Por Valter Pomar (*)
A imprensa divulgou (mais) uma frase lapidar do ministro da Fazenda, nosso companheiro Fernando Haddad.
Segundo Haddad, “a direita não quer pagar os impostos que deve e a esquerda não quer conter gastos. Como é que fecha as contas?”
A frase está aqui: Haddad: Direita não quer pagar imposto e esquerda não quer cortar despesa – Economia – CartaCapital
A frase é lapidar, mas só a primeira parte dela é verdadeira.
De fato, a direita não quer pagar os impostos que deve, nem os que deveria pagar.
Mas não é verdade que a esquerda não queira “conter gastos”.
Por exemplo: a esquerda defende conter os gastos derivados da taxa de juros, dos subsídios concedidos ao grande empresariado, dos altos salários e dos benefícios concedidos aos militares.
A respeito desses gastos, as propostas apresentadas por Haddad oscilam de muito tímidas a praticamente inexistentes.
Por isso, para “fechar as contas”, o peso principal das medidas propostas por Haddad recaiu sobre os “gastos” presentes e futuros com o chamado andar de baixo.
Mas como os “gastos” principais são com o andar de cima, os cortes feitos agora não serão suficientes para “fechar as contas”. Portanto, novos cortes virão, com os efeitos sociais, políticos e sobre nosso desenvolvimento futuro que só não vê quem não quer.
Além de ser parcialmente falsa, a frase lapidar de Haddad contém uma aparente incógnita. A saber: se “a esquerda não quer conter gastos”, como Haddad define a si mesmo?
A resposta, óbvio, é que a definição adotada por Haddad é uma simplificação. Não existe uma única direita, assim como não existe uma única esquerda. Existem várias.
Existe, por exemplo, uma esquerda que acredita que a saída estaria no centro. E que, por este motivo, não tem pruridos em apelar para simplificações que estigmatizam toda a esquerda.
Sem dúvida, lapidar. Autolapidar.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT