Em tempos de guerra, a Esperança é Vermelha
O PT, a conjuntura e a mudança de rumos que queremos
Nossa tese é também um lema. Dizer que a Esperança é Vermelha quando testemunhamos tempos de guerra mundo afora não é um mero chavão. Ao contrário, buscamos inspiração em diversas lutas travadas – e vencidas – pela classe trabalhadora dos mais distintos países, inclusive o nosso. Neste ano, por exemplo, cumpriram-se respectivamente 90 anos da insurreição popular do Rio Grande do Norte, onde o povo tomou o poder por 82 horas; 80 anos da derrota do nazifascismo, em sua maior medida graças à força e à organização do povo soviético; e 50 anos da derrota do imperialismo americano, imposta pelo povo vietnamita.
Em comum, essas experiências demonstram o seguinte: organização política, mobilização, formação, entusiasmo e solidariedade militantes são os elementos da fórmula da vitória perante a poderosa classe dominante.
Guardadas as devidas proporções – haja vista que a guerra, por aqui, não se apresenta de forma tão escancarada quanto as que se passam em outros locais do mundo – nosso país também vive tempos de guerra. Seja aquela que acomete o povo trabalhador, em sua maioria de pretos/as e pobres, por meio da violência policial e do crime organizado, sejam as diversas violências cometidas contra camponeses, movimentos sociais e militantes políticos.
Na arena político-institucional, nosso governo, o governo liderado pelo presidente Lula, não passa ileso aos tempos de guerra; vive, como é fácil notar, um cerco permanente cujos agentes não se limitam ao assim chamado bolsonarismo, mas constituem-se também na chamada “direita tradicional”, defensora dos interesses predominantes do grande capital financeiro e do agronegócio, que se veem representados em larga medida naquilo que se convencionou a chamar de “centrão”.
Ou seja, partimos do diagnóstico de que tanto a extrema direita neofascista quanto a direita ultraliberal constituem o pólo antagônico ao bloco popular, ainda liderado por nosso partido. Não à toa, essa junção apareceu em sua máxima potência em 2018 e, embora tenha arrefecido em 2022, segue viva e atuante. O projeto dessa turma é um só: manter nosso país na periferia do sistema capitalista e, consequentemente, ampliar a violência contra as populações negras, indígenas, campesinas e faveladas, aos moldes do que acontece
Para se contrapor a essa aliança, nosso partido precisa ter lado. Viver é tomar partido. E o partido da classe trabalhadora tem de ser igualmente o partido do povo brasileiro, destacadamente de negros e negras, de LGBTQIAP+, de mulheres, de pessoas com deficiência, enfim, de todos aqueles e aquelas que também têm suas vidas atravessadas por opressões das mais distintas naturezas.
O PT não pode se furtar de tomar o lado da diversa classe trabalhadora brasileira em todas as grandes disputas da sociedade – combatendo privatizações, defendendo o serviço público, os direitos sociais e trabalhistas e fomentando a industrialização alinhada ao equilíbrio ecológico.
Mas tomar lado não é suficiente: o partido precisa de combustível mobilizador e militante para transformar, voltando a reunir pessoas engajadas em seus locais de trabalho, de lazer, de moradia, mas, sobretudo, nas ruas. E isso se conquista com muito trabalho de base, com muita organização e formação política de nossas direções.
Não há outra saída: ou bem zelamos pela nossa referência junto à classe trabalhadora, ou, então, corremos o risco de virar um partido plenamente integrado ao “sistema”, à democracia liberal-burguesa e periférica que reina de norte a sul de nossa nação, negando nossa tradição de defesa de reformas estruturais e do socialismo petista.
Assim como em 2005, quando a Nação Petista usou o PED para salvar nosso governo do perigoso caminho em que rumava com as reformas liberalizantes decorrentes da “Carta aos Brasileiros”, sugerindo mudanças de rumos na condução da política econômica, o PED 2025 poderá igualmente abrir novos caminhos tanto para correções de rumo em nossos governos, como para realinhar e fortalecer a militância petista em suas lutas país afora e adentro.
Temos consciência de que o desafio que se coloca ao nosso Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras é bem mais do que eleitoral. Se é verdade que as eleições de 2026 são fundamentais para nós, é ainda mais certo que o PED de 2025 dará a linha não só para o processo eleitoral do próximo ano, como também para o futuro do PT.
Com isso em vista, nossa chapa A Esperança é Vermelha (número 220) e nosso candidato à presidência nacional, o companheiro Valter Pomar (número 120), propõem uma “revolução organizativa no Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras”, destacando-se os seguintes pontos:
a) a ampliação da democracia no interior do Partido, reforçando a soberania e a vida orgânica das instâncias em relação aos mandatos parlamentares que hoje constituem um centro de poder paralelo que hegemoniza a vida partidária;
b) alteração profunda nos métodos de comunicação partidária, criando condições para uma comunicação de massas, feita por militantes, para militantes e para o conjunto da classe trabalhadora, desde a produção e distribuição cotidiana de material impresso até a comunicação digital em suas diversas formas;
c) retomada da contribuição e financiamento militantes ao partido, incluindo, além da contribuição anual, a organização de atividades como almoços, produção de materiais para venda, bingos, rifas etc., que possam ao mesmo tempo contribuir para as finanças e conscientizar sobre o fato de que um Partido de Trabalhadores deve ser mantido pelos próprios trabalhadores;
d) ampliação das atividades de formação política, com destaque para a formação político-ideológica da militância;
e) estímulo e viabilização da participação das mulheres nos debates, formações, atividades e ações partidárias, inclusive suporte efetivo para a candidatura de mulheres;
f) persistência de inclusão da juventude nas instâncias deliberativas e representativas, com uma campanha de filiação de jovens ao Partido, lembrando que o principal atrativo para o PT ter mais jovens militando é que ele seja um partido socialista e de luta;
g) ampliar a participação de negros e negras na militância partidária, dando suporte efetivo para as candidaturas e dando a luta contra o racismo e pela reparação histórica, econômica e social um papel central na ação partidária.
h) presença na luta cultural de massas, necessária para construir uma consciência de classe socialista-revolucionário, democrático-radical e popular na classe trabalhadora;
i) compromisso de que a política eleitoral nos municípios e nos estados não será imposta de fora para dentro e de cima para baixo.
Como tarefas imediatas, nosso partido deve se empenhar na construção do Plebiscito Popular que debate a taxação dos superricos, a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6 x 1, bem como na total revogação das contrarreformas trabalhista e previdenciária, pressionando o governo de fora para dentro – como já recomendou o presidente Lula – sem cair no esquerdismo antipetista; nas lutas em defesa da Palestina Livre e contra o genocídio praticado pelo Estado de Israel; e nas articulações para a reeleição do companheiro Lula em 2026 e aumento da nossa força nos parlamentos, especialmente o nacional.
Essas missões não são nada fáceis. Contudo, seguimos certos de que só a luta impedirá a catástrofe: no Brasil, em geral, e no Rio Grande do Norte, em particular. Aqui, nossos desafios não deixam de ser imensos e reveladores, e um balanço se faz necessário para apresentarmos nossa linha política, nossa chapa “A Esperança é Vermelha” e nossas candidaturas.
O PT no RN: unidade para fortalecer, fortalecer para vencer
Desde 2018, o RN tem assistido a algumas vitórias do campo progressista. Elegemos a primeira governadora de origem popular, a companheira Fátima Bezerra, e obtivemos bons resultados, como a maior votação da história do RN à Câmara dos Deputados, com a companheira Natália Bonavides, em 2022.
Em 2024, enfrentamos o poder da máquina, elevado à sua enésima potência, durante a campanha à prefeitura do Natal. É público e notório: a direita, sempre que necessita, vai até às últimas consequências para nos derrotar, segura de que pode jogar fora das regras do jogo liberal-burguês sempre que a esquerda for sua adversária principal.
Mesmo assim, conquistamos a maior votação da esquerda na história de Natal, com quase 180.000 (cento e oitenta mil) corações e mentes, na defesa de um projeto democrático e popular, inspirado na gestão do maior prefeito que Natal já viu, Djalma Maranhão, montado a partir de plenárias abertas à militância. Isso tudo sem recuar em temas tão caros à democratização das cidades, como a Tarifa Zero, o direito à creche e o enfrentamento aos lobbies de entidades patronais.
Montamos um grande arco de alianças que endossou nossas propostas, revelando que a iniciativa política, a ousadia na luta, também na esfera institucional, é capaz de amalgamar blocos constituídos por diferentes forças políticas. Quando se trata de tática de alianças eleitorais, fica claro que o centro do debate pode e deve ser nosso programa, sempre construído desde as bases.
Apesar dessas grandes conquistas, por vezes nos sentimos reféns do poderio informacional-midiático-empresarial orquestrado para nos bombardear. As forças do atraso se beneficiam de séculos de privilégios e são ferozes na defesa deles.
Para contrabalançar essa tendência, nosso partido precisa recuperar sua vitalidade e seu poder de mobilização na base popular, para além dos gabinetes institucionais. Nas eleições de 2024, para seguir no exemplo, virou regra assistir à reação combativa da Nação Petista e seus aliados nos comentários de postagens ou transmissões difamatórias feitas pelos aparelhos ideológicos da direita.
Esse espírito não pode ser libertado apenas nos anos pares. E é papel do nosso partido estimular nossa militância a ser protagonista no enfrentamento contra o sistema. Eis o segredo para que afastemos, de vez, o perigo eleitoral do retorno das forças neofascistas ao Centro Administrativo do nosso estado.
Contudo, o cenário em termos de organização interna partidária é preocupante.
Diante de tantos e tamanhos desafios que se avizinham para o Partido dos Trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte, é fundamental que realizemos um debate profundo acerca dos rumos do nosso Partido, colocando na ordem do dia mudanças imprescindíveis para a reorganização e fortalecimento partidário.
