A captura do Banco Central pela “Faria Lima” e o copia-e-cola de Gabriel Galípolo

Por Pedro Estevam da Rocha Pomar (*)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu, na sua reunião mensal realizada em 30 de julho, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15%. Na reunião anterior, realizada em junho, o Copom havia aumentado a Selic de 14,75% para 15%, a pretexto de “expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, e de “assegurar a convergência da inflação à meta” (fixada pelo Ministério da Fazenda), alegando que esse cenário exige “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.

Desta vez, para justificar a manutenção do patamar de 15%, que faz da taxa real de juros brasileira a segunda mais alta do mundo (9,53%, atrás apenas daquela vigente na Turquia, de 14,4%), o Copom alegou, em resumo, que embora tenha constatado “certa moderação no crescimento” da atividade econômica, “o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo”; que “a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”; e que os “riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual”.

Não é mais surpresa para ninguém que o Banco Central tenha sido capturado pelo setor financeiro, a “Faria Lima”, e que seu presidente, o “menino de ouro” Gabriel Galípolo, seja um sucessor à altura de Roberto Campos Neto. Mas é importante ler as explicações do Copom para aquilatar o grau de perversidade da visão monetarista ultraliberal que impregna as tomadas de decisão do comitê presidido por Galípolo. Afinal, é preciso praticar uma enorme ginástica retórica para justificar a imposição de uma taxa real de juros mais alta que a da Rússia (7,6%), um país de porte semelhante que está em guerra e ainda enfrenta sanções econômicas.

As atas do Copom revelam que, para o Banco Central, o pleno funcionamento da economia é um problema a ser enfrentado. Prossigamos a leitura da ata preliminar publicada no dia 30 de julho. Vamos saltar o detalhamento dos riscos “de alta e de baixa” da inflação, no quarto parágrafo, e passar ao quinto parágrafo: “O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”. Parece familiar? Sim, essas frases são praticamente idênticas às encontradas na ata anterior. Também estão presentes na ata da reunião de maio!

Passemos ao parágrafo seguinte: “O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.

Como assim, “fomento do pleno emprego”? Ora, embora o governo Lula tenha obtido admirável avanço na queda do desemprego, com redução da taxa nacional de desocupação para 5,8% no segundo trimestre de 2025 (a menor desde 2012), ainda há cerca de 6 milhões de trabalhadores(as) desempregado(a)s. Sem contar que parte expressiva da força de trabalho ainda não dispõe de empregos de qualidade adequada. Portanto, será difícil conquistar “pleno emprego” enquanto a atividade produtiva estiver constrangida pela altíssima taxa de juros e não se avançar na reindustrialização.

Por outro lado, soa contraditório falar-se em “fomento do pleno emprego” ao mesmo tempo em que se lamenta “o dinamismo do mercado de trabalho” e as “pressões no mercado de trabalho”, ou, ainda, a “resiliência da atividade econômica”. Não é verdade?

Mas passemos ao parágrafo final da ata preliminar. Ali se diz que o cenário atual, “marcado por elevada incerteza”, exige cautela na condução da política monetária. “Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, continua.

Por fim, adverte, em tom severo: “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”. Em síntese: se a economia continuar se comportando mal e fugindo aos parâmetros monetaristas do Copom, um novo aumento será aplicado à taxa Selic!

Pois bem: quem quiser comparar o enunciado acima transcrito com a ata da reunião de 17 e 18 de junho último vai encontrar lá o seguinte, no parágrafo de número 23: “Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”. Que beleza! Galípolo é um craque no copia-e-cola.

O autoplágio praticado ad nauseam nas atas do Copom seria irrelevante se fosse apenas uma questão de ordem literária. Mas as decisões do colegiado de tecnocratas liderado por Galípolo, ao jogarem a Selic para nível estratosférico, impactam negativamente os recursos da União, ao mesmo tempo em que enriquecem banqueiros e rentistas credores dos títulos do Tesouro. Assim, as atas se prestam a embalar em linguagem escorregadia e cifrada essa que é uma das mais daninhas práticas de lesa-pátria cometidas pela oligarquia brasileira.

(Tem razão quem diz que o governo federal precisa elevar a meta de inflação e assim subtrair o principal argumento de Galípolo e seus copom boys, que é a necessidade de “convergir” meta e inflação real. A hipótese é de que isso obrigaria o Copom a baixar a Selic. Tomara que isso aconteça, para que a hipótese seja testada.)

(*) Pedro Estevam da Rocha Pomar é jornalista. Militante do Partido dos Trabalhadores em SP.

Uma resposta

  1. Galipolo sei desgraçado toma vergonha na cara e ajude o país ,e não o destrua seu fdp

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