Por Valter Pomar (*)
Recomendo muito a palestra da presidenta Dilma Roussef, realizada nesta terça-feira 20 de maio, acerca dos BRICS.
A palestra pode ser assistida aqui:
https://www.youtube.com/live/hqa0L7qzQn8?feature=shared
Entre os muitos motivos para escutar Dilma, está a análise que ela faz acerca da política implementada por Donald Trump em seu segundo mandato.
Ao mesmo tempo que pontua os impasses e dificuldades do Império, contrapondo os êxitos e fortalezas dos BRICS, em particular da China, Dilma não comete dois equívocos muitos comuns em setores da esquerda: não reduz Trump a uma caricatura, nem trata os EUA como um tigre de papel.
(Aliás, embora sua famosa imagem tenha inspirado muitos desatinos, Mao levava muito a sério o imperialismo.)
Acontece que a recíproca é verdadeira: os Estados Unidos tampouco acham que os BRICS sejam um tigre de papel.
Supostamente eles deveriam pensar isso.
Afinal, é preciso muito esforço para encaixar as ações concretas do grupo no modelito “sabotador”, “confrontacional”, “anti-sistema”, “anti-Ocidente” & “eixo-do mal” que frequenta as fantasias de certa direita.
Nada mais natural, portanto, que os EUA reconhecessem o “perfil reformista” dos BRICS.
O problema é que os EUA tem um modo muito particular de ver e agir.
Por exemplo: foram os pais de Bretton Woods, mas quando lhes foi útil rasgaram unilateralmente o padrão dólar-ouro.
Outro exemplo: foram os pais da globalização neoliberal, mas quando lhes pareceu útil entraram no modo protecionista-mas-não-toque-no-meu-dólar.
Noutras palavras, não importa se você respeita as regras do jogo, o que importa é se você ameaça a hegemonia dos EUA.
Por este e por outros motivos, os EUA não tem ilusões acerca da ameaça existencial representada pelos BRICS.
Ameaça existencial que não vem apenas da potência econômica da China e do desafio militar da Rússia, mas também de um Brasil-que-não-aceita-ser-quintal-de-ninguém.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT