Por Iriny Lopes (*)
São criminosas as falas Bolsonaro e vários ministros, na reunião interministerial feita no dia 22 de abril, cujo sigilo foi levantado nesta sexta-feira (22) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, dentro do inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro fez interferências na Polícia Federal, para tentar barrar investigações sobre seus filhos e amigos. Ao mesmo tempo, parece peça publicitária do então candidato à Presidência da República e seus seguidores fascistas.
A primeira pergunta que surge é como chegamos a esse ponto, das instituições responsáveis por fazer cumprir, de cobrar o cumprimento da Constituição, leis, tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário (e, portanto, têm força legal) se omitirem por tantos anos e nada acontecer? Quem mesmo é que vigia os vigias?
Foram naturalizados discursos machistas, homofóbicos, racistas, ataques virtuais e presenciais a pessoas que discordavam do conteúdo fascista. Jean Wyllys, Débora Diniz, Márcia Tiburi. Quanta gente teve que sair do país diante das ameaças de morte de bolsonaristas/fascistas.
Tanto o Judiciário, como o Congresso naturalizaram ofensas inconcebíveis feitas contra a ex-presidenta Dilma Rousseff enquanto era chefe maior da nação, antes e em seu processo de impeachment, sob desculpa de “pedaladas fiscais”. Um falso crime para um golpe de fato. Naquele momento, o país iniciava, como Perséfone, um trajeto para as trevas. Lula condenado sem provas, apenas para que o capitão tivesse caminho livre para chegar à presidência.
Condenado de novo com uma sentença vergonhosa copiada pela juíza, que admitiu o plágio. Nada disso resultou em anulação das sentenças. E Bolsonaro, usando redes de whatsapp financiadas por empresários (outro crime na gaveta do TSE), chegou lá.
E cá estamos no mundo de Hades, assistindo um vídeo em que o ministro da Educação chama integrantes do STF de “vagabundos” e sugere que deveriam ser presos; o outro, do Meio Ambiente quer aproveitar o drama da pandemia, que nesta sexta-feira (22) bateu 21 mil mortes de brasileiros, para passar “a boiada” de portarias, decretos ilegais, para beneficiar madeireiros, garimpeiros, ruralistas, e a matança de indígenas, quilombolas, ribeirinhos. Não ouso nominar nenhum deles. São desqualificados e agem como bandoleiros. A ministra da Família, segue seu roteiro racista, criminoso e quer que governadores e prefeitos sejam presos, por aplicarem em seus territórios o isolamento social, indicado pela OMS e seguido por países do mundo todo.
Quanto ao chefe de todos, chama a atenção não a fala sobre a Polícia Federal, mas sua insistência de que tem seu próprio setor de inteligência, melhor do que Abin e PF. Seu sistema particular, ao que afirma, é paramilitar, miliciano. O que faz esse grupo: grampos ilegais e o que mais, à revelia da lei?
Em outro momento, sugere que seu decreto vai armar a população, não para se protegerem, como poderia inclusive argumentar, mas para atacar governadores e prefeitos que insistissem no isolamento social. E para coroar esse dia, o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, em razão do pedido enviado pelo ministro Celso de Mello para a avaliação da Procuradoria da República para que os celulares de Bolsonaro e seu filho Carlos fossem apreendidos para análise, ameaçou por nota o STF.
Enfim. Chegamos a esse ponto, em que a naturalização durante anos de atos criminosos por instituições que deveriam abrir processos, procedimentos para contê-los e buscar responsabilização nada fizeram. Será que agora vai?
(*) Iriny Lopes é deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores no Espírito Santo