Se olharmos para além das estruturas burocráticas, de governos e mandatos parlamentares, e nos fixarmos nas ruas, o que se vê é um baixo envolvimento do PT e de nossas bandeiras. Nosso partido precisa participar ativamente e liderar atos públicos em defesa do fim da escala 6 x 1, contra a anistia para golpistas, contra o genocídio do povo palestino, contra celebrações do golpe de civil-militar de 1º de abril de 1964, no Dia do Trabalhadorem, em 1º de maio, e no Grito dos Excluídos, no 7 de setembro.
Para além disso, a democracia partidária precisa ser reavivada, incluindo nos processos decisórios setores que, muitas vezes, só são chamados a construir e a atuar junto ao partido em períodos eleitorais, o que representa um grave sintoma – ainda passível de reversão – de assimilação ao sistema eleitoral liberal-burguês.
É preciso ademais, ecoar a voz das periferias, das mulheres, da companheirada LGBTQIAP+, dos povos de terreiro, das pessoas pretas e indígenas, assim como de toda e qualquer minoria. Para isso, o fortalecimento dos Zonais, das Secretarias e dos Setoriais é de fundamental importância, garantindo-lhes uma vida orgânica para além da atuação meramente burocrático-institucional.
Hoje, porém, em virtude de decisões políticas equivocadas, tomadas prioritariamente em razão das eleições, o partido está ausente da grande maioria dos 167 municípios do Estado, onde, muitas vezes, o que temos são Comissões Provisórias que não chegam sequer a se transformar em Diretórios Municipais, com numerosos militantes descontentes e abandonando nossa legenda, por se sentirem abandonados.
Questões históricas, que sempre tiveram um papel central nos debates partidários, são relegadas a assuntos de menor importância. Exemplo disso são os impactos socioambientais de grandes obras de infraestrutura, que, muitas vezes, vêm sendo liberadas sem maiores considerações aos direitos de povos e comunidades tradicionais do nosso Estado, como no caso de parques de geração de energia eólica.
Não podemos naturalizar que grandes empresas estrangeiras usurpem nosso patrimônio, ataquem nosso povo e seus modos de vida e direcionem todo o excedente produzido para gerar “energia verde” nos países do centro capitalista, com retorno baixíssimo ou nulo para nosso estado. Temas como esses precisam ser debatidos nas instâncias partidárias e com a base petista.
Diante desse cenário, reafirmamos nossa linha política, ancorada nas teses nacionais da chapa “A Esperança é Vermelha”, como resumimos acima, adaptando-a às peculiaridades locais.
Ao mesmo tempo em que mantemos nossas chapas autônomas, construímos aliança com as forças “Construindo um Novo Brasil”, “Brasil Socialista” e “Resistência Socialista” em Natal e no Rio Grande do Norte, que culminou em nosso apoio à companheira Divaneide Basílio à presidência estadual e, reciprocamente, deles ao companheiro Daniel Valença à presidência municipal de Natal. Essa mesma aliança se repetiu em Mossoró, com a indicação à presidência municipal do companheiro Yadson.
Essa tática em nada contraria nossos objetivos e propostas nacionais. Primeiro porque todas essas forças partem, aqui no RN, de diagnóstico similar: a perda de autonomia do partido, que culmina na fragilidade de suas instâncias e de sua democracia interna, constitui-se numa arma mortífera para nosso êxito social e eleitoral. Realizar esse freio de arrumação interno requer a junção de um bloco dedicado a dar consequência a esse diagnóstico.
Além disso, não podemos deixar de destacar o empenho de lideranças desse grupo no processo eleitoral por nós conduzido em 2024, particularmente a atuação justa, camarada e diligente da companheira Divaneide Basílio, que presidiu o PT em Natal durante o pleito.
Essas afinidades, guardadas as diferenças para a disputa de linha política geral do partido, permitiram-nos forjar essas alianças para, juntos, colaborarmos para que o PT tenha muito mais do que “um grande passado pela frente”.
Na linha do “choque organizativo” proposto nacionalmente, defendemos a criação de um núcleo petista de base em cada bairro de Natal, com apoio do partido para promoção de ações de formação e culturais. Precisamos voltar a ter lideranças orgânicas em cada comunidade, lideranças dispostas a defender nosso legado e a construírem coletivamente, em nome do PT, em seus locais de vida e trabalho.
Defendemos, ainda, dobrar nosso número de filiados e filiadas – muito aquém de capitais do patamar de Natal, como Teresina/PI, com quase o triplo do que temos por aqui –, construindo campanhas partidárias que aticem na “Nação Petista” o orgulho de “levar essa estrela no peito, sem medo ou pudor”.
Nossa sede também precisa ser debatida. Nela, a classe trabalhadora do RN precisa encontrar um ponto de referência, onde exista vida concreta, luta, arte, formação, felicidade e acolhimento, podendo receber peças teatrais, produções audiovisuais, cozinhas solidárias e apresentações musicais.
É por meio da convivência, da camaradagem, do companheirismo, ligado sempre pela defesa das ideias e projetos mais belos que a humanidade foi capaz de conceber coletivamente, que construiremos a disposição necessária para mudar o PT, para fortalecê-lo e para vencer o campo reacionário potiguar.
Nas trincheiras potiguares da batalha contra o neofascismo e o neoliberalismo, a esperança segue sendo vermelha, democrática, de massas e socialista!