São José, cidade de direita?

Por Thaís Ribeira de Paula (*)

Um jargão muito comum entre pessoas de esquerda da cidade de São José dos Campos é o de que “estamos em uma cidade de direita”, como se isso fosse algo intrínseco e imutável.

Entre filiados ao Partido dos Trabalhadores, a naturalização do joseense como um povo inexoravelmente “de direita” tem “sustentado” inúmeras argumentações, das mais singelas às mais elaboradas, contribuindo com a inação e a apatia do partido na cidade.

Afinal, se a parte que nos cabe deste latifúndio é algo em torno de 25% dos votos, então demo-nos por satisfeitos e contemos com essa votação que, independentemente de qualquer coisa que façamos ou não, chegará de bandeja até o nosso partido. Querer qualquer coisa além disso seria travar uma batalha quixotesca contra um destino fatal, o que não compensaria o gasto de energia.

Assumindo que há algum tempo as discussões políticas em nossas fileiras se resumem quase que exclusivamente a discussões eleitorais, um breve exercício de análise dos resultados das eleições desde 1989 pode ser um primeiro passo para que outras conclusões sejam possíveis sobre a orientação política do povo em São José.

No segundo turno da primeira eleição presidencial após a redemocratização, quando Collor venceu na esmagadora maioria dos municípios brasileiros, lá estava São José dos Campos, se apresentando como uma das ilhas vermelhas do estado de São Paulo.
Figura 1: Resultado do 2º Turno das eleições de 1989, com destaque para São José dos Campos. Fonte: https://geografiadovoto.com/ 

Naquele momento, Lula teve no município 51,96% dos votos válidos, enquanto Collor teve 48,04%, o que levou o Partido dos Trabalhadores a conquistar uma vitória local que se viu em poucos outros lugares do Brasil.

Três anos mais tarde, com 50,54% dos votos, Ângela Guadagnin, do PT, saiu vitoriosa nas eleições para a Prefeitura e governou a cidade por quatro anos.

Nas duas eleições presidenciais subsequentes, em 1994 e 1998, Lula ficou em segundo lugar no município, com 23,76% e 32,95% dos votos, respectivamente. Um resultado muito parecido com o obtido pelo PT na maioria das cidades do país.

Em 2002, na vitória nacional obtida por Lula, São José dos Campos contribuiu com 61,17% de seus votos válidos. Uma substantiva vitória petista na cidade, portanto.

De 2006 a 2022, sempre olhando para o segundo turno, os resultados das eleições presidenciais foram os seguintes:

2006 – Alckmin, 55,06% e Lula 44,94% (Brancos e nulos: 3,38%; e 15,09% de abstenções)

2010 – Serra, 57,15% e Dilma 42,85% (Brancos e nulos: 6,43%; e 18,09% de abstenções)

2014 – Aécio, 69,07% e Dilma 30,93% (Brancos e nulos: 5,1%; e 18,43% de abstenções)

2018 – Bolsonaro, 76,21% e Haddad 23,79% (Brancos e nulos: 10,13%; e 19,73% de abstenções)

2022 – Bolsonaro, 62,58% e Lula 37,42% (Brancos e nulos: 5,1%; e 19,38% de abstenções)

Sendo que em 2012, o PT saiu vitorioso do pleito municipal, com a candidatura de Carlinhos Almeida conquistando 50,99% dos votos, contra 43,15% do candidato tucano que ficou em segundo lugar.

Em resumo, de 1989 até hoje a esquerda e o PT na cidade de São José dos Campos contaram com o apoio e receberam um voto de confiança da maioria da população em pelo menos quatro pleitos (dois municipais e dois nacionais).

De um modo geral, se por um lado é verdade que as direitas têm sido majoritariamente vitoriosas até aqui, também é verdade que as votações que tivemos foram ora melhores, ora piores, dependendo de inúmeros fatores políticos que podem e devem ser extensamente analisados e debatidos.

Neste sentido, algumas questões que ficam postas para o PT em São José dos Campos são:

1. O que aconteceu com o predomínio que o PT tinha nas direções de importantes sindicatos na cidade e que provavelmente foi muito relevante para o resultado obtido em 1989?

2. O que levou à perda da influência que o PT tinha junto a amplos setores da Igreja Católica?

3. De que maneira os mandatos parlamentares e a sujeição do Partido à institucionalidade burguesa e ao poder econômico contribuíram para que o PT perdesse a influência que chegou a ter junto a amplos setores da classe trabalhadora joseense?

4. Quais as diferenças qualitativas entre as vitórias do final dos anos 80 / início dos 90 e as vitórias no início dos anos 2000 e início dos anos 2010?

5. Por que nas duas vezes em que fomos governo na cidade, não fomos capazes de recolocar o PT no executivo municipal na eleição subsequente?

6. Por que o PT de São José não tem sido capaz de fazer frente às diferentes direitas que se apresentam na cidade?

7. Em que medida os sucessivos rebaixamentos programáticos impedem que nos diferenciemos das demais forças políticas e, portanto, nos apresentemos como alternativa para a maioria da população?

8. Por que o PT de São José não tem sido capaz de se renovar e porque a democracia interna no Partido a nível local tem sido cada vez mais reduzida?

Responder a estas e outras perguntas sobre o que aconteceu com o PT na cidade será fundamental para, quem sabe, concluirmos que, antes de ser uma cidade intrinsecamente de direita, São José dos Campos é uma cidade em disputa.

E os resultados dessa disputa nos serão tão mais favoráveis quanto mais e melhor organizados estivermos, não somente para disputar as eleições, mas também, e especialmente, na disputa política e cultural junto à classe trabalhadora da cidade e na luta pela construção do socialismo.

(*) Thaís Ribeira de Paula é militante do PT em São José dos Campos

 

Uma resposta

  1. Acredito que tudo isso se deve as administração petista que não fora bem sucedida, com muitos erros em suas administrações, tanto quando Angela e Carlinhos foram muitos mal assessorados errando maís do que acertando em suas administrações.
    Infelizmente.

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