Por Amanda Oliveira (*)
O 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes, realizado em Brasília entre os dias 12 e 16 de julho, reuniu milhares estudantes brasileiros para debater os rumos do movimento estudantil no próximo período, a postura deste diante da nova conjuntura política do Brasil e do mundo, e em especial tratar da eleição da nova diretoria que dirigirá pelos proximos dois anos. Já sabemos o resultado, por 72% dos votos, o PCdoB segue na presidência da entidade. Por compreender o papel histórico da UNE, a Juventude da Articulação de Esquerda esteve presente nos principais debates do congresso e desempenhou a corajosa tarefa de apresentar um projeto petista, socialista, popular e democrático para a mocidade: nasce então a chapa “Sem Medo de Ser Feliz” em composição com outras organizações petistas de juventude como a Juventude da Militância Socialista (MS do PT), Movimento Popular de Juventude (Coletivo da CNB) e o Coletivo Fora da Ordem (Avante do PT).
Para além das moções e resoluções aprovadas, é preciso compreender o Congresso da UNE como um processo político de disputa ideológica da juventude, tendo inclusive a direita organizada (União da Juventude Liberal/MBL), presente mais uma vez nos processos internos da UNE, ao passo que a empreitada de retomar o protagonismo nas ruas depende de um profundo trabalho de base no sentido de reorganizar a rede do movimento estudantil por todo o Brasil. Apesar das glórias do passado, o diagnóstico atual da UNE aponta para algumas enfermidades: distanciamento do cotidiano dos estudantes, a inércia da institucionalidade, e principalmente, dificuldade para mobilizar as massas num calendário unificado de lutas. Ainda é importante frisar que estas questões não surgiram como consequência do governo neofascista do Bolsonaro e golpista de Michel Temer, mas que elas foram intensificadas pelas tentativas de criminalização do movimento social, pela pandemia e pela piora das condições materiais da classe trabalhadora.
Para a JAE, o CONUNE deveria, a partir de seus espaços de construção, possibilitar a redução e superação de tais sintomas com o objetivo de elevar o horizonte programático e as perspectivas de futuro da nossa geração. Contudo, a experiência, por diversas razões, nos direciona para a conclusão de que o maior Congresso estudantil da América Latina é mero rito de passagem para certas forças políticas, é bater ponto burocrático sem um norte definido de ações. É um jogo de apostas. Posto isto, o que esperar da UNE? Ela voltará a ser alternativa de organização para os estudantes? Ela voltará a ser referência de combatividade e identidade? São perguntas que não nos cabe responder aqui, mas é certo que elas nos impulsionam a continuar almejando a reconquista da entidade para a base e para o povo brasileiro.
No que diz respeito à JAE, saímos mais fortalecidos do que nunca, sabendo de nossa capacidade dirigente em fazer a política acontecer e jamais renegando os valores que são pilares fundamentais de nossa estratégia para alcançar uma UNE verdadeiramente radical em suas ações e popular em sua composição. Fora um movimento fundamental a construção da única chapa petista a se colocar como alternativa à maioria da direção e ao projeto raso da Oposição de Esquerda – que por sinal já é “Fora Lula!” -.
Ter organizado nossas plenárias internas de formação, criado conexões entre os estados que temos JAEs organizadas, fortalecido a identidade de juventude petista, discutido a política que realmente faz diferença na vida dos estudantes, foi certamente um grande ganho, apostar na auto construção sem perder a energia de construir os espaços importantes de mudança.
O sonho não morre aqui, ele depende exclusivamente de nossa coragem para vencer e lutar para enfrentar o que for preciso. O CONUNE não é um ponto final para a juventude que luta sem medo de ser feliz.
(*) Amanda Oliveira é diretora da UNE, Secretária de Formação da JPT RJ e integrante da Coordenação Nacional da Juventude da Articulação de Esquerda (CNJAE)