Página 13 divulga editorial do Jornal Página 13 de março, especial de Dia Internacional da Mulher, publicado em 08 de março.
Não se trata apenas de negacionismo, nem se trata apenas de incompetência. Está em um curso um genocídio deliberado. Temos um governo que desde o início da pandemia apostou na imunização de rebanho, na morte dos mais fracos, dos mais débeis, na vida em segundo lugar. E o preço que pagamos por isso são mais de 250 mil mortos (bem mais, porque todo mundo sabe que este número é subestimado). E vão morrer mais dezenas, centenas de milhares de pessoas. É um governo que está assassinando o povo.
A tragédia sanitária é acompanhada pela tragédia social, que tem no desemprego e na desassistência seus maiores vetores de sofrimento. A interrupção do auxílio emergencial contribuiu para disseminar a fome, como se percebe pelo crescente número de pessoas que pede comida nas ruas das cidades brasileiras. E a volta do auxilio emergencial – em valor menor e por menos tempo e para menos gente – está sendo acompanhada da retirada de direitos sociais. O auxilio emergencial é necessário para que milhões de pessoas não morram de fome. E para que se possa viabilizar o lockdown.
É sempre bom lembrar que a proporção de pessoas procurando trabalho e não achando, a taxa de desemprego, é de 13,9% de desempregados. Mas há cerca de 40 milhões de pessoas que deixaram de procurar trabalho, apesar de desejar fazê-lo. Ou seja: a taxa real de desemprego é muito maior.
Resumo da ópera: a crise se aprofunda, não há sinal de recuperação à vista, o ambiente geral no país é de instabilidade, crescem os conflitos entre as diferentes facções das classes dominantes. E (ainda) não existe uma mobilização popular à altura da catástrofe em marcha e as pressões em favor de um impeachment (ainda) são menores hoje do que foram no primeiro semestre de 2020.
Nesse contexto, há duas alternativas: uma alternativa é preparar 2022; a outra, a que nós defendemos, é jogar toda pressão aqui e agora, em 2021. Por vacina, por emprego, por auxílio emergencial. Mas também e principalmente por Fora Bolsonaro. Agora, já. E isso por três motivos.
O primeiro deles é que enquanto Bolsonaro estiver na presidência, continuaremos sendo bombardeados pelo vírus, pelo desemprego e pela fome, entre outras pestes.
O segundo motivo é que não podemos repetir em 2021 o erro cometido por muita gente em 2020, de achar que o crescimento das mortes por si só provocaria o desgaste ou a queda do Bolsonaro. Se não politizamos, se não mostramos que pode ser diferente, muita gente se resigna, fala que foi a vontade de Deus, naturaliza ou até mesmo coloca a culpa nos chineses, nos governadores, nos prefeitos (embora alguns governadores e prefeitos tenham sua parcela de culpa). Sem ataque na política, não tem mudança na política. Vide o que ocorreu em 2020: o fato do Bozo ter sido contra o auxílio e de tentar reduzir seu valor, não foi suficiente para fazer a esquerda capitalizar.
Mas tem um terceiro motivo. Que é de natureza político-moral, digamos assim. Estamos perdendo 2000 pessoas por dia. São 1000 a cada 12 horas. São 500 a cada 6 horas. São 250 a cada 3 horas. São 80 por hora. A questão é: o que estamos esperando para fazer algo à altura de tanta violência? Por que continuamos a nos comportar como se as coisas estivessem normais? Até quando vamos fingir que é motivo de tranquilidade o fato das “instituições” estarem “funcionando” em meio a tanta tragédia?
Enfim, não é possível manter tanta passividade, diante de tanta violência. Por isso, é preciso escalar, subir muito o tom, no discurso e na ação. No Congresso, na ação dos governadores e prefeitos, na ação dos movimentos. Temos que ampliar muito a luta pelo Fora Já! Não apenas lives, não apenas carreatas, temos que iniciar uma onda de lutas de protesto e em defesa do impeachment e intensificar muito o trabalho permanente de organização popular. Um governo de traição nacional, de morte, não pode ser reconhecido; e uma onda de lutas e paralisações em defesa da vida precisa ter início.
Lembramos que neste mês de março há duas datas importantes para nós e para a direita. A primeira é o 8 de março; aliás a boiada da Damares também está passando, vide a portaria para “rever” o Plano Nacional de Direitos Humanos – PNDH3. A segunda data é o 31 de março: nunca desde 1985 os militares tiveram tanta influência num governo como agora nem tivemos um governo que comemora a ditadura. Ao mesmo tempo, nunca tantos brasileiros morreram devido às decisões de um governo. Mesmo assim ainda tem gente entre nós que se ilude com as forças armadas.
A vacina capaz de superar a crise é a luta. Luta popular. Muita luta popular. E não é depois da vacinação. É agora. Já! Senão vai morrer muito mais gente e sabe-se lá como chegaremos, e se chegaremos, em 2022.
Por tudo isso, parte da chamada esquerda petista levou a voto, na reunião da Comissão Executiva Nacional do PT realizada no dia 5 de março de 2021, as seguintes propostas:
*Uma conferência nacional de governadores e prefeitos, para implementar um lockdown nacional e coordenar a resistência contra o governo Bolsonaro, que vem se demonstrando o maior aliado do vírus!
*Uma frente nacional pelo impeachment de Bolsonaro, com a realização de atividades em todo o país a partir de 31 de março de 2021: ditadura numa mais!
*Convocar, imediatamente, um Encontro nacional extraordinário, único espaço apropriado para definir a linha política que nosso partido deve adotar nesta conjuntura dramática que o país vive. Este Encontro Nacional Extraordinário – a ser realizado em espaço virtual, com regimento que a Executiva divulgará até o final de março de 2021 – tem como único objetivo aprovar a orientação política com a qual o Partido enfrentará o bolsonarismo e o ultraliberalismo no biênio 2021-2022.
A proposta foi recusada pela Executiva. Agora a levaremos ao Diretório Nacional.
Vivemos um momento de crise profunda, de avanço da peste, da morte, da fome e da violência. As próximas semanas serão de agravamento da crise. O principal responsável pela crise é o governo Bolsonaro. Só uma grande onda de lutas sociais reverterá a catástrofe. O êxito depende em boa medida das escolhas que venham ser feitas pelo Partido dos Trabalhadores. Sem ilusões em nenhum setor da classe dominante e de seus representantes políticos. A salvação da classe trabalhadora só pode ser obra da própria classe trabalhadora.
Os editores