2° turno em Fortaleza: Entre o estelionato e o suicídio político

Por Rafael Tomyama*

O primeiro turno da eleição em Fortaleza se encerrou com as três principais candidaturas emboladas. Nesta disputa, a candidata Luizianne, do PT, depois de aparecer em segundo nas pesquisas, acabou ficando de fora, em terceiro, com quase 20% dos votos.

Depois de uma heroica campanha da militância petista, sem recursos e sem apoio nem do próprio governador de seu partido, prosseguiram na disputa para o 2°. turno os candidatos: Sarto, do PDT, legenda do atual prefeito Roberto Cláudio e de Ciro Gomes e seus irmãos; e Wagner, do Pros, apoiado por Bolsonaro.

Diante disso, a Executiva do diretório petista na capital se apressou em manifestar posição de apoio ao candidato do PDT, por meio de uma nota lacônica, que evitou realizar um balanço crítico da campanha no primeiro turno, tampouco deixar clara sua posição em relação ao futuro governo, seja lá quem seja eleito, mesmo considerando que nenhum dos projetos em debate se encontra alinhado ideologicamente com concepções de esquerda.

Cabe destacar que no primeiro turno, a campanha do PT criticou severamente tanto o ultradireitismo de Wagner quanto o elitismo e incompetência da atual gestão do PDT na prefeitura. E a campanha de Luizianne e Vladyson também foi atacada de forma baixa, mentirosa e misógina, especialmente pelo marketing da oligarquia Ferreira-Gomes.

Eis que horas depois de lançada a nota, o candidato Sarto é recebido com pompa e circunstância por dirigentes e parlamentares, em palanque montado na sede do PT. No ato político, entre trocas de sorrisos, fotos e amabilidades, parecia que nunca aconteceram as baixarias proferidas no primeiro turno e nenhum discurso se referiu a elas ou exigiu retratação do convidado por tê-las alimentado.

Além da afrontosa demonstração de subserviência, cresceu a indignação no meio da militância devido ao rumor de que estaria sendo negociado um “acordo”, que envolveria facilidades para bancada do PT na Assembleia Legislativa do Ceará (Sarto é o presidente da Casa) e até a participação de petistas na eventual gestão municipal.

A preocupação de Sarto seria a de reforçar com mais três votos de vereadores da bancada do PT, a maioria necessária para governabilidade de seu possível governo.

Ora, a participação do PT na prefeitura, depois de uma campanha que se destacou pela críticas ao abandono das periferias e ao desmonte de programas sociais e de mecanismos participativos, equivaleria a um estelionato eleitoral.

Seria como se Dilma escolhesse um banqueiro ligado aos tucanos para dirigir sua política econômica. Ou como se Erundina resolvesse participar do governo Itamar. Ou ainda, como se Camilo apresentasse uma reforma previdenciária semelhante a de Bolsonaro.

Mas, pior, tal “acordo” seria uma espécie de suicídio político. Após uma campanha marcada pelo crescimento da bancada Psolista, isto é, pela migração de setores médios da identificação com o petismo – associado com uma institucionalização conservadora – o PT de Fortaleza se submeteria graciosamente à nada lisonjeira alcunha de “farinha do mesmo saco”.

A manobra, no entanto, corresponde a uma aspiração antiga, nominada “sobralização” do PT no Ceará, que, em poucas palavras, significa submeter o diretório da capital a um papel coadjuvante de sublegenda da oligarquia dos Gomes.

Ora, a candidata Luizianne, do PT, recebeu mais de 227 mil votos do povo fortalezense numa linha de discurso e de campanha marcadamente oposicionista. Como seria visto, passados poucos dias do calor da peleja, o PT de braços dados com seus algozes? Seria uma tremenda desmoralização. Ou autodesmoralização.

Enquanto lideranças se esquivam ou se referem por alto à “possibilidade” de entendimento, Luizianne inexplicavelmente permanece silente. Seria o silêncio providencial de quem não quer ser acusada de cooperar com o inimigo ou seria o silêncio conivente com um acordo indecoroso por baixo dos panos?

Ao que tudo indica, se a base da militância petista não subir o tom e gerar constrangimento, é isso mesmo que se pretende que ocorra.

*Rafael Tomyama é jornalista e militante da tendência petista Articulação de Esquerda no Ceará

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