Chapa Esperança e Renovação inspira resistência e denuncia os limites do PED
Por Jefferson Manhães de Azevedo, Gilberto Azeredo Gomes, Elaine Leão, Décio Nascimento Guimarães e Raul Palácio (*)
Texto publicado na edição 283 do jornal Página 13
No último Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores em Campos dos Goytacazes, a militância petista acompanhou uma disputa acirrada, marcada pelo entusiasmo democrático de quem acredita na renovação de um partido que, há tempos, vem se afastando do cotidiano das lutas, angústias e esperanças do povo campista. Mas também foi um processo que expôs, de forma contundente, as graves distorções que ameaçam corroer a ética interna e enfraquecer o PT como instrumento de transformação social.
A chapa Esperança e Renovação, liderada pelo Professor Jefferson, reuniu inúmeras lideranças — muitas delas com trajetória destacada nas últimas eleições municipais — e obteve uma votação expressiva, superando inclusive números de pleitos anteriores. Mais importante do que os votos, porém, foi o resgate de quadros históricos afastados há anos do cotidiano partidário devido ao esvaziamento dos espaços de decisão coletiva, resultado de uma dinâmica burocratizada, por vezes distante das causas populares. A chapa 620 simbolizou a política construída com diálogo, base social e coerência programática. Conseguiu unificar a esquerda petista em Campos reunindo companheiros da Democracia Socialista (DS), da Articulação de Esquerda (AE) e militantes independentes, provando que ainda é possível sonhar e lutar juntos.
Infelizmente, essa mobilização foi manchada por denúncias graves, que colocam em xeque a credibilidade do PED. Ficou evidente o uso de práticas que ferem os princípios mais elementares da democracia interna. Práticas comuns na política tradicional, mas que jamais deveriam contaminar o Partido dos Trabalhadores, sobretudo quando reproduzem métodos do Centrão e da extrema-direita, setores que combatemos justamente por corroerem a democracia com o abuso de poder econômico e a fraude do voto consciente.
Essas práticas, em vez de fortalecerem o PT, minam sua coerência e afastam a militância, além de desestimular novos filiados. Quando o Partido tolera tais distorções, deixa de ser exemplo para a sociedade e perde força moral para criticar as velhas práticas políticas. É urgente afirmar: ou o PT se mantém como referência ética para o povo brasileiro, ou se arrisca a ser mais um partido igual aos outros — algo que jamais poderemos aceitar.
Por isso, a chapa Esperança e Renovação apresentou recurso aos diretórios estadual e nacional, complementado por provas robustas que demonstram, sem margem para dúvidas, o abuso de poder econômico e a violação do estatuto. Essa ação é mais que um protesto: é uma defesa da história do PT como instrumento de organização popular, educação política e mobilização transformadora.
O PED deveria ser um processo pedagógico, de formação e exercício democrático, que ensina a militância o valor da disputa limpa, da igualdade de condições e do respeito à vontade da base. Deveria ser um contraponto aos métodos oligárquicos de partidos que têm donos e coronéis. Quando o PED falha em cumprir esse papel, precisa ser revisto. O modelo atual está esgotado. É preciso coragem para reconhecer isso e iniciar uma reforma profunda, que recoloque o Partido no rumo de suas origens: democrático, participativo, popular e ético.
Apesar dos ataques e manobras, é essencial celebrar o compromisso e a coragem da militância que não se calou. A dedicação incansável dos companheiros da chapa 620 — em especial da Articulação de Esquerda, que alcançou resultado recorde com a candidatura do companheiro Valter Pomar e da chapa Em Tempos de Guerra, a Esperança é Vermelha — demonstra que há força para resistir e reconstruir. O mesmo vale para os militantes da Democracia Socialista e os independentes, que se somaram com honestidade e coerência, ampliando a participação e dando novo fôlego à luta por um PT de base e de massas em Campos.
Este processo, que seguirá sendo debatido nos recursos e instâncias partidárias, precisa servir de alerta e inspiração. Denunciar o que está errado é também acreditar que é possível corrigir, renovar e avançar. Nossa história é feita de quem ousou enfrentar o poder estabelecido em nome da coerência, da democracia e de uma sociedade mais justa.
Que o exemplo de Campos inspire cada militante petista a não se calar diante das distorções que ameaçam o Partido. O PT deve ser espelho da sociedade que quer construir: justa, igualitária, democrática e livre de qualquer privilégio que nos diminua e nos afasta. Para isso, precisa romper de uma vez por todas com as velhas práticas — internas e externas. Essa é a nossa responsabilidade, essa é a nossa esperança.
(*) Jefferson Manhães de Azevedo, Gilberto Azeredo Gomes, Elaine Leão, Décio Nascimento Guimarães e Raul Palácio são militantes do PT em Campos de Goytacazes (RJ).