Por Alexandre Eduardo (*)
Um dos assuntos mais comentados na imprensa brasileira, há muitos dias, tem sido as eleições na Venezuela. Em uma linha editorial que segue o seguinte dogma: se Maduro vencer, houve fraude; se a oposição ganhar, o processo foi legítimo. É o que a direita venezuelana tem afirmado, mesmo sem provas, faz muitas eleições, com o objetivo de enfraquecer o governo e fortalecer o cerco internacional.
Até então, surpresa alguma, já que o ódio e as acusações falsas contra a revolução bolivariana têm sido a regra desde a primeira eleição de Chávez. Surpreendente, porém, é entrar no site da Empresa Brasileira de Comunicação, uma empresa pública federal, e encontrar referendada a linha editorial citada acima. São inúmeras notícias reforçando a narrativa da oposição venezuelana, questionando a lisura do processo e insinuando fraude.
Grande parte das postagens são matérias copiadas de agência europeias, como a Reuters ou a RTP. Outras, chamam ainda mais atenção, pois são produzidas pela própria EBC. Uma delas, intitulada “Venezuelanos em Brasília manifestam desejo de mudança com eleições”, é um show de propaganda. Afirmam que não conseguiram contato com a embaixada, mas aproveitam para entrevistar três venezuelanos da oposição, dando destaque a um jornalista que “percorreu mil km de distância” apenas para votar.
Um jornalista que declara não haver fraude na urna ou no sistema, mas que ela existe em razão do impedimento de inscrições para votar e da obrigação de funcionários públicos em tirar foto e comprovar que votaram em Maduro. Que tipo de meio de comunicação publica uma declaração dessas? Nem mesmo uma nota de rodapé para desmentir? Um contraponto?
É plausível imaginar a EBC dando voz para os golpistas do 8 de janeiro, repercutindo mensagens sobre “fraude no TSE”? A EBC pretende apontar que a inelegibilidade de Bolsonaro fere a democracia? Porque, no fim das contas, é o mesmo discurso sobre as eleições que os bolsonaristas fazem: apesar de genéricas e carentes de provas, auxiliam a forçar uma imagem de se a direita perde, é fraude. Se ganha, é justo.
E essa matéria é apenas uma das tantas, produzidas ou reproduzidas, que mesmo quando trazem alguma informação “imparcial” no texto, possuem títulos como “Inflação na Venezuela desacelera; eleitores não conseguem pagar as contas”, “Ex-presidentes latino-americanos são impedidos de entrar na Venezuela” ou “Entenda como funciona e quais as críticas à eleição na Venezuela”.
Tudo isso me levou a checar o “Quem é quem” da EBC, na busca pelo responsável do setor de notícias internacionais. Não encontrei. Mas, por coincidência, buscando pelo “internacional”, localizei um nome familiar como sendo “Gerente Executivo do Canal Internacional”. Trata-se de Vancarlos de Oliveira Alves, que ocupou diferentes cargos na EBC durante o governo Bolsonaro.
Um senhor que, em seu currículo, leva o título de especialista em “Altos Estudos em Segurança, Desenvolvimento e Defesa”, resultado de um curso oferecido pela Escola Superior de Defesa, vinculada ao Ministério da Defesa. Curso que só aceita discentes a partir de indicações de empresas públicas ou privadas, além de indicações militares.
Ou seja, hoje, no governo Lula, nós mantemos com ótima remuneração, em cargo comissionado, um sujeito que não apenas cresceu na EBC sob Bolsonaro, mas que foi indicado pela EBC, sob governo cavernícola, para realizar um curso na ESD?
Ou seja, o governo federal está permitindo que a EBC siga uma linha editorial alinhada com a imprensa golpista? Não só no caso das eleições venezuelanas, que citamos antes, mas também nas referências ao genocídio palestino como “guerra”.
Quantas matérias nesta linha ainda iremos aceitar? Quantos cargos em comissão entragaremos para aqueles que, passiva ou ativamente, colaboraram com o governo anterior? A seguir nesta toada, melhor seria rebatizar a EBC, imaginem vocês como.
(*) Alexandre Eduardo é militante petista
Respostas de 2
Ótimo texto e importante revelação, Alexandre Eduardo! Inacreditável que um setor tão importante como a EBC esteja nas mãos de alguém (Vancarlos de Oliveira Alves) com essa reputação ideológica e currículo com selo de prática golpista recente. Bem, Lula e Amorim também têm dito disparates no tema Venezuela…
Eu gostaria muito de entender oque apor traz desses cargos comissionados, se fazer uma pesquisa passar um pente fino neles,iremos encontrar terríveis inimigos da esquerda que continuam lá engordando ideias macabras pra usar nos momentos de confrontos da esquerda com a direita, este ano por exemplo vamos ver centenas deles Tentando esfarelar a esquerda e tranquilos pois continuam a receber seus bons salários pagos pela própria esquerda, por exemplo Rodrigo Rolemberg ex governador do Distrito Federal, ele é cargo comissionado no senado, está lá a muito tempo só tramando se fugindo de esquerda, apoio o golpe contra a candidatura do Xperia po lá de Minas Gerais,depois apoiou o golpe contra a Presidenta Dilma, andou de braço dado com temer, apoiou bostonaro ficou calado na tentativa de golpe de 08 de janeiro, e a única advertência que ele teve foi nas urnas quando saiu candidato a deputado federal nas últimas eleições e não se explicou, mas voltou pro senado para ocupar sua vaga de cargo comissionado. Gostaria muito de entender essa lógica.