A TV Matracas é uma rede de comunicação antirracismo

Epigrafia da matraca ou como ocupo o corpo negro

Como ocupo o corpo negro,

Não deixo branco no texto,

Nem o bronco branco vazio,

Como ocupo o corpo negro.

 

Como negro ocupo o branco,

Como negro ocupa o corpo.

Como negro ocupo o negro;

Ocupo, como ocupa o negro,

 

o branco como o corpo negro

ocupa o negro, como negro,

o negro ocupa o corpo negro,

 

como o samba ocupa o corpo,

o negro ocupa o negro e, o negro,

como negro, ocupa o branco.

Poema de  Fausto Antonio

 

Por Fausto Antonio (*)

A TV Matracas tem dois anos de existência. A sua programação abarca programas dirigidos por articulistas, homens e mulheres, brasileiros, angolanos, cabo – verdianos, guineenses, moçambicanos e santomenses.   Os países referidos são falantes oficiais da língua portuguesa e, no mesmo fecho histórico e territorial, negritam a relação da África com a Diáspora. Considerando a totalidade africana e diaspórica, a programação da TV Matracas é realizada por intervenções enunciadas pela língua portuguesa e igualmente por línguas maternas e afetivas estabilizadas pelos lugares africanos; são exemplares os programas Hora de Bai e Bantaba, que são apresentados respectivamente pelos crioulos e/ou pelas línguas cabo-verdiana e guineense.

O objetivo da TV Matracas é encruzilhar, numa grade e com linha editorial antirracismo, anticapitalismo e anti-imperialismo, programas existentes e dispersos nos meios informacionais e novos em concordância com o escopo exposto pela linha editorial da TV Matracas.   O projeto pretende uma interlocução encruzilhada com autorias e coautorias (recepções) negras, negro-africanas e/ou empatizadas com a superação do racismo. Não é restrito a negros e negras. Numa síntese, é um espaço autoral negro dirigido à sociedade brasileira e global. A TV Matracas desnaturaliza a recepção universal (universalizante) branca. Autorias negras e coautorias negras (a chamada recepção) incluem toda a sociedade brasileira e o mundo.

O antirracismo, campo no qual há o encontro de negros (as), brancos (as), amarelos (as) e indígenas, é parte constitutiva da recepção idealizada pelas autorias negras e negro-africanas.  A atuação de modo encruzilhado, além do exercício meramente informativo existente nos meios informacionais e nas suas plataformas, é garantir um processo efetivo de comunicação, solidariedade e comprometimento com a superação do racismo persistente nas estruturas e nos sistemas de informação.

A programação da Rede TV Matracas está alicerçada nos lugares brasileiros e dos países africanos que falam oficialmente a língua portuguesa e igualmente as línguas dos lugares e dos países africanos, a propósito, há os programas veiculados pelas línguas cabo-verdiana e guineense, que são também compreendidas como crioulos de Cabo Verde e da Guiné Bissau.

Estrategicamente a Matracas é parte do movimento negro brasileiro e diaspórico. Do ponto de vista tático, conjuntural, é projeto de extensão da Unilab, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira. A programação da Rede Matracas, é produtiva a retomada,  conta com autorias de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé  e Príncipe e, na mesma margem de interlocução, a TV Matracas conta com coautorias e/ou recepções negras, negro-africanas e/ou empatizadas com a negrura e o antirracismo, categorias que incluem a sociedade brasileira mais ampla ,  o mundo e o matracar  negro- africano com e para o mundo.

(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab- Bahia

 

 

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