Por Adriano Pires (*)
O Diretório Estadual do PT/RS se reuniu, neste sábado (04/03), para avaliar os primeiros 60 dias do Governo Lula, para afirmar a oposição popular e de esquerda ao Governo Leite e, também, para eleger a nova Presidenta do PT para o período de 2023 até 2025.
Em 2019 percorremos este estado dialogando com a base partidária na construção da nossa política no PED. Nossa chapa e tese Em Tempos de Guerra a Esperança é Vermelha defendia um PT de anos ímpares e não somente de eleições, o fortalecimento da construção partidária de forma permanente e com dedicação dos quadros dirigentes e apontando os desafios de retomarmos a referência política na classe trabalhadora, brutalmente alterada pelo capitalismo e hoje ainda mais degradada pela herança do bolsonarismo e as destruições dos nossos direitos. No segundo turno do Congresso Estadual do PT daquele ano, acabamos por definir em apoiar Paulo Pimenta presidente, figura que se apresentou na véspera do PED, despencando da disputa nacional pelo PT e que só foi eleito presidente porque obteve nosso apoio.
Foi conectada com aquela base programática do PED de 2019, que apresentamos no Diretório de sábado o nome da 1ª Vice-presidenta do PT/RS, Ana Affonso, para assumir a Presidência do PT, em substituição ao companheiro e Ministro da SECOM Paulo Pimenta, que renunciou ao cargo. E, neste caso, o estatuto partidário prevê uma eleição entre os membros do diretório de um substituto. Tivemos o apoio das tendências Democracia Socialista, Esquerda Democrática, Polo de Esquerda e parte da Construindo um Novo Brasil.
A outra candidatura foi da companheira Juçara Dutra, da tendência Socialismo em Construção, com o apoio do Avante, Construindo um Novo Brasil e do Diálogo de Ação Petista (O Trabalho). Com um discurso de manutenção da política em curso na direção partidária, estranhamos a aproximação de Pimenta junto ao campo majoritário nacional do Partido, tanto na composição do governo Lula como na política interna do PT, que adiou o PED para 2025, tirando da base o direito de escolha para as novas direções nos estados e em nível nacional.
Cabe destacar que o PT gaúcho nunca foi dirigido pelo grupo do atual campo majoritário em nível nacional, que desde 1995 vem rebaixando nosso horizonte programático e estratégico, que prioriza quase que exclusivamente o calendário eleitoral e dá pouca atenção à organização e à mobilização popular, abandonando a perpespectiva dos núcleos e do trabalho de base, e adotando uma linha política, na maior parte do tempo, que não se articula devidamente com as lutas dos movimentos populares.
Voltando à reunião do diretório estadual. Depois dos debates de conjuntura e da renúncia do presidente Pimenta, Juçara venceu por 31 a 29 votos para presidir o PT/RS até 2025. Nos preocupa para o próximo período, a postura desta maioria constituída diante da necessidade que temos de sustentar o nosso governo Lula, de enfrentar o neofascismo enraizado neste território, da oposição combativa que precisamos fazer frente ao governo Leite, de ampliar a organização partidária nos municípios para as eleições de 2024 e de um calendário de lutas com os movimentos populares.
Está evidente que precisamos preparar o PT para o bom combate nas eleições de 2024, onde deveremos, em conjunto com a Frente Brasil da Esperança e a Frente Povo Sem Medo, retomar a esperança do povo gaúcho. Precisamos retomar o projeto popular em todos os cantos desse estado, inclusive retomando a capital gaúcha, que já foi referência no orçamento participativo e nas políticas públicas para o povo trabalhador. Precisamos refletir as lutas populares das mulheres, dos negros e negras, das juventudes, dos LGBTs e de toda a classe trabalhadora gaúcha para dentro das trincheiras do nosso Partido.
Por isso, acertamos em colocar o debate político feito no Diretório Estadual, no mínimo restou constrangimento aos que achavam que tudo estava dado, sendo um Partido sem debate político, sem posição e virtual. Foi um resultado apertado, e não consideremos uma derrota, ao contrário, a tarefa que desempenhamos foi de altíssima coragem da nossa militância. É para isso que existem esses processos, para afirmar muitas vezes o que deveria ser óbvio, e precisa ser dito, o PT está desafiado a se atualizar programaticamente, superar suas lógicas culturais de tomar decisões importantes sem o devido aprofundamento das dificuldades que enfrenta e superando suas próprias contradições.
No mais, sigamos com a legitimidade e a disposição para dar consequência a política que construímos até aqui, para garantir que o PT/RS siga sendo referência como sempre foi em nível nacional, contraponto à lógica majoritária e se preparando em 2023 para as disputas de 2024 e a construção das tarefas de 2025 rumo à retomada do Piratini em 2026, com mais formação política para enfrentar a disputa ideológica, com mais elaboração teórica, com mais vida real na base, mais organização e principalmente com o respeito a pluralidade interna.
(*) Adriano Pires é militante petista no Rio Grande do Sul e membro da Direção da AE São Leopoldo