VII Congresso da CMP: 30 anos de lutas e resistência

Por Raimundo Bonfim (*)

Texto publicado na edição de março do Jornal Página 13

A Central de Movimentos Populares (CMP) realiza neste ano seu VII Congresso, de 26 a 29 de outubro, com tema: 30 anos de lutas e resistência, e lema: Contra o fascismo, em defesa da democracia, dos direitos e da vida. O objetivo é aprovar um plano de lutas e renovar a direção política. A data não foi escolhida por acaso. Ela marca o aniversário de 30 anos da nossa Central, fundada no primeiro Congresso Nacional de Movimentos Populares, entre 28 e 31 de outubro de 1993, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Somos fruto de um processo histórico de organização popular, luta por direitos e políticas públicas, pelo direito à cidade e por um projeto democrático-popular para o país.

A CMP congrega diversos movimentos populares urbanos, como moradia, associações de moradores, saúde, mulheres, negros (as), juventude e economia solidária, dentre outros. Nossa história começa no final dos anos 1970, em um contexto de ascensão das lutas populares e sindicais no Brasil. Com a piora das condições de vida da população brasileira durante a Ditadura Militar, movimentos de base passam a se organizar e a se somar com as correntes políticas na luta por democracia, participação política, contra a carestia e melhorais da qualidade de vida.

É nessa conjuntura que, em 1979, teve origem a Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOS), que acabou contribuindo para a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983, e da Central de Movimentos Populares (CMP), em 1993.

A CMP foi criada para articular os diversos movimentos populares urbanos com a finalidade de fortalecer e impulsionar as reivindicações específicas e, diante de movimentos tão diversos, articular lutas de caráter geral e comuns a todos os movimentos, tais como: participação popular, enfrentamento ao neoliberalismo, combate a desigualdade e miséria, além de contribuir com o debate e a defesa de uma sociedade socialista.

Nesses 30 anos, lutamos contra o neoliberalismo, participamos da conquista de governos populares e estivemos presentes ativamente nas mobilizações contra o golpe, os retrocessos, a prisão injusta de Lula e contra o fascismo. Defendemos a democracia, os direitos e a soberania. Promovemos ações de solidariedade e protestamos contra o desemprego, desigualdade, miséria, fome e violência, especialmente contra a juventude preta e periférica e as mulheres.

Nos últimos anos, especialmente a partir de 2015, ampliamos nossa atuação e incidência no cenário político, transformando a CMP numa das principais entidades de movimentos populares nas mobilizações contra o Golpe e os retrocessos e em defesa da democracia, além de contribuir com a articulação de espaços políticos como a Frente Brasil Popular e a Campanha Fora Bolsonaro. Estamos presentes em 20 estados da federação e congregamos cerca de quatro mil entidades e grupos de base em todas as regiões do país.

O VII Congresso será realizado em um momento de crise brutal do capitalismo e avanço das classes dominantes, da extrema direita, do fascismo, das privatizações dos recursos naturais e das empresas públicas, destruição dos direitos e desmonte das políticas públicas.

No Brasil e na América Latina, apesar de sofrermos há anos com as consequências dessa crise, abrimos uma nova conjuntura de possibilidades de avanço das lutas da esquerda. A retomada das mobilizações e as vitórias eleitorais nos últimos anos de forças progressistas poderão contribuir para estancar o avanço do neoliberalismo e do fascismo, com lutas de massas em defesa das pautas da classe trabalhadora.

Com a eleição de Lula, mesmo que por uma frente ampla, incluindo segmentos da burguesia, temos possibilidades de fortalecer nossas lutas para estancar o processo de privatizações, restabelecer a democracia, retomar os direitos, combater a fome, priorizar políticas públicas voltadas para o atendimento das necessidades do povo e colocar em curso um amplo e profundo processo de participação popular que contribua para elevar o nível de organização, fortalecer os movimentos populares e aumentar a consciência política e a mobilização, indispensáveis para enfrentar a burguesia e o fascismo.

O Congresso fará um balanço geral dos 30 anos de nossa caminhada e experiência política, e especificamente da gestão 2018-2022, considerando as lutas que travamos, as dificuldades, os avanços e desafios. Também faremos um ato de comemoração dos 30 anos da CMP.

Não são poucos os desafios do VII Congresso da CMP. Mas atuaremos para manter o caráter de articulação de movimentos populares urbanos, sempre vinculando o trabalho de base e lutas nos territórios com mobilizações gerais em defesa da transformação econômica e social, sustentado na organização, formação, comunicação e lutas de massas.

Acreditamos que para organizar a resistência popular e organizar lutas contra a desigualdade social, defender a democracia, enfrentar a burguesia e o fascismo e contribuir com um projeto democrático-popular para o país, precisamos estar inseridos no meio do povo, nos territórios urbanos e na construção de lutas de massas, indispensáveis para obtermos êxito nos enfrentamentos políticos, econômicos, sociais e ideológicos.

Convidamos a todas e todos a acompanharem esse processo e contribuir para fortalecer a CMP em todo o Brasil. Neste sentido, o PT e a CUT poderão ter papel decisivo no fortalecimento da CMP.

Viva o VII Congresso da CMP!

Viva os 30 anos da CMP!

(*) Raimundo Bonfim é advogado, diretor da Associação dos Moradores da favela Heliópolis, coordenador-geral da Central de Movimentos Populares (CMP) e da coordenação nacional da Frente Brasil Popular (FBP).

 

 

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