer indícios da existência de tais armas.

A retaliação apresentada pelo Irã é o fechamento do estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 25% da produção de petróleo do mundo, isto se confirmando a crise vai envolver a Arábia Saudita, Emirados Árabes, Iraque, Omã entre outros países daquela região.

Isto significa que os conflitos se tornarão generalizados e a guerra assumirá grandes proporções com reflexos no mundo todo.

Considerando-se a história dos conflitos no Oriente Médio, os interesses econômicos e políticos em jogo e o poderio bélico dos atores envolvidos, tudo indica que o Irã será devastado nesta guerra.

Estarão, por fim, dando as razões objetivas para que o Irã queira ter bombas atômicas, produzidas por eles ou adquiridas de outra forma.

(*) Marcel Frison é militante e dirigente petista de São Leopoldo (RS)

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