Jandyra Uehara Alves e Ismael César
No dia 24 de novembro, as centrais sindicais decidiram realizar greve nacional contra a nova proposta de destruição da previdência social anunciada pelo golpista Temer, convocando os sindicatos e movimentos sociais a realizarem a mais ampla mobilização nas bases sindicais e populares.
As Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo imediatamente se somaram à convocatória das centrais organizando-se para mobilizar suas bases, promover ações de massa, pressionar parlamentares como fizeram em todas as greves e mobilizações propostas pela CUT e demais centrais em 2017, com destaque para a greve histórica de 28 de abril e a ocupação de Brasília no dia 24 de maio.
Entre 24 de novembro e 1º de dezembro, tivemos uma semana de intenso trabalho, muito esforço militante, para esquentar a convocatória da greve nacional, que gradativamente foi tomando corpo em diversas categorias importantes, com maior ou menor grau de mobilização, previsíveis num controverso cenário que combina total rejeição ao governo golpista e mobilização popular insuficiente. Fato é que, diante da gravidade e do grau altamente destrutivo do novo projeto de Temer, houve um imenso esforço das direções sindicais e de movimentos populares para fazer acontecer a greve nacional.
No dia 28 de novembro, em uma audiência das Centrais com o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a CUT deixou claro que os trabalhadores não aceitariam passivamente a destruição da previdência pública do país. Na saída da reunião, o presidente da CUT, Vagner Freitas acertadamente afirmou que “a única saída é a greve nacional”.
Em o todo o país, preparava-se o Dia Nacional de Greve com intensidade diferenciada. As CUTs estaduais estavam se preparando para a realização da paralisação e de atos, e os sindicatos progressivamente realizando assembleias mais ou menos mobilizadas e dando continuidade também à coleta de assinaturas para Projeto de Lei de Iniciativa Popular, que pede a anulação da reforma trabalhista. Com 3% de popularidade, Temer é odiado pela grande maioria do povo, e parte considerável dos picaretas do Congresso Nacional que o apoiam temem não serem reeleitos caso coloquem suas digitais num projeto que acaba com a previdência pública do país.
No primeiro semestre de 2017, toda a mobilização realizada pela CUT, pelas Frentes e pelas demais centrais contra a destruição da previdência social conseguiu retirar por alguns meses a antirreforma da previdência da pauta do Congresso golpista – mas não dos propósitos de Temer, Meireles e sua camarilha, que não dependem de aceitação popular e tampouco de respeitar minimamente regras básicas da democracia burguesa, além de terem “salvo conduto” para cometer crimes impunemente desde que implementem integralmente a retirada de direitos. Concluídas a entrega do pré-sal, o congelamento de investimentos sociais, a terceirização sem limites e a famigerada reforma trabalhista, os golpistas ainda devem uma gorda fatura para o capital financeiro, que exige a destruição da previdência pública para engordar morbidamente seus lucros bilionários.
As dificuldades impostas aos golpistas pela resistência da classe trabalhadora ao longo de 2017, a crescente mobilização em torno da construção de um Dia Nacional de Greve, as ações realizadas em todos os estados e a pressão sobre os parlamentares foram decisivas para que desmarcassem a votação em primeiro turno da PEC 287/16 pela Câmara dos Deputados. Caso a votação ocorresse, o Palácio do Planalto não teria os 308 votos necessários para aprovar o Projeto.
No dia 1º de dezembro, fomos surpreendidos com a decisão das Centrais de suspensão da greve do dia 5, diante da suspensão da votação da antirreforma da previdência no dia 6. Os argumentos relacionavam-se à condicionante implícita na palavra de ordem “Se botar prá votar, o Brasil vai parar”, bem como às dificuldades de convocar uma nova greve caso a antirreforma venha a ser votada no próximo dia 13 de dezembro.
Parte da cúpula da CUT decidiu em acordo com as demais centrais tomar esta decisão sem a necessária e insubstituível consulta à executiva nacional da CUT, às CUTs estaduais e às confederações nacionais, sem ouvir os aliados das Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo e os parlamentares aliados no Congresso Nacional. O anúncio desastroso pela imprensa golpista e redes sociais sem nenhuma orientação quanto a continuidade da luta contribuiu para a dispersão, gerando desconfiança e confusão no campo democrático e popular.
A avaliação se uma decisão foi certa ou errada não pode ter como parâmetro as intenções ou as premissas que a sustentaram, no caso o adiamento da greve articulado com a suspensão da votação. O parâmetro que nos leva a considerar um grave erro a concordância da CUT com a suspensão da greve, além do método de decisão limitado a centrais pelegas, é sua consequência prática: esta decisão contribuiu para a fragmentação, dispersão e a desconfiança na capacidade de direção política da principal e mais combativa central sindical num momento em que é absolutamente fundamental unificar as forças cutistas, as centrais que lutam contra o golpe e os movimentos populares.
Mais uma vez, um problema de fundo na relação da CUT com as demais centrais e com as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo aparece claramente: parte da cúpula cutista continua privilegiando a interlocução política com o Fórum das Centrais, que reúne direções golpistas de direita e de esquerda. A relação com este Fórum deve ter caráter tático, de unificação das lutas pontuais contra a retirada de direitos, sabendo que ali se alinhavam interesses que vão desde a utilização do movimento para abrir espaço com o governo golpista até a política de desqualificação da CUT e do “quanto pior melhor” da igualmente golpista CSP-Conlutas – com o agravante de que esta interlocução privilegiada com as centrais pelegas é uma marca da política sindical nacional centrada em São Paulo, que não se reproduz na maioria dos estados, onde a interlocução principal das Cuts é com os movimentos populares e centrais que compõem a Frente Brasil Popular. Saber definir claramente quem são os nossos aliados estratégicos e a disposição concreta de construir com eles um diálogo e articulação consistentes são essenciais para a luta em torno dos rumos do Brasil nas próximas décadas.
A iniciativa de várias CUTs estaduais em reafirmar o caráter de luta do dia 5 foi acertado. Não podemos baixar a guarda. Mais do que nunca é preciso partir para cima dos golpistas e impedir o fim da previdência pública no Brasil. Continua válida a palavra de ordem “Se botar prá votar, o Brasil vai parar!” e isto se faz com povo na rua, consciente e mobilizado.
Fortalecer os laços e a luta com as organizações populares e sindicais que lutam contra o golpe e a destruição dos direitos da classe trabalhadora, corrigir os erros táticos e realinhar as alianças estratégicas são tarefas que uma organização do porte político e organizativo da CUT tem plenas condições de realizar. E nós estamos prontos a contribuir com este processo, participando ativamente do esforço cotidiano de construção da unidade política necessária para conseguirmos fortalecer a classe trabalhadora na arena sangrenta da luta de classes.
Impedir a aprovação da reforma da previdência e articular fortes mobilizações, greves e resistência articulados com trabalho de base contínuo e politizado é o que nos dará força e base social para eleger Lula em 2018, para revogar cada uma das medidas antipovo aprovadas por Temer e toda a sua camarilha e fortalecer a classe trabalhadora.
É hora de partir pra cima dos golpistas, impedir o fim da previdência e realizar fortes mobilizações em 2018!
Jandyra Uehara Alves e Ismael César são membros da executiva da CUT