Por Renata Wirtzbiki (*)
Quando se fala em agricultura familiar, a importância do trabalho da mulher é, ainda, ignorada. As desigualdades e violências de gênero, que atingem as mulheres do campo, não diferem do campo de trabalho das mulheres das grandes cidades. Então entra em cena a prática da Agroecologia que, por meio de movimentos e organizações de mulheres, vem devolvendo ao feminino o seu lugar de protagonismo.
Mas, como assim, devolvendo? A mulher, em nosso sistema patriarcal, esteve alguma vez como protagonista na agricultura? A começar, podemos dizer que a Terra é o feminino. É da fertilidade da terra que brota a vida – o alimento que, antes de nascer, necessita ser semeado e cuidado, para, enfim, brotar, crescer e ser colhido.
Para que este alimento chegue saudável – livre de veneno e de trangênicos – às nossas mesas, é preciso que a Terra também esteja saudável. E sabemos hoje, mais do que nunca, que a Agroecologia é o caminho para a regeneração e preservação dos nossos solos, das águas, do ar e de todo o nosso planeta.
A Agroecologia é muito mais que um conjunto de práticas de manejo agrícola. É um modelo de transformação ecológico, sociocultural, econômico e político. Na atual conjuntura, são as mulheres que já entenderam que é preciso transformar as ultrapassadas práticas de manejo que lhes foram ensinadas, geração a geração, e acolher a Agroecologia como solução de preservação da vida.
É por meio da luta movimentos e organizações de mulheres – conscientes ou não de seu caráter feminista – que esta transformação, hoje, já é uma realidade. Por isso, dizemos: “Sem Feminismo não há Agroecologia”. A ancestralidade que pulsa em todas nós – mulheres, trabalhadoras do campo ou da cidade, produtoras ou consumidoras – é que vai salvar o planeta da destruição.
É bem verdade que temos um longo caminho pela frente, na luta contra o patriarcado que domina o agronegócio. Porém, lembremos das palavras da agrônoma Ana Primavesi (1920-2020), pioneira da Agroecologia no Brasil: “Agora eu sei que a Agroecologia não tem volta”.
(*) Renata Wirtzbiki é jornalista e integrante da Rede EcoCeará de Agroecologia