Rogério Carvalho e a amizade com Israel

Por Valter Pomar (*)

Israel está cometendo um genocídio contra o povo palestino.

Mas os apoiadores de Israel fingem que não está acontecendo nada de extraordinário.

Um exemplo disso foi à aprovação, pelo Senado, de um Projeto de Lei estabelecendo o dia 12 de abril como Dia da Amizade Brasil-Israel.

Esse projeto começou torto: sua versão original propunha  que a “amizade” Brasil e Israel fosse comemorada no dia 29 de novembro, “por acaso” o dia que a ONU estabeleceu como Dia Internacional de solidariedade à Palestina.

Por conta disto o PL foi vetado, em 2013, pela então presidenta Dilma Rousseff. No mesmo ano começou a tramitar um novo projeto, que foi aprovado em 2019 pela Câmara e agora pelo Senado.

Como deveria ser óbvio, aprovar este projeto no mesmo momento em que está em curso um genocídio ajuda quem tenta desviar a atenção.

Assim, não surpreende que a direita e a extrema-direita tenham votado a favor deste PL.

O surpreendente é que a bancada do PT também votou a favor.

A bancada do PT no Senado é composta por Augusta Brito (CE), Beto Faro (PA), Fabiano Contarato (ES), Humberto Costa (PE), Jaques Wagner (BA),  Paulo Paim (RS), Randolfe Rodrigues (AP), Rogério Carvalho (SE) e Teresa Leitão (PE).

Mas o voto a favor foi simbólico, ou seja, foi apenas o líder Rogério Carvalho que votou.

Em entrevista ao Opera Mundi, Rogério Carvalho disse que “a diplomacia é feita também de gestos simbólicos — e que isso não contraria, em hipótese alguma, a nossa defesa intransigente de um Estado palestino soberano e de uma solução justa e negociada para o conflito no Oriente Médio”.

A pergunta é: qual o símbolo que resulta desta aprovação, no exato momento em que o Brasil deveria endurecer a relação com um Estado terrorista?

Rogério afirma que a “homenagem não é um endosso ao sionismo bélico, mas um gesto diplomático de continuidade institucional (…) entre Israel e o Brasil, não entre o atual governo de Israel e o atual governo do Brasil”

Digamos que isso fosse verdade, que o genocídio fosse uma política de governo e não uma política de Estado. Ainda assim, por qual motivo aprovar essa homenagem nesse exato momento?

A resposta está implícita na seguinte passagem da entrevista de Rogério ao Ópera Mundi: “Ser contra o genocídio em Gaza não nos obriga a romper laços históricos com o povo israelense.”

Ou seja: em nome dos “laços históricos”, o governo brasileiro – mesmo diante de um genocídio – não deveria romper relações diplomáticas com Israel.

O que o senador Rogério não quer entender é que a situação mudou e para pior. Portanto não é aceitável, especialmente na conjuntura atual, adotar um “marco simbólico construído há mais de uma década, em um contexto de relações bilaterais estáveis”. Nem basta a “crítica do presidente Lula ao genocídio”. Tampouco é suficiente reafirmar “nosso compromisso com uma diplomacia que respeita a soberania dos povos, inclusive do povo palestino”.

É preciso ir além, no sentido da ruptura das relações. Votar a favor da amizade, nesse contexto, a mim soa como um escárnio.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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