Epigrafia dos casamentos eternos
Aproveitando o novo vocábulo criado pelo juiz do bem, o mal e “conge” do bem. Podemos indagar, ainda, o bem e o mal são inseparáveis? É aconselhável ler e reler a crônica e sua movediça didática. Há apenas incertezas e os patriotas brancos do bem, é claro, ao criarem uma obra, querem dizer algo com a sua criação. Não há dúvidas: o segredo da felicidade conjugal do bem e do mal está na causa e não no efeito.
Por Fausto Antonio (*)
Os iniciados, nas vertigens das motociatas, fundaram em Minas Gerais, no Vale do Jequtinhonha, uma igreja dos Patriotas do Bem. A igreja, sem armadura física, existe no relento. O bem não precisa de portas, janelas e muito menos de alicerce, paredes, teto , laje e telhado.
Patriotas de todo o país foram para lá; o objetivo era saber o porquê das resistências ao senhor do bem, que eles amavam e queriam coroar na igreja ideal do bem nacional, em Brasília. A respeito e a despeito desse mal feito do bem, num caminhão governado, um patriota modelar ou protótipo do gênero bradava benevolamente aos quatro ventos: “o bem está além e aquém do mal”.
Profundo, não pela frase lapidar, mas pela força e pela capacidade de convencer adeptos. Na dialética, o profundo tem como medida o raso, a largura e extensão não entram no círculo reflexivo por razões óbvias. Somente um patriota profundamente raso, é o caso, diz máxima tão expressiva em trânsito.
O ser do bem estava literalmente pendurado num caminhão em movimento. Poluição sonora e visual, no episódio do caminhão, são inseparáveis do amor invertido à pátria. O anjo do mal, desde sempre luciferino, quis saber se a bandeira não pesa sem aquilo que ela representa? A propósito, o anjo indagou se avatarizando numa branca patriota do bem. Não houve resposta. O silêncio ensinava que a bandeira leve, sem o povo brasileiro e o território usado, poderia enrolar corpos brancos e com o peso das nuvens. Pessoas do bem não carregam o peso do social.
O bem, associado aos brancos patriotas, precisa de uma cobertura simétrica? Uma sub-voz coletiva arguiu. Da voz coletiva, soberana, houve, é claro, silêncio. O imoral da história diz que para os patriotas do bem a bandeira é apenas a bandeira. A voz do mal, sem assento na igreja dos escolhidos, constatou que para os patriotas do bem, a bandeira é apenas pano. Relevando que o povo e o território usado pesam ou são coisas do mal, o anjo do bem, com a certeza da vitória, desfez num sopro a igreja do bem.
A igreja do bem existe no interior de cada criatura; matracou uma voz imemorial. Assim que foram desfeitas a matociata do bem e sua igreja, o mal fez a sua com alicerce, paredes, cobertura e deixou a porta bem aberta.
Pensou, certamente, quem sabe o povo entre e goste. O anjo do mal não deu um sopro; a obra foi feita com muitos braços e Vales do Jequtinhonha. Assim o mal venceu o bem. Mas os olhos de cobiça do bem nunca se saciam de ver o rei da motociata coroado, nem os ouvidos de escutar aquela voz coletiva do bem acima do bem e ao lado e com os golpes.
Assim, as motociatas do bem circularam pelo norte, depois foram para o sul, centro oeste e nordeste; deram voltas pelo país e chegaram a Brasília no dia 08 de janeiro de 2023. Chegaram ao ponto de partida e sem cansaço, afinal carregavam apenas o bem nas costas.
Todos os patriotas do bem correram para Brasília; contudo, Brasília nunca se saciou do bem; ainda que sempre se dirijam para Brasília, para lá voltam a bem do golpe anunciado pelo bem e, a contrapelo, pelo mal desfeito. Amém disse solenemente o anjo do bem; assim será repetiu o anjo do mal, só assim os incrédulos patriotas brancos perceberam que o mal e o bem atuavam na mesma igreja.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab – Bahia
Respostas de 3
PARABÉNS Fausto! Crônica instigante e desafiadora, dos usos arbitrários e aleatórios dos conceitos – no fundo, puras conveniências desdenhando o que não respaldo racismo, elitismo, grupismo, vantagens!!!
Valeu Mermão!!!
Alguns/umas desses/as são tão justos/as, que já não incluíram para não ter que excluir depois reparem bem a foto e vão perceber do que estou falando.
Realmente o povo brasileiro em vários momentos são muitos raso.
Belíssima crônica, onde dualidades e sutis ironias dão uma clara visão desses chamados movimentos “patetrioticos” inundaram nossa pátria! Abs