Por Wladimir Pomar (*)
Parecem brotar da boa vontade uma série de teses sobre a necessidade de manter “diálogos políticos” para resolver os problemas que afetam a vida dos brasileiros.
Por exemplo, até mesmo para alguns petistas, seria preciso convencer o governo de que, na área econômica, o Brasil deveria deixar de depender das commodities, que geram “crescimento”, mas não empregos, adotando uma política que fortaleça a economia, ao mesmo tempo gerando empregos e renda. Além disso, o governo deveria ser estimulado a adotar novas políticas relacionadas com o exterior, com a proteção ambiental e indígena, e com controle de armas.
Ou seja, segundo tais analistas, seria necessário superar a “banalização” da luta pelo impeachment de Bolsonaro, já que não haveria “provas suficientes” para uma ação de destituição do presidente”, embora ninguém possa negar a tragédia que atingiu o Brasil, de modo que o “diálogo político” siga adiante. Ou seja, não se deveria “banalizar o instrumento do impeachment” porque, no caso de Bolsonaro, ainda não existiria uma comprovação que permita condená-lo, e porque tal ameaça impede o “diálogo”.
Por incrível que pareça, tais teses emergem no momento crítico em que o Brasil está sendo empurrado pelo governo a adotar vários processos violentos de enfraquecimento de sua economia e em que fica evidente que, além do negacionismo governamental criminoso, tudo indica que ele também está envolvido em atos de corrupção e em ações que visam romper com qualquer processo democrático.
A desindustrialização afeta a capacidade brasileira de produção de riquezas, criação de postos de trabalho e distribuição de renda, ampliando o número de desempregados e dos que vivem abaixo da linha pobreza. Para piorar, o governo Bolsonaro teima em aplicar uma política neoliberal de privatização das empresas estatais, de imposição ao país do retorno à condição colonial de simples produtor de matérias primas agrícolas e minerais, e de financeirização de sua economia.
Num país sério, bastaria isso como “prova” para um processo de impeachment. Lembremos que, por muito menos, a presidente Dilma sofreu tal processo e teve seu mandato impedido. E que, para piorar, embora o Brasil tenha apenas 2,7% da população mundial, o número de mortes causadas pela pandemia do coronavírus é superior a 13% dos óbitos mundiais.
Essa tragédia também foi, em grande parte, causada pela política negacionista escrachada do governo Bolsonaro. Ele não só comparou publicamente a pandemia a uma “gripezinha”, como estimulou a utilização de medicamentos alternativos, não comprovados e ineficazes, e sabotou, o quanto pôde, a produção e a importação de vacinas.
Ou seja, mesmo desconsiderando a tese de vacinação de rebanho, o incentivo de Bolsonaro à propagação do vírus pandêmico tem sido evidente. Em outras palavras, o governo Bolsonaro tem aplicado uma política genocida contra o povo brasileiro, seja em termos econômicos e sociais, seja em termos de saúde púbica e enfrentamento da pandemia.
A rigor, tudo isso é publicamente evidente e demonstrável pelas aparições e declarações televisivas do próprio presidente, desde sua posse. A ação da comissão parlamentar de inquérito apenas está acrescentando, a fatos que já eram públicos, a vertente corruptora da atividade governamental.
Em tais condições, os que propagam a necessidade do “diálogo” e da “não banalização do instrumento do impeachment”, pela suposta inexistência de comprovação das ações criminosas do governo, talvez estejam vivendo em outro país. Ou na Lua.
(*) Wladimir Pomar é jornalista, escritor e militante petista