A esquerda e um certo populismo

Por Valter Pomar (*)

A primeira vez que isso aconteceu foi num evento convocado pela Fundação Rosa Luxemburgo, em Bruxelas, com a participação de integrantes do Foro de São Paulo e de partidos da esquerda europeia.

Destaco: não da socialdemocracia, mas da esquerda europeia.

No meio do evento, um camarada nicaraguense “explicou” aos europeus que eles nunca seriam consequentemente de esquerda, porque atuavam em países imperialistas e por isso eram estruturalmente limitados.

Este camarada, segundo me contaram, estaria hoje em prisão domiciliar. Não consigo imaginar o que ele teria feito para merecer este tratamento. Mas sua pena confirma que não é apenas a esquerda europeia que comete erros recorrentes.

A segunda vez que isso aconteceu foi recentemente, quando recomendei a leitura do seguinte texto: Como Die Linke cresceu e superou expectativas nas eleições alemãs – Fundação Rosa Luxemburgo

Um camarada me escreveu, lembrando que o Die Linke tem posições tíbias sobre a guerra da Ucrânia e sobre o genocídio cometido por Israel contra o povo palestino.

Conversa vai, conversa vem, disse ao camarada que concordo que “a posição deles não é a correta. Mas se for por esse critério, quem passa na prova?”

A resposta do camarada foi: “acho um erro idealizar as esquerdas imperialistas” ou “comparar com as nossas”.

De fato, idealizar é sempre errado. E comparar é sempre complicado, até porque se fosse para fazer isto seria necessário exigir das nossas esquerdas uma coerência muito maior, que infelizmente falta.

Mas, ressalvas a parte, segue sendo necessário estudar a volta por cima dada pelo Linke. Volta percentualmente modesta, num contexto terrível, onde a extrema-direita dobrou de votação.

Para mim, brasileiro e petista, o mais importante é confirmar que a opção Sahra, além de errada, é desnecessária.

Aqui no Brasil, inclusive no PT, há muita gente querendo adotar a variante Sahra, a saber, um certo tipo de populismo, que começa na esquerda e termina sabemos onde e como.

No passado, o MR8/Hora do Povo fez isso. Hoje, há vários repetindo a operação, do PCO ao Quaquá, sem esquecer do Aldo Rebelo, que já cruzou a linha vermelha faz tempo.

O Linke demonstrou, mesmo que em pequena medida, mesmo que no terreno eleitoral, mesmo que com várias contradições e erros, que há outras maneiras de enfrentar a extrema-direita.

A respeito do tema, recomendo a leitura do texto a seguir, escrito por Claudio Bazzochi e traduzido do italiano pelo professor Marco A. da Silva (https://pagina13.org.br/todos-falam-dela/).

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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