Por Andressa Roana Schley (*)
Nós conseguimos vencer as eleições de 2022 graças à militância de esquerda que se organizou, construiu comitês populares em muitos cantos desse país e realizou uma grande campanha para ganhar as eleições presidenciais. Essa vitória se deu também, talvez principalmente, porque as pessoas perceberam uma vida pior durante o último (des)governo, uma vida difícil, cara, e querem quase que desesperadamente a sua vida de volta, uma vida melhor. Pessoas que permaneceram firmes no 13 a ponto de não darem seu voto ao dinheiro, à coerção ou ameaças.
Sobre essas pessoas, não podemos dar o vacilo de perdê-las para “o bonde da vida que andou”, pela inatividade política; não podemos perder a confiança e dedicação dessas pessoas. Digo isso porque temos em nossa sociedade uma disputa de classes em que a direita nos mata e explora sem dó, e nós classe trabalhadora precisamos urgentemente fazer valer esses votos de confiança e aproveitar essas consciências para consolidar e expandir uma consciência de classe no Brasil. Isso tem que ser tarefa principal das militâncias e do governo. Essa tarefa vai se dar através de, principalmente, duas estratégias:
1) Uma melhoria concreta na vida da população brasileira através de políticas públicas, reformas e alteração ou revogação das últimas reformas, PEC’s e sucateamentos golpistas dos governos Temer e Bolsonaro. O governo Lula precisa baratear a vida da população e gerar emprego e renda. Precisamos de uma chuva de projetos comunitários, institucionais, cooperativos e associativos, rumando para um desenvolvimento sustentável popular, para o reflorestamento e a segurança e soberania alimentar agroecológica, para mulheres, quilombolas, indígenas e jovens, agricultura familiar, economia solidária, de acesso à saúde, educação, esporte, lazer e cultura. E precisamos de – com ênfase nesse ponto: pessoas comprometidas com a classe trabalhadora escrevendo, propondo e trabalhando nesses projetos.
2) Consciência política – educação e discurso cultural. É através da educação emancipadora, do entendimento da sociedade, da história e da política que é garantida a consciência de classe e o poder popular. É necessário chover investimentos e projetos de educação e formação popular, institucional, escolar e acadêmico, para crianças, jovens, adultos, mulheres e idosos. A população precisa passar os próximos quatro anos estudando e se organizando. Uma estratégia baseada na educação popular e na cultura local, trabalhando no incentivo à autonomia dos povos e dos indivíduos, à soberania, à organização popular, à vida comunitária e aos avanços sociais.
Vimos que dos votos ao 22 existe um eleitorado que fez essa opção por questão de classe, por ser a estratégia para permanecer a lógica da burguesia exploradora nos poderes do funcionamento da sociedade. Esse grupo leva outro eleitorado consigo através das ideias, ou seja, da cultura – que é racista, conservadora, fascista e alienante. Uma cultura construída no Brasil desde o primeiro pé colonizador da coroa portuguesa nesse território, desde a ascensão do capitalismo e do cristianismo corrupto no mundo, e presente no imaginário da população até hoje. As pessoas se identificam com o que é falado diariamente para elas como bom e regra, e é exatamente aí que temos que trabalhar, no discurso cultural, na educação e consciência.
É através da educação e das estruturas de vida que a população terá condições de compreender sua condição na sociedade, realizar avaliações críticas e coerentes com a sua realidade e participar da vida política e social. É através dessas condições que poderá vivenciar, inclusive, suas religiosidades com autonomia e consciência. É assim que se combate a alienação, a manipulação, os dogmas, o individualismo, o egoísmo, o preconceito e o fascismo.
Aponto que nós enquanto população que nos identificamos com um projeto de sociedade igualitário, de avanços sociais com emancipação humana, precisamos ter essas duas estratégias como linha de ação em nossas vidas e trabalho a partir de agora. Começar a pensar quais projetos podemos tocar nos espaços em que estamos inseridos, no nosso trabalho, bairro, coletivos que fazemos parte, com os colegas, alunos, público, clientes, com a comunidade que está a nossa volta. Construir projetos úteis para a sociedade avançar, contribuir com a educação de nossa sociedade, cada um fazendo um pouco, todo mundo fazendo, podemos dar uma salto social nesses próximos quatro anos. Vencemos! Agora é dar posse e construir o nosso governo.
(*) Andressa Roana é Engenheira popular Sanitarista e Ambiental, mestranda em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, militante do MST e do PT/AE