Por Valter Pomar (*)
Lula concedeu, no dia 16 de agosto, uma entrevista à Rádio Gaúcha. Entre outros assuntos, falou da Venezuela.
Quem quiser ouvir um trecho da entrevista, clique abaixo:
Como sempre acontece com as entrevistas de Lula, cada um (perdão, Bosco e Blanc!) destaca o que gosta.
Por exemplo quando Lula lembra que “o problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela”.
Ou quando ele reafirma que o Partido e o governo não precisam estar de acordo em tudo.
Previsivelmente, parte da imprensa pensa o contrário: às vezes acusa Lula de ser o “dono” do PT, às vezes trata uma diferença de opinião como “racha”.
Esta mídia finge ser democrata, mas gosta mesmo é de pensamento único.
A parte mais curiosa da citada entrevista de Lula foi a definição que ele deu acerca do regime político da Venezuela: “Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Eu não acho que é uma ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas ditaduras pelo mundo”.
De fato, às vezes parece difícil classificar o regime político da Venezuela.
A oposição governa estados e cidades, possui fortes bancadas parlamentares, consegue mais de 40% dos votos nas eleições presidenciais, controla importantes meios de comunicação, tem muito dinheiro, além de usar e abusar do apoio internacional.
(Corina, por exemplo, defendeu uma intervenção militar estrangeira na Venezuela. E Guaidó foi reconhecido como presidente por inúmeros governos supostamente democráticos.)
Em resumo: a Venezuela é mesmo muito diferente das “ditaduras” que “a gente conhece pelo mundo”.
Por outro lado, na Venezuela a esquerda hegemoniza – até agora – o governo e o parlamento nacional, o judiciário e as forças armadas.
Isto também é bastante diferente das “democracias” que “a gente conhece pelo mundo”.
No Brasil, por exemplo, é a oposição que hegemoniza o congresso, as forças armadas e as polícias, a maioria dos governos subnacionais, boa parte do sistema judiciário, os meios de comunicação e a grana.
Isto tudo torna o Brasil um “regime” também “muito desagradável”, a depender do lado que você estiver.
Vamos lembrar que Dilma foi derrubada e Lula foi preso por este “regime”. Ocasião em que, mundo afora e Brasil a dentro, teve gente “agradável” que preferiu acreditar nas mentiras e manteve prudente distância do PT e de Lula.
Aliás, infelizmente, no chamado mundo da política existem, mas são raros, os “amigos agradáveis”, por exemplo aqueles que te ajudam quando você não tem mais para onde correr.
Na vida real, o mais frequente é sermos obrigados a escolher entre inimigos aparentemente agradáveis e amigos supostamente desagradáveis.
Pode não ser o mais bonito. Mas certamente é o mais saudável.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT