Por Antônio Augusto (*)
Publicado originalmente no Opera Mundi
Em 11 de setembro de 1973, derrubavam Allende e destruíam a democracia no Chile. Foi há exatos 47 anos.
É indispensável relembrar, com pleno apoio da ditadura militar brasileira, durante o governo do ditador de plantão, o assassino general Garrastazu Médici.
A colaboração da embaixada brasileira em Santiago foi tão intensa no golpe que a polícia política brasileira, a central terrorista conhecida como DOI-Codi, atuou em interrogatórios, torturas e assassinatos de brasileiros feitos prisioneiros no Estádio Nacional, transformado em imediato campo de concentração com milhares de presos.
Paulo Guedes promove no Brasil o que o general Pinochet fez na economia chilena
Outro episódio oportuno a relembrar: o futuro banqueiro Paulo Guedes, dono do especulativo Banco Pactual, quando economista em início de sua malfadada carreira, foi, no início dos anos 80, assessor de terceiro escalão, do governo Pinochet. No ministério da Economia em que atuou, levou-se adiante a liquidação de todos os direitos trabalhistas, o fim da previdência social chilena, entre outros crimes inomináveis.
Era a experiência pioneira da aplicação prática do delírio monetarista do patológico economista norte-americano ultra-monetarista Milton Friedman, mentor dos “Chicago Boys” – Paulo Guedes é mais um “Chicago Boy”, economista formado lá, a mais ultra-direitista das escolas de economia do mundo.
Friedman, o cara da economia para Pinochet, pôs em prática seu experimento genocida, só possível graças a uma ditadura sanguinária: liquidaram os sindicatos, assassinaram sindicalistas e trabalhadores, fizeram vigorar o arrocho total dos salários, incrementaram a níveis inauditos o desemprego, tudo a serviço do saque imperialista da economia chilena.
Transformaram o Chile, país de melhor distribuição de renda da América do Sul, num dos piores em concentração da riqueza, só superado pelo Brasil, imbatível neste quesito.
Isso que Paulo Guedes está levando adiante no Brasil, no governo Bolsonaro, “privatizando a porra do Banco do Brasil”, como ele diz, e transferindo para o Banco Pactual toda a carteira de crédito do Banco do Brasil.
Gladys Marín, lutadora do povo chileno
Uma das lutadoras imortais da Amárica Latina, a chilena Gladys Marín, deputada comunista durante o exemplar governo democrático da Unidade Popular (1970-1973), presidido por este lutador exemplar da liberdade dos povos, nosso irmão latino-americano Salvador Allende (1908-1973).
Gladys Marín (1938-2005) foi deputada comunista durante três mandatos – o último interrompido pelo golpe militar -, de 1965 a 1973. De origem popular, muito pobre, tornou-se normalista com muito esforço, e vinculou-se muito jovem ao PC do Chile.
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Gladys Marín em um congresso de 1972 da Juventude Comunista
Militante sempre em destaque por sua clareza política, dedicação à luta dos trabalhadores, pelo seu empenho patriótico, e internacionalista de solidariedade aos povos do mundo – de que foi exemplo sua participação na emocionante campanha de solidariedade ao Vietnã, agredido na guerra promovida pelo imperialismo americano, campanha levada a cabo de norte a sul em todo o Chile.
Gladys era, então, a principal dirigente da combativa Juventude Comunista (a popular “Jota”), organização que teve papel importantíssimo na campanha presidencial da Unidade Popular, inclusive pintando murais nas cidades do país inteiro.
Ela foi secretária-geral do PC chileno a partir de 1994. E só não se elegeu senadora, em 1997, devido principalmente ao discriminatório, restritivo, antidemocrático “sistema binomial”, herança da ditadura militar de Pinochet.
O marido de Gladys, o engenheiro Jorge Muñoz, integrante da Comissão Política do PC chileno, é um dos muitos desaparecidos políticos da sangrenta ditadura de Pinochet. Seu desaparecimento ocorreu em 1976. O PC chileno teve quatro direções nacionais dizimadas durante a ditadura de Pinochet.
Gladys Marín denunciou a cumplicidade dos governos da Concertação (coligação em que os partidos principais eram a Democracia Cristã – golpista em 1973 – e o Partido Socialista, que não era, na ocasião, nem mais sombra do Partido Socialista, de Allende) pelo que ocorria no Chile, em discurso em 11 de setembro de 1996:
“El responsable principal del terrorismo de Estado, de los crímenes contra la humanidad, Pinochet, sigue haciendo política y dando órdenes. Y eso lo hace porque el Gobierno se lo permite“.
Por isso, voltou a ser presa política, em pleno governo da Concertação, com base na fascista, pinochetista “Lei de Segurança do Estado”, o que só confirmou sua denúncia.
É impossível destruir o socialismo, base da luta pela Justiça Social, da transformação em marcha durante o governo do presidente Salvador Allende. Como é impossível destruir os comunistas porque ancorados no anseio de justiça dos homens.
De que adiantou a ditadura militar ter dizimado quatro direções dos comunistas chilenos? Hoje o candidato à frente das pesquisas numa próxima eleição presidencial no Chile é justamente um jovem prefeito comunista.
Jamais conseguirão extinguir a luta democrática e popular
A luta democrática é indestrutível porque os povos são indestrutíveis, e as mais atrozes ditaduras, o abominável fascismo será inapelavelmente jogado na lata de lixo da História, como o foram Hitler, Mussolini, Pinochet, os Garrastazus Médicis, e também o será Bolsonaro.
Na foto, homenagem feita hoje, 11 de setembro, a Gladys Marín, pelos comunistas dos Estados Unidos, em luta, junto com o povo deste país, contra a reeleição do fascista Trump. Ela passou pelos Estados Unidos, como em diversos outros países, quando exilada, denunciando os crimes de Pinochet.
Com Salvador Allende, sempre!
E, como também gostam de dizer os comunistas chilenos:
“Com Gladys, mil vezes venceremos!“.
(*) Antônio Augusto é jornalista.