A situação política-eleitoral no Rio Grande do Sul

Por Página 13 (*)

Entre os dias 30/7 a 2/8, os integrantes do Diretório Nacional do PT Patrick Araújo, Natália Sena e Valter Pomar estiveram no RS para acompanhar o congresso estadual (presencial) da tendência petista Articulação de Esquerda, além de realizar outras conversas com dirigentes do PT gaúcho.

A partir de relatos e informes prestados pelos companheiros, o Página 13 traça um panorama da situação eleitoral no estado e as alternativas ao Partido dos Trabalhadores.

A tendência é que o quadro eleitoral no RS em 2022 será melhor para o PT do que foi em 2018.

O atual governador tende a não ser candidato à reeleição, mesmo que não venha a ser candidato à presidente. Mas a força da direita em geral, em particular do bolsonarismo radical no estado não deve ser subestimada, contando com nomes como os do senador Luiz Carlos Heinze e de Onyx.

De outro lado, o PT tem uma forte presença política organizada no estado e um eleitorado histórico que – supondo o cenário nacional de Lula candidato à presidência – permite levar nossa candidatura a governador ao segundo turno.

O principal ponto débil é o principal ponto de força do inimigo: o atual governador aplica um programa neoliberal muito duro e a oposição a isto é inferior à necessária.

Neste sentido, o resultado eleitoral depende e muito da mobilização mais forte que o PT faça deste já. Também por isto seria um erro adiar as definições de tática eleitoral – inclusive sobre a candidatura a governador – uma vez que contribuiria para deixar as coisas como estão, o que favorece o atual governador e as forças que o apoiam ou que podem vir a ter o seu apoio.

Embora antecipar a tática eleitoral seja consenso na direção estadual do PT, alguns dirigentes nacionais do Partido dizem que antecipar a pré-campanha reduziria nosso leque de alianças potencial. Isto parece ser verdade, mas a situação é um pouco mais complicada.

As alianças do PT para governador do RS no primeiro turno dependem em parte do cenário nacional e em parte do cenário estadual. A preços de hoje, é possível construir uma aliança com o PCdoB e com o PSOL – isto, é claro, supondo que nestes partidos não apareça algum obstáculo nacional a esta aliança.

No caso dos socialistas do PSB, integram o governo tucano e têm a decisão de participar com destaque em chapa majoritária (governador mas especialmente senador), provavelmente com Beto Albuquerque.

E no caso do PDT a situação estadual também é complicada. O PDT-RS, a princípio, é um dos diretórios que tem maior compromisso com a candidatura do Ciro. É presidido pelo deputado federal Pompeo de Mattos e quer lançar a governador o Romildo Bolzan, ex-prefeito de Osório e atual presidente do Grêmio.

Por mais inusitado que pareça uma das dificuldades dele é exatamente esse ponto. O time vai mal e a popularidade dele como dirigente esportivo é sensível a esse humor. Também por isso, ele tem dificuldades de se movimentar mais abertamente antes de janeiro de 2022 (isso se ele decidir mesmo abandonar a presidência do clube).

Outra dificuldade do PDT é que, atualmente, a capilaridade estadual deste partido é inferior ao PT, o que quer dizer que poderia até “arrancar” melhor, mas teria mais dificuldades de chegar. Vale lembrar que o ex-petista Jairo Jorge não é mais do PDT desde 2019. Disputou ano passado a prefeitura de Canoas pelo PSD.

Portanto, há duas possibilidades realistas: a) ou apostar desde já todas as fichas na mobilização e articular desde já uma candidatura própria do PT, tendo como meta realista a busca pela aliança com PCdoB e PSOL; b) ou aguardar que o PSB e o PDT definam suas táticas nacionais e estaduais e, a depender do que ocorra, tentar uma aliança com estes partidos em âmbito estadual.

Detalhe importante: esta aliança estadual com PSB e com PDT, se existir, muito dificilmente será em torno de um nome petista. Portanto, a tática do “aguardar as definições nacionais dos outros partidos” teria como suposta consequência prática positiva – isso se tudo correr bem – uma candidatura de outro partido que também hipoteticamente teria maior chance de vitória no segundo turno.

Mas no cenário mais provável, a tática do “aguardar as definições nacionais” teria como consequência prática – se a aliança não sair e o PT tiver que ir para candidatura própria – uma chance menor da candidatura petista de ir para o segundo turno e menor ainda de vencer no segundo turno, pois esta candidatura não teria tempo para fazer a campanha necessária, nem contribuiria para a mobilização necessária contra o governo tucano. Como já foi dito, uma pré-candidatura será fundamental para tirar o partido da situação atual, de oposição de baixa intensidade.

Há dirigentes nacionais do PT que argumentam que antecipar a decisão estadual impactaria negativamente a campanha nacional. Esta opinião pressupõe o seguinte:  se o PT fechar as portas para apoiar a candidatura a governador do PSB e/ou do PDT, será menor a chance destes partidos, ou de um deles, vir a apoiar a candidatura Lula.

No entanto, há que se considerar que as chances de o PDT estar com o PT nacionalmente são pequenas e que, além disso, não passam principalmente pelo apoio do PT à cabeça de chapa no RS. Já as chances de o PSB estar conosco nacionalmente são maiores, mas estas chances dependem principalmente de nossa tática eleitoral em Pernambuco, não no Rio Grande do Sul.

A dinâmica do PCdoB caminha para uma aliança com o PT, com ou sem PSB e PDT. Por outro lado, se o PT abrir mão de cabeça de chapa, é pouco provável uma aliança de primeiro turno com o PSOL para governador.

Qual o papel real que o nome de nossa candidatura tem nessas definições sobre lançar já ou aguardar? Em resumo: não é a candidatura de fulano ou de beltrano que pesa na definição dos partidos, isto porque os nomes do PT têm um desempenho eleitoral semelhante. Sendo assim a decisão real é escolher lançar já ou aguardar.

Se a decisão for lançar já, a escolha que a direção estadual do PT RS fez está de ótimo tamanho e permite ao partido se movimentar, tanto em favor da candidatura estadual quanto em favor da candidatura nacional. Neste sentido, a opção da direção estadual do PT pelo nome do Edegar Pretto faz todo sentido.

(*) redacao@pagina13.org.br

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