Em Campinas, Diadema e Natal, espaços da corrente mostram a importância da disputa de ideias para o avanço da esquerda
Por Adriana Miranda (*)
Quantos sonhos cabem numa casa habitada por ideias de luta, resistência e desejo de transformação e bem-estar social? No caso dos espaços culturais e de formação política da Articulação de Esquerda, a resposta é: muitos, inúmeros. Em duas cidades paulistas (Campinas e Diadema) e uma capital do Nordeste (Natal, no Rio Grande do Norte), centros culturais organizados pela corrente demonstram que é possível às forças de esquerda disputar a hegemonia de ideias e projetos para construir um mundo socialmente justo, livre de opressão e exploração.
Os três centros culturais não são apenas locais de encontro, mas verdadeiros celeiros de pensamento crítico e ação comunitária que promovem cursos, palestras, atividades lúdicas e fortalecem a consciência política e a mobilização social. Os espaços apostam nas artes e nos debates de ideias como aliados à participação ativa popular para a construção do socialismo e transformação social.
As iniciativas são mantidas com o trabalho coletivo de militantes da AE e as atividades, majoritariamente, oferecidas gratuitamente ao público, formado especialmente por trabalhadores e trabalhadoras. As despesas são cotizadas por militantes da AE ou colaboradores e simpatizantes da causa, sejam eles ligados a partidos políticos da esquerda ou intelectuais, por exemplo.
Nos centros, é possível encontrar de sebos a brechós, além de cursos que ajudam na manutenção de despesas com limpeza, água e luz. Tudo é a preço de custo. O objetivo não é o lucro, mas fortalecer as lutas da classe trabalhadora e o socialismo.
Instituições, partidos e entidades ligadas ao campo da esquerda, quando necessitam, podem fazer uso dos espaços para atividades, basta procurar os responsáveis pelos centros culturais e agendar uma data. Os três espaços culturais recebem ainda cursos da Escola Latino-Americana de História e Política (Elahp), funcionando como uma extensão deste projeto.
As atividades dos centros culturais são divulgadas nos canais de comunicação da Articulação de Esquerda e em sites e redes sociais dos espaços culturais. “Nas últimas décadas, o campo de esquerda perdeu espaços de referência, com isso, identidade e, inclusive, a formação de novos militantes”, aponta Jandyra Uehara, dirigente da AE e secretária nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Jandyra, ao lado de militantes da corrente, ajudou a criar no município de Diadema, em 2002, a primeira dessas iniciativas da AE, o Espaço Cultural Patrícia Galvão (Pagu), localizado no centro da cidade. “Iniciamos as atividades no Dia da Revolução dos Cravos, 25 de abril”, conta. Há 22 anos, o local oferece atividades como música, debates, teatro, palestras, poesias, cinema e exposições.
A exemplo do Espaço Pagu, o Centro Cultural Esperança Vermelha, em Campinas, também é cria da resistência e da luta. O CCEV nasceu há oito anos, em março de 2016, período da consolidação do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
Leandro Eliel, integrante do coletivo que organiza o Centro Cultural Esperança Vermelha, aponta que as conversas para criação do CCEV tiveram início em 2015, quando o golpe já era articulado pelas forças de centro, direita e extrema-direita do país, aliadas a empresários e ao capital.
“Nos reunimos e seguimos a centenária ciência da classe trabalhadora de organização coletiva em clubes, escolas, associações, sindicatos e partidos para fortalecer seus laços e enfrentar os ataques do golpe de 2016, com demarcadas matizes racistas, xenófobas e fascistas”, afirma. Para Eliel, os centros culturais da AE acabam cumprindo uma função que seria do PT, investir na formação política, deixada de lado pelo partido.
Em Natal, a Casa Socialista, recém-inaugurada, mostra que sonho sonhado junto se transforma em realidade. “Abrir um espaço cultural em nossa cidade era um sonho coletivo de anos, de mentes, corações, muitas mãos”, afirma Daniel Valença, vereador em Natal e um dos coordenadores do espaço.
Na inauguração da Casa Socialista, no início de julho, Natália Bonavides, deputada federal, advogada e pré-candidata à Prefeitura de Natal, esteve presente e falou sobre a importância do novo espaço cultural. “Todo mundo precisa de um espaço para existir. A Casa Socialista resulta das ideias mais bonitas que as mentes humanas são capazes de produzir: a luta por igualdade, liberdade e justiça”.
(*) Adriana Miranda é jornalista.
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Casa Socialista é inaugurada na Vila de Ponta Negra
A Casa Socialista, o mais jovem espaço cultural da AE, foi inaugurada no dia 6 de julho deste ano em Natal, capital potiguar. A escolha da Vila de Ponta Negra para sua instalação não aconteceu por acaso. O coletivo concentrou as atividades na Zona Sul da cidade devido à história da comunidade, ligada à pesca, à agricultura e com grande concentração de rendeiras. A cultura Hip-Hop também é um forte do bairro.
O território, inicialmente ocupado por pescadores, rendeiras e agricultores, já foi praticamente autossuficiente no quesito alimentação, mas com o desenvolvimento urbano, a cultura do veraneio introduzida pelos americanos, a exploração e especulação imobiliária na região, resultou em mudanças significativas para os moradores, em especial na impossibilidade de produzir diretamente seu alimento e no aumento do custo de vida.
