Por Valter Pomar (*)
Tenho um amigo que diz não entender porque “gasto tempo” polemizando com os Tuítes Completos de Alberto Cantalice.
Os motivos são vários.
Um deles é que o grupo atualmente majoritário no DN deu ao Cantalice uma posição relevante, que ele aproveita como sabe, o que faz muita gente acreditar que as posições de Alberto são as posições do PT.
Outro motivo é que as posições de Cantalice, se vitoriosas, transformariam o PT numa variante do PPS.
O terceiro motivo é que ler certas coisas sem reagir provoca azia.
Exemplo: num de seus mais recentes Tuítes Completos, Cantalice falou sobre a “esquerda positiva” e sobre a “esquerda negativa”.
Vou copiar e colar: “A História Se Repete Nos idos de 1963 o então ministro da Fazenda de João Goulart, San Tiago Dantas cunhou o termo: Esquerda Positiva e Esquerda Negativa. A Esquerda Positiva é a que queria as Reformas De Base dentro dos marcos da legalidade democrática: disputar no Congresso Nacional a partir das mobilizações e negociações. A Esquerda Negativa, na visão de Dantas, era aquela que queria a reeleição de Jango (que não estava nas regras), a Reforma Agraria na lei ou na marra, como dizia Francisco Julião, Brizola e outros. O próprio Leonel Brizola disse posteriomente que faltou maturidade para algumas lideranças da esquerda na época. O líder comunista Luiz Carlos Prestes, disse na ocasião: “se a reação levantar a cabeça nós a cortaremos de imediato”. Pura ilusão. O governo, o CGT, a UNE, o PTB, o PCB e outros organizaram o Comício das Reformas, em 1964, na Central do Brasil no Rio de Janeiro, mobilizando 200 mil pessoas. A reação que teria a “cabeça cortada”, mobilizou centenas de milhares nas “marchas da família”. Ao final, quem teve decepada a liberdade foram as forças progressistas. Por 21 anos. Hoje, 2025 assistimos a história se repetir. Parafrasendo Hegel e Marx: a primeira vez, em 1964 como tragédia, e a segunda vez, em 2025 como farsa. O reformismo implantado nos governos petistas-mesmo de baixa intensidade- sofreram uma interrupção pelo golpismo iniciado em 2013 e que culminou em Temer/Bolsonaro. A retomada democrática-quase golpeada em 8 de Janeiro de 2023- vem ancorada em uma Frente Ampla e busca constituir uma Democracia Progressiva, que una e reconstrua as bases do reformismo e com isso isolar a extrema direita e melhorar a vida do povo. Essa estratégia vêm sendo severamente combatida por setores à esquerda: querendo a aplicação de um Programa Máximo em um ambiente de de franca minoria política e social. Pressionar o Congresso Nacional é legítimo e necessário. Desnecessário e querer delirantemente “queimar etapas”. Esse é o caminho da derrota. Apoiar o governo-apontanto certos equívocos-é diferente de confrontar o governo acusando-o de estar traindo o Programa. O que é uma mentira. Foi essa linha que derrotou a extrema direita. E é essa linha acrescida dos avanços na economia que continuará reconstruindo o país e reformando-o para melhor. Sigamos.”
Se Cantalice estivesse certo, a vitória do golpe de 64 teria sido resultado da ação irresponsável dos “esquerdistas” da época. Tese incorreta do ponto de vista histórico e que, ademais, abre caminho para uma conclusão criminosa do ponto de vista político. A saber: o que diz Cantalice joga água no moinho da tese segundo a qual o golpe teria sido dado em defesa da legalidade, que estaria supostamente sob ameaça da esquerda.
Entretanto, mais perigoso do que aquilo que Cantalice pensa sobre o passado, é o que Cantalice não pensa sobre o presente.
Não me refiro aqui a caricatura que ele faz acerca das ideias de quem pensa diferente dele.
Nem falo do copy e cola malfeito que ele faz das posições defendidas por setores do Partidão, em seus piores momentos.
Ao falar do que Cantalice não pensa, refiro-me ao fato dele não reconhecer algo óbvio, especialmente depois da “batalha do pix”: se insistirmos em continuar errando, de recuo em recuo, de concessão em concessão, ficará cada vez mais difícil “dar certo”.
E para que não se diga que só vejo o lado “negativo” dos Tuítes Completos, reconheço que Cantalice mandou bem ao lembrar positivamente das reformas de base. Nessa linha, ou recuperamos um norte estratégico, capaz de encantar nosso povo, ou seremos derrotados. E não vai adiantar nada por a culpa nas Cassandras. Nem nos inimigos.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT