Saiu a edição de março do Jornal Página 13, de número 251 ( aqui ). A edição é dedicada especialmente ao 8 de março e à luta das mulheres, mas traz também textos com balanço sobre o MEC, o ministério da Defesa e a tutela militar, as perspectivas e desafios do movimentos sindical, o nordeste e o congresso da Central de Movimentos Populares. Abaixo, é possível conferir o editorial na íntegra.
BOA LEITURA!
Editorial
Anistia para golpistas, não!
Começamos este editorial resumindo o conteúdo desta edição do jornal Página 13, edição que circula no mês de março de 2023. Antes de mais nada, três artigos dedicados especificamente à luta das mulheres, um deles assinada pela atual ministra das Mulheres, os outros dois assinados por companheiras que foram ministras da mesma pasta no governo Dilma. Trazemos também dois textos dedicados a criticar a política implementada em dois ministérios: o da Educação e o da Defesa. Três textos abordam as organizações da classe, um deles sobre a CUT, outro sobre o Andes e um terceiro sobre a Central dos Movimentos Populares. Finalmente, temos um artigo sobre a situação político-eleitoral no nordeste brasileiro. Isto posto, gostaríamos de tratar neste editorial de três temas que não são objeto de nenhum dos artigos.
O primeiro deles é a situação econômico-social do país. A vida do povo está dura, especialmente a vida da parcela mais pobre do povo brasileiro. E, como sabemos, um dos motivos que levaram a maioria do povo pobre a votar em nós foi a expectativa de melhorar a vida. A vida melhorou? Sem dúvida que o simples fato de tirar o bode da sala já melhora a vida. E o fato de ter fracassado o assalto tentado no dia 8 de janeiro também contribui para causar um certo alívio. Sem falar, é claro, do carnaval. Mas esta sensação subjetiva de melhora, sensação causada pela saída do bode, pela prisão de parte dos criminosos do dia 8 e, também, pelo carnaval, não é suficiente para dar conta dos desafios que temos pela frente. Vamos lembrar: ganhamos a eleição com apenas 2 milhões de votos de vantagem. E boa parte dos que votaram no cavernícola não deseja nosso sucesso. Pelo contrário. Por isto, temos pressa em melhorar a vida do povo. Muita pressa. E para melhorar a vida do povo, rapidamente, substancialmente, é preciso mudar a situação econômica. O país precisa voltar a crescer, gerar empregos, com salários altos, arrecadação suficiente para garantir políticas públicas amplas e fortes. Mais do que isso: o país precisa de desenvolvimento. E de um desenvolvimento diferente, daquele tipo que não compactua com trabalho escravo, nem fomenta tragédias como as ocorridas, por exemplo, no litoral paulista. E deste ponto de vista, as coisas não estão indo bem e, se nada for feito, podem piorar bastante nos próximos meses. E se isso acontecer, a conjuntura política pode se virar contra nós. Afetando 2024. Em resumo: precisamos de um plano de transformação acelerado na economia, que cuide do médio prazo (e nisso reindustrialização é a palavra central) e que cuide do curto prazo (e nisso os temais centrais são investimento, geração de empregos com salários maiores, combinada com oferta de produtos mais barata, especialmente de alimentos). E nesses terrenos, tanto no que diz respeito a medidas de curto quanto de médio prazo, ainda estamos na defensiva. Para comprovar isto, basta ver o debate sobre o BC e sobre o aumento dos preços da gasolina. O fato de estarmos na defensiva neste terreno da economia é péssimo por três motivos. Primeiro, porque sobrecarrega o Lula, que é chamado a compensar com sua influência pessoal a ausência de resultados concretos. Segundo, porque aumenta o espaço para os aliados e não aliados da direita neoliberal (STF e governo Biden incluídos) fazerem sua chantagem.
Isso nos remete para o segundo tema: o voto do Brasil na ONU. Nossa diplomacia votou numa resolução que pode ser resumida assim: a Rússia é a vilã da história. E nada se diz, na resolução aprovada, acerca do papel dos EUA, da OTAN, do partido da guerra que comanda vários governos europeus (inclusive alguns que se dizem ou são considerados de esquerda), sem falar no governo de Zelenski e de seus neofascistas. O Brasil votou de um jeito, China, Índia e África do Sul votaram de outro jeito: se abstiveram. O Brasil escolheu ficar do lado dos EUA. A pergunta é: este voto ajuda ou atrapalha o propósito, anunciado pelo Lula, de o Brasil cumprir um papel destacado na negociação da paz? A paz exige negociação. E negociação não rima com o texto da resolução aprovada. Enfim, foi importante ter negado munições para a Alemanha, mais foi um erro votar nessa resolução, que foi para agradar inglês.
E por falar em inglês, vamos para o terceiro tema: Quaquá. Primeiro ele tirou foto com Pazuello. Depois ficamos sabendo que o Camarote Favela rendeu um lucro de 1 milhão. E mais recentemente ele divulgou um videozinho onde ele propõe que o Brasil seja a potência do mundo, “vendendo para todo mundo estas belezas que nós temos e a alegria do povo brasileiro”. São tantas coisas descabeladas, que há quem diga que Quaquá lembra aquele cidadão que está num buraco e não consegue parar de cavar. Discordamos desta ideia, pois ela passa a impressão que Quaquá estaria se dando mal. Não está não. Quem se dá mal é o PT, em ter como prócer uma figura deste naipe. Na verdade, se quisermos adotar a imagem citada antes, deveríamos dizer: ele não para de cavar… o nosso túmulo, o túmulo do partido. Por isso apoiamos a iniciativa de uma comissão de ética para Quaquá. Quem realmente acredita que “há limite para tudo”, precisa perceber que este limite já foi ultrapassado várias vezes. A não ser, é claro, que se queira esperar o lucro de Quaquá atingir o faturamento que Antonio Palocci atingiu, antes de ficar demonstrado sem sombra de dúvida que ele – estamos falando do Palocci – gostava mais do dinheiro do que do partido.
Para concluir, reiteramos, na contramão do nosso marreco: Anistia para golpistas, não!
Valter Pomar