A desvinculação de Bolsonaro

Por Danilo Mendonça (*)

“Ah, mas o Bolsonaro era de esquerda…” diga-me que você não consegue imaginar uma frase dessas sendo proferida daqui alguns anos – ou até meses – em institutos liberais, bancos e think-tanks pelo país.

Vide o atual fracasso do governo Jair Bolsonaro e das políticas neoliberais de Guedes, boa parte da direita vai tentar se desvincular desse nefasto capítulo da política brasileira. O tucano João Dória, que foi eleito na tosca jogada de marketing “Bolsodória” já começa a tentar firmar-se como oposição ao Bolsonarismo sendo que os mesmos fizeram campanha no mesmo ninho. Os grupelhos da nova direita brasileira que esforçaram-se para com o golpe parlamentar da presidenta Dilma Rousseff, como o MBL e Vem pra Rua, que fizeram campanhas entusiasmadas para eleger esse desgoverno tentam também desesperadamente empurrar Bolsonaro para debaixo do tapete. Até mesmo o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que foi incontestavelmente eleito dado o apoio de Bolsonaro e seus asseclas também procura a todo momento contracenar midiaticamente uma oposição a tudo o que o Bolsonaro. Além desses casos, temos é claro deputados como Joice Hasselmanm (PSL-SP), Alexandre Frota (PSL-SP)  e Delegado Waldi (PSL-GO).

Alguns tentam até mesmo cunhar o termo “bolsopetismo” tentando desmoralizar o Partido dos Trabalhadores e insinuando que são “dois lados da mesma moeda”. Felipe Moura Brasil, jornalista da Jovem Pan e o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) são dois que deleitam-se no Twitter usando constantemente esse termo que tenta associar o partido que possui uma militância de quarenta anos com o fascistóide grupo que ocupa o Palácio do Planalto.

Após o fracasso do então presidente, Fernando Collor de Mello (PRN) que renunciou em 1992 em meio a um processo de Impeachment, representou um fracasso da direita democrática, ora eleita em 1989, que confiscou as poupanças do povo brasileiro, em meio a inúmeros resultados econômicos devastadores e casos contundente de corrupção. Devido a esse fracasso, muitos militantes da direita brasileira empurram até hoje Collor não apenas como um “desvio de curva”, mas muitas vezes como um presidente que “não foi tão de direita”.

Com esse desgoverno em curso, muitos partidários irão – aproveitando esvaziamento de significado de orientações políticas – tentar empurrar Bolsonaro para a esquerda. Todos aqueles que pariram Bolsonaro irão fazer tudo para desvincular-se de qualquer remota lembrança de apoios ao governo bolsonarista e a agenda de Guedes. Caberá aos movimentos de esquerda e progressistas fazer com que não aconteça o apagamento dos papéis de cada um desses jogadores políticos. Se isso não for feito, boa parte da direita mais discreta e menos truculenta, irá pintar Bolsonaro como um esquerdista até o último fio de cabelo tal qual um verdadeiro camarada.

(*) Danilo Mendonça é estudante de História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

(**) Textos assinados não representam necessariamente a opinião do Página 13.

 

 

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