Página 13 publica um artigo de opinião sobre a estreia eleitoral do partido Unidade Popular.
Por Isis Mustafa (*)
A profunda crise econômica que atravessamos no país escancara a desigualdade produzida pelo sistema capitalista e alarga a exploração contra quem trabalha: são 13,7 milhões de brasileiros na pobreza extrema e 41 milhões de desempregados. Os inúmeros ataques aos direitos do povo são promovidos todos os dias pelo governo do fascista Bolsonaro, exigindo da esquerda urgência na organização da resistência popular.
Há menos de um ano, em dezembro de 2019, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) conquistou o registro eleitoral junto ao Tribunal Superior Eleitoral e escolheu o número 80 para representar seu programa nas eleições, tornando-se o 33º partido legal. Foram mais de 1 milhão e 200 mil assinaturas de apoio à legalização do partido em todo país, conquistadas através de tribunas populares instauradas nos centros comerciais, vagões de trens e bairros pobres, sem um único centavo dos banqueiros e empresários.
Entre os anos de 2016 e 2018, os militantes ocuparam as ruas denunciando as péssimas condições de vida da classe trabalhadora, o golpe instituído contra os direitos dos trabalhadores e as mentiras do então candidato à presidência, ex-capitão Jair Bolsonaro. De fato, o fascista não conseguiu a façanha da militância da UP, pois foi derrotado em sua tentativa de registrar o partido de extrema-direita, Aliança pelo Brasil. A construção da Unidade Popular é prova de que o programa socialista e o poder popular têm, sim, adesão junto às camadas populares e está mais atual do que nunca.
A UP e as eleições de 2020
Nas eleições de 2020, a UP estreou na disputa apresentando candidaturas à prefeitura em 15 municípios de 10 Estados, além de compor chapas como vice em 18 cidades. Em capitais como Maceió (AL) e Goiânia (GO), com candidaturas próprias. Já em Belo Horizonte (MG), o Presidente Nacional e liderança do movimento de moradia (MLB), Leonardo Péricles, compôs chapa como vice-prefeito ao lado da deputada federal Áurea Carolina do PSol.
Em diversos municípios, a UP teve 99 candidaturas às câmaras de vereadores. Foram candidaturas populares, formadas por lideranças do movimento de mulheres, luta por moradia, estudantes e trabalhadores de diversas categorias – camelôs, servidores da saúde e professores. Além disso, 70% das candidaturas eram de negras e negros e 45% de mulheres, reafirmando que cabe à parcela mais explorada pelo sistema protagonizar a luta política.
A UP enfrentou a injustiça do sistema eleitoral, um processo em que as regras do jogo são definidas pelos próprios partidos burgueses e, por isso, as candidaturas não tiveram acesso
ao tempo de propaganda gratuita na TV e rádio e não participaram dos debates nos grandes veículos de comunicação. Sem fundo partidário, a UP contou com apenas 0,6% do fundo eleitoral. O PSL, partido que elegeu Bolsonaro à presidência e outros inimigos do povo trabalhador nas eleições de 2018, além de ter recebido 65 milhões do fundo partidário esse ano, contou com a fortuna de 199,4 milhões de reais do fundo eleitoral para as eleições municipais.
Mesmo assim, custeando as campanhas com financiamento coletivo, as candidaturas da UP ocuparam as praças e ruas com seus megafones. Foi uma campanha construída pela denúncia das injustiças: o aumento do preço dos alimentos, a violência policial, o racismo e a situação da vida das mulheres. A militância decidiu adentrar os becos e vielas, batendo de porta em porta, chamando o povo pobre dos bairros populares à luta.
Fortalecer a batalha contra as candidaturas do fascismo
Em várias cidades, a presença da UP fortaleceu a batalha contra o fascismo e a derrota eleitoral dos candidatos que representavam a velha política. Em Mauá, no ABC paulista, o clima esquentou contra o atual prefeito Átila Jacomussi, do PSB. Preso duas vezes, o prefeito é alvo de investigação por corrupção ao lado de 22 dos 23 vereadores na cidade. Diante dessa crise política, o povo mauaense se viu abandonado, sem moradia, sem transporte e sem água.
A UP entrou nessa batalha apresentando chapa para a prefeitura e para a Câmara de Mauá. As duas candidaturas de mulheres da Unidade Popular foram as mais votadas na cidade: Amanda Bispo, candidata a prefeita, conseguiu o apoio de quase 4 mil mauaenses, além das 1.583 pessoas que depositaram sua confiança em Gabriela Torres para vereadora. Ambas são coordenadoras da Casa de Referência para a Mulher Helenira Preta, ocupação que atua há 3 anos na luta pela vida das mulheres. Foi uma campanha marcada pela mobilização popular, apresentando a organização e a luta pelo socialismo como única saída para a grave situação de vida do povo.
O segundo turno teve como resultado a eleição de Marcelo Oliveira do PT com 50,74% dos votos, apoiado pela Unidade Popular, contra 49,26% de Átila Jacomussi do PSB (2.676 votos de diferença). “Felizmente derrotamos uma prefeitura que escolheu deixar o povo à morte e não enfrentar essa grave pandemia, que iniciou o ano sem um contrato para prestação do serviço público de saúde, fechou o hospital de campanha enquanto os casos de Covid-19 na cidade ainda não haviam diminuído e esteve envolvido num caso de superfaturamento desse hospital, assim como de luvas e máscaras.”, afirma Amanda Bispo em entrevista ao Jornal A Verdade.
Um novo partido de esquerda para lutar
De fato, a Unidade Popular é um novo partido que veio para fortalecer a unidade da esquerda na batalha contra o fascismo: nas eleições, contribuindo para a derrota dos candidatos que
representavam a política reacionária em várias cidades importantes; nas ruas, retomando a mobilização popular contra a carestia, o desemprego e em defesa da vida frente à pandemia.
As várias derrotas que as candidaturas apoiadas por Jair Bolsonaro sofreram nessas eleições, sinalizam um novo período de lutas em todo país. É possível vencer o atraso, fortalecendo a resistência nos bairros populares, organizando a luta dos trabalhadores em defesa dos direitos, mobilizando o povo negro contra a violência policial e o racismo.
A nossa tarefa é explicar de onde vem tanta exploração, nomear os grandes empresários e banqueiros como responsáveis pela miséria e, finalmente, construir o poder popular junto ao povo humilde. A UP dedicará todos os seus dias para conquistar a vitória dos explorados e oprimidos.
(*) Isis Mustafa é integrante do diretório estadual da UP em São Paulo