“Para o povo trabalhador, que não esmorece diante das dificuldades, é que Casa Socialista nasceu”, diz o vereador Daniel Valença. O espaço estreou na capital do Rio Grande do Norte em grande estilo, com forró e curso de formação política: Desafios da Esquerda em Natal 2024.
No primeiro final de semana da Casa Socialista, Valter Pomar, dirigente da AE e do PT e professor do curso de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), e a dirigente sindical do conselho de Administração PrevRio e professora aposentada da rede municipal do Rio de Janeiro e Duque de Caxias, Isabel Costa, estiveram entre os palestrantes.
Izabel e o vereador Daniel Valença falaram sobre os ensinamentos do governo Djalma Maranhão para a Natal de 2024. Pomar se dedicou ao tema Modo Petista de Governar ontem, hoje e amanhã.
No domingo (7/7), foi a vez da professora Dulce Bentes, do departamento de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande o Norte (UFRN), palestrar sobre Questões Ambientais, Políticas e Habitacional no Contexto de Natal e Região.
O espaço não é limitado aos moradores de Ponta Negra e o objetivo dos organizadores é expandir as atividades também para outras áreas da cidade.
COMO PARTICIPAR
CASA SOCIALISTA
Endereço: rua Poeta Jorge Fernandes, 112, Ponta Negra, Natal (RN).
Cursos, debates, sebo e palestras podem ser conferidos nas redes sociais do espaço cultural.
Capacidade: até 80 pessoas.
Instagram: @casasocilista.rn
https://www.instagram.com/casasocialista.rn/
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CCEV nasceu da resistência ao golpe contra a presidenta Dilma há oito anos
No Centro Cultural Esperança Vermelha, a educação popular é uma poderosa ferramenta de fortalecimento do conhecimento crítico, universal e da consciência de classe. As atividades desenvolvidas promovem a articulação e construção de uma rede de entidades e organizações que fortaleça o campo popular.
O espaço cultural oferece atividades culturais, gastronômicas, festas, lançamentos de livros, saraus, debates, sebo e brechó, além de aulas de capoeira e rodas de conversas e cursos de formação, tais como: História da África; História do Oriente Médio Contemporâneo; Como Funciona a Sociedade; Estudos Críticos sobre o Conservadorismo Brasileiro; Pensamento Negro Contemporâneo e A História do Hip-Hop.
É possível ter acesso gratuito à integra de todos os cursos pelo site do CCEV. Segundo Leandro Eliel, um dos coordenadores do espaço, os cursos presenciais são sempre gravados e depois disponibilizados on-line.
“A procura se estende, inclusive, a universitários de instituições de ensino superior de Campinas que não contemplam em suas grades a história da África”, diz. Professoras das redes estadual e municipal também buscam os cursos. Brechó, sebo, almoços e festas integram a programação do espaço.
COMO PARTICIPAR
CENTRO CULTURAL ESPERANÇA VERMELHA
Endereço: rua Isolethe Augusta de Souza Aranha, 159, Centro, Campinas (SP).
Capacidade: até 45 pessoas.
Site: https://ccev.org.br/
No site, além de acessar os cursos, os interessados podem fazer colaborações para o CCEV e doações ao centro cultural de livros e roupas, por exemplo. Oferece capoeira.
Redes sociais:
https://www.youtube.com/@ccev-centroculturalesperan9111
https://www.instagram.com/ccev.centrocultural/
https://www.facebook.com/centroculturalesperancavermelha
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Espaço Pagu tem 22 anos e promove Festa Cubana e Boteco Feminista
O Espaço Pagu, em Diadema, se prepara para um período movimentado. Com 22 anos em funcionamento e atividades consolidadas, o espaço tem programado dois eventos imperdíveis entre o final de julho e o início de agosto.
No dia 27 de julho, acontece a tradicional Festa Cubana, a partir das 18h. Segundo Jandyra Uehara, a festa tem mais de 15 anos. A dica é chegar cedo. A procura é grande e a festa já é tradição para a esquerda da região do ABC.
No início de agosto, dia 2, ocorre o Boteco Feminista. A entrada também é gratuita. Em ambos os eventos, os participantes só pagam o que consomem. O arrecadado com as atividades ajuda a manter o espaço cultural.
O objetivo do Espaço Pagu com as atividades que promove é ampliar o debate político e cultural tanto de temas de conjuntura quanto das tentativas históricas de construção do socialismo.
Anote:
Festa Cubana: 27 de julho, sábado, a partir das 18h. Entrada gratuita.
Boteco Feminista*: 2 de agosto, sexta-feira, a partir das 18h. Entrada gratuita.
COMO PARTICIPAR
ESPAÇO CULTURAL PATRÍCIA GALVÃO (PAGU)
Endereço: rua Francisco de Assis, 224, Centro, Diadema (SP).
Capacidade: até 80 pessoas.
Facebook: Espaço Pagu
https://www.facebook.com/pages/Espaço-Pagu/488379797993919
* O Boteco Feminista é realizado em todas as primeiras sextas-feiras de cada mês.