Rodrigo Cesar
Entre maio e julho de 2018 serão realizados, em nível local, municipal, estadual e nacional, milhares de Congressos do Povo, reunindo toda e qualquer pessoa, membro de organização ou não, que esteja interessada em debater a situação do país, de seu estado, de seu município e de seu bairro, apontar as possíveis soluções para os problemas levantados e, principalmente, fazer algo a respeito: lutar e transformar a realidade.
Na edição de março do jornal Página 13 já apresentamos uma opinião política sobre os riscos e possibilidades do Congresso do Povo. Leia em https://pagina13.org.br/category/frente-brasil-popular/
Ao longo do mês de abril, serão realizados diversos seminários preparatórios com o objetivo de organizar o Congresso do Povo nos estados e em suas subregiões, sobretudo naqueles em que as dimensões territoriais e populacionais assim demandarem.
É de fundamental importância que os diretórios municipais e estaduais do PT, bem como os sindicatos cutistas e as CUTs estaduais participem dos seminários e se engajem na materialização de seus encaminhamentos.
Neste momento em que nossa prioridade é a defesa de Lula – lutando para garantir sua liberdade, sua candidatura presidencial, sua vitória nas urnas e sua posse – pode parecer mera perda de tempo construir qualquer outra iniciativa que não esteja diretamente vinculada com essa prioridade.
Entretanto, a presença dos petistas e cutistas na organização e realização do Congresso do Povo visa, justamente, vincular o diálogo com o povo e o trabalho de base com as lutas concretas e imediatas da conjuntura em defesa da democracia e dos direitos – inclusive o direito de Lula ser candidato – e contra a violência fascista que cresce no país.
Deixar de lado o Congresso do Povo servirá tão somente para dar espaço às pretensões de setores da esquerda em disputar os “espólios” do PT e do petismo. É preciso fazer o raciocínio inverso: a melhor maneira de frustrar estas pretensões é fortalecendo a presença do PT e da CUT na base, para o que o Congresso do Povo pode servir como importante ferramenta.
Afinal, o PT e a CUT são as organizações mais enraizadas da Frente Brasil Popular. A rede de diretórios municipais do PT e de sindicatos filiados à CUT está espalhada por quase todo o território brasileiro.
Neste sentido, não apenas o sucesso do Congresso do Povo depende do engajamento do PT e da CUT como, principalmente, o vínculo entre o trabalho de base e as lutas imediatas para defender Lula e derrotar o golpe só serão estabelecidos com a devida ênfase se os sindicatos cutistas e diretórios petistas estiverem comprometidos com esta construção.
São estas as organizações da FBP em melhores condições de alertar o povo de que qualquer perspectiva de melhoria em suas condições de vida dependem de derrotar o golpe, e que a derrota do golpe depende da candidatura e da vitória de Lula nas eleições, a única candidatura do campo popular, democrático e socialista capaz de derrotar as candidaturas golpistas, revogar as medidas de Temer, convocar uma Assembleia Nacional Constituinte e realizar mudanças estruturais em favor do povo.
Para isso, porém, é preciso que ambos (PT e CUT) em todos os níveis (municipal, estadual e nacional) estabeleçam diretrizes próprias de atuação para construir as jornadas de lutas da Frente Brasil Popular e os Congressos do Povo em todo o país, transformando a diversidade no interior do petismo e do cutismo em unidade de ação. Deste modo, cada um dos legítimos projetos políticos, sindicais e partidários que convivem no interior da FBP poderão se expressar e produzir as sínteses que uma Frente deve produzir.
Isto se faz necessário na medida em que, muitas vezes, o PT e a CUT participam dos fóruns da Frente Brasil Popular sem definirem previamente suas posições e propostas a serem apresentadas e, não raro, se veem na contingência de debater os encaminhamentos da FBP somente depois de sua definição, quando já é tarde demais para incidir sobre seus rumos e tentativas neste sentido geram grande desgaste com as demais organizações que compõem a Frente.
A formação da Frente Brasil Popular foi um grande acerto das forças populares, democráticas e socialistas. Para continuar cumprindo um papel positivo de construir lutas unitárias para derrotar o golpe, a militância petista e cutista tem papel indispensável. Sem seu engajamento, certas dimensões estratégicas de “longo prazo” que alguns setores querem atribuir à Frente Brasil Popular, legítimas ou não, tendem a assumir o primeiro plano na construção da FBP e relegar a segundo plano o objetivo central de derrotar o golpe aqui e agora. Sem derrotar o golpe, qualquer projeto estratégico de realizar mudanças estruturais democrático-populares articuladas com a superação do capitalismo e a construção do socialismo tende a virar mera elocubração político-programática.
Rodrigo Cesar é assessor da CUT e militante do PT