A maioria do diretório nacional do PT exclui os corajosos e premia os covardes

Por Matheus Firmino (*)

Luciano Cartaxo

Em reunião do Diretório Nacional do PT, ontem (16), foi aprovada uma nova filiação de Luciano Cartaxo, ex-prefeito da capital da Paraíba (Ex-PC do B, ex-PT, ex-PSD e agora ex-PV), nos quadros do partido, sem qualquer debate com os filiados da Paraíba. A determinação veio de cima para baixo.

Não há dúvidas de que esse retorno é no mínimo constrangedor para quem é simpático ao PT e vergonhoso para quem é filiado e militante do partido no estado, em especial na capital paraibana. Luciano Cartaxo hoje é reconhecido por vários adjetivos, que não são tão bons para o currículo de qualquer um, e, em seu retorno, ele terá muita dificuldade em perder tais “títulos”.  Como entender isso?

No histórico de Cartaxo não constam muitos  momentos de coragem na política, vejamos:

1 – Em 2004, a candidatura de Ricardo Coutinho para prefeito da capital surgiu de seu rompimento com o PT e a candidatura de Avenzoar Arruda, pelo PT, manteve-se com a militância nas ruas, porém o vereador eleito, Luciano Cartaxo, não demonstrou muito empenho no intento de eleger seu companheiro de partido. Ricardo Coutinho foi eleito e adivinhem quem foi escolhido para ser líder do seu primeiro governo na Câmara Municipal? Isso mesmo, Cartaxo.

2 – Em 2010/2011, com Cartaxo agora eleito deputado estadual, a militância do PT, que propunha um partido mais forte e protagonista, lutou arduamente para que houvesse uma candidatura própria do PT, tirando assim o PT das sombras do governo Ricardo Coutinho (PSB) que lutava por manter a estrela sob os pés dos girassóis. Em um amplo debate interno, foi criado um movimento chamado “Agora é a vez do PT”, visando construir a candidatura própria em João Pessoa.

Enquanto isso, o PSB tinha duas grandes máquinas: o governo do estado e a prefeitura da capital e, com elas, operou como podia e como não podia para derrotar o movimento de candidatura própria do PT. Houve de tudo, inclusive as práticas mais clientelistas das eleições gerais. Porém, no encontro, 110 delegados votaram a favor da candidatura própria, contra 90 a favor de aliança com o PSB. FESTA!

O PT provava em 2012 que sua militância tinha força para derrotar duas máquinas e conduzir o partido. Em meio a esse amplo debate em plenárias e votações, quem venceu foi a militância do PT e o nome escolhido para representar esse momento histórico foi  o de Cartaxo. Por quê? Dentre os nomes em evidência, o de Luis Couto era ricardista demais, os de Anísio Maia e Frei Anastácio eram à esquerda demais e o que não tinha posição firme sobre nada era o de Cartaxo, assim poderia formar um arco de alianças mais amplo. Logo, foi o escolhido pela falta de coragem de tomar posição, quase o típico “nem sou de esquerda, nem de direita”.

3 – Em 2014, o Movimento por uma nova Constituinte, prevendo a corrosão das bases democráticas da Constituição de 1988, propôs um manifesto em defesa de uma nova constituinte a ser assinado por líderes políticos. Em treze de novembro DAQUELE ano, o Movimento fez um ato no Lyceu paraibano e convidou o Governador Ricardo Coutinho e o então prefeito Luciano. Cartaxo protagonizou uma das cenas mais deprimentes da época. Ficou em um carro estacionado nas proximidades esperando a confirmação de que RC assinaria o manifesto. Pois não assinou, só preocupado com a repercussão desse ato. Faltou-lhe coragem.

4 – Em setembro de 2015, no auge do seu primeiro governo, executando centenas de obras e políticas em que os Governo Lula e Dilma implantaram por todo o país, Luciano Cartaxo a fim de não sofrer com os impactos midiáticos e persecutórios do Estado de Exceção que a Presidenta Dilma, Lula e o PT vinham sofrendo, para proteger seu nome e de sua gestão cada dia mais familiar e tradicional, Cartaxo dá “direita volver”. Convoca todo seu secretariado e parentes, que foram sem sequer saber o que estava ocorrendo, para uma coletiva de imprensa e anuncia que está saindo do PT. Disse que “para não prejudicar o nosso povo (família)” “e [que] outra razão são os escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores”. Cartaxo saiu do PT chamando o partido de corrupto e hoje, com Lula inocentado e a constatação de que o impeachment foi um golpe, para Cartaxo, o PT ainda é corrupto

5 – Nas eleições de 2018, Cartaxo foi reconhecido novamente como o “político sem posição” na disputa presidencial mais importante das últimas décadas, com o principal candidato preso (politicamente) em Curitiba, para facilitar a ascensão de Bolsonaro, e o PT, Haddad, Manuela D’ávila com o povo nas ruas lutando contra a eleição do governo fascista, Luciano Cartaxo não declara apoio a nenhum dos lados, constrangendo assessores que declararam apoio a Haddad. Há relatos de que em reuniões muito restritas pediu voto para Bolsonaro, com a justificativa de que Ricardo Coutinho sairia fragilizado com o resultado favorável ao 17. Faltou-lhe coragem, sobrou cinismo.

Esses são apenas alguns pontos que demonstram o porquê dos “bons” adjetivos direcionados a Cartaxo, poderíamos recordar tantos outros, mas esses são suficientes para se entender seu histórico curricular na política.

Agora, acovardado, constrangido e com medo da militância e dos dirigentes estaduais do PT, Cartaxo recorre à Direção Nacional do PT para se filiar novamente. Sabe que nas instâncias estaduais do partido seu nome jamais seria aprovado e que a única pessoa que o apoiaria aqui em baixo é o atual presidente estadual do PT, Jackson Macedo.

Uma coisa é certa, Coragem, o cão covarde é muito mais corajoso que Cartaxo.

Para que não se “passe batido”, ainda é preciso fazer uma avaliação do capital político que Luciano tenta vender. Há um ditado na política contemporânea da capital que diz “os Cartaxos não conseguem ir além da ponte do Rio Paraíba”, esse ditado sintetiza a fraqueza política de Cartaxo, de sua família e de seu grupo (conhecido como cartaxolândia). Vereador da capital, deputado estadual, prefeito da capital por oito anos, ele nunca conseguiu eleger um parente ou aliado para deputado estadual, um vereador sequer, nem de longe conseguiu eleger sua sucessora que passou longe das chances de ir ao segundo turno, com apenas 12,93% dos votos; hoje há sérias dúvidas se o próprio se elege síndico do seu condomínio.

Não há, então, o que Cartaxo oferecer ao PT, nem coragem e nem capital político. O que Cartaxo realmente quer é se beneficiar da onda chamada Lula que deu a volta por cima da Lava-Jato e hoje está cotado para vencer as eleições presidenciais no primeiro turno. O capital político de Lula é tão grande que as migalhas interessam a muita gente ao ponto de alguns voltarem para o partido que chamou de corrupto.

Diante de tudo isto, há uma pergunta que o PT Nacional precisa responder: se os que se acovardaram no momento mais crítico para o PT são premiados novamente com uma carteirinha de filiação carimbada com um perdão, porque os que resistiram nas ruas, lutaram contra o golpe e pela liberdade de Lula e nas últimas eleições propuseram uma candidatura própria para enfrentar o bolsonarismo na cidade estão sendo processados e ameaçados de expulsão? O PT deve uma resposta aos militantes e eleitores.

(*) Matheus Firmino é sociólogo e militante do PT

 

 

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