Balanço das eleições 2022 no Rio de Janeiro

Por Articulação de Esquerda do Rio de Janeiro

Os resultados das eleições do Rio de Janeiro demonstram aspectos contraditórios. Assistimos de um lado o fortalecimento do PT e da esquerda nos parlamentos, e de outro a força da extrema direita no estado.

O PT-RJ apresentou um crescimento extraordinário nos parlamentos, de uma deputada federal passará a ter cinco, e de dois deputados estaduais passará a ter sete. Não é pouca coisa uma das principais figuras pública do estado de resistência ao golpe e de oposição ao bolsonarismo, Lindbergh Farias, ser o mais votado do PT e o oitavo mais votado do estado. Assim como é inédito a eleição da primeira mulher sem terra para a Alerj, Marina do MST.

Na eleição presidencial Bolsonaro obteve 51,09% e Lula 40,68% no primeiro turno. Essa diferença cresceu no segundo turno para 13,06%, Bolsonaro com 56,53% e Lula 43,47%, e o crescimento de Bolsonaro não foi maior porque a militância não saiu das ruas, mesmo com as dificuldades para receber material de campanha. O governador Claudio Castro foi reeleito no primeiro turno com 58,67% dos votos, e no segundo turno foi um cabo eleitoral atuante pró Bolsonaro, ligando para prefeitos e presente nos palanques de campanha.

Maiores Colégios Eleitorais

Capital:

Lula 43,47 – 47,34 (+ 3,87)

Bolsonaro 47 – 52,66 (+ 5,66)

 

Duque de Caxias:

Lula 40,1 – 41,7 (+ 1,6)

Bolsonaro 53,18 – 58,31 (+ 5,13)

 

São Gonçalo:

Lula 42,4 – 44,58 (+ 2,18)

Bolsonaro 50,09 – 55,42 (+ 5,33)

 

Nova Iguaçu:

Lula 35,8 – 37,03 (+ 1,23)

Bolsonaro 52,27 – 63,00 (+ 10,73)

 

Niterói:

Lula 46,56 – 51,21 (+ 4,65)

Bolsonaro 42,9 – 48,8 (+ 5,9)

 

São Joao de Meriti:

Lula 38,93 – 39,96 (+ 1,03)

Bolsonaro 54,3 – 60,00 (+ 14,03)

 

Campos:

Lula 34,16 – 36,86 (+ 2,7)

Bolsonaro 58,01 – 63,14 (+ 5,13)

 

Belford Roxo:

Lula 38,9 – 39,8 (+ 0,9)

Bolsonaro 54,8 – 60,2 (+ 5,4)

 

Petrópolis:

Lula 34 – 37,75 (+ 3,75)

Bolsonaro 55,23 – 62,25 (+ 7,02)

 

Volta Redonda:

Lula 44,54 – 47,12 (+ 2,58)

Bolsonaro 47,14 – 52,88 (+ 5,74)

Eduardo Paes/PSD, prefeito da capital, e Waguinho/União Brasil, prefeito de Belford Roxo, foram importantes apoios no segundo turno, contribuindo para que a derrota no RJ não fosse maior. A entrada de Waguinho na campanha tem sido argumento de setores do PT-RJ para defender as alianças estabelecidas em 2020 com a extrema direita, neoliberais e oportunistas. Tal argumento omite que desde 2020 se fez alianças formais e informais com Claudio Castro (governador), Washington Reis (prefeito de Duque de Caxias), Marcelo Delaroli (prefeito de Itaboraí), Rogério Lisboa (prefeito de Nova Iguaçu). Nenhum destes apoiou Lula, portanto, Waguinho é a exceção de uma política desastrosa, que fortalece os inimigos, enfraquece e humilha a militância do PT.

O PT-RJ acertou ao construir uma frente do campo progressista para a disputa ao governo estadual com Marcelo Freixo, reunindo PT, PSB, PCdoB, PV, Psol, PV e Rede. Posteriormente esta frente se ampliou com a entrada da federação PSDB/Cidadania. As pesquisas indicavam a possibilidade de 2º turno entre o candidato de Bolsonaro, o governador Claudio Castro/PL, e Freixo/PSB, candidato de Lula. No sábado 01/10, véspera do primeiro turno, o Datafolha indicava 44% dos votos válidos para Castro, 35% para Freixo e 10% para Rodrigo Neves/PDT. Paulo Ganime (Novo), com 4%, Wilson Witzel (PMB), Eduardo Serra (PCB) e Juliete (UP), todos com 2%, e Cyro Garcia (PSTU) e Luiz Eugênio (PCO), com 1%. O Ipec (ex-Ibope) apontava Castro com 47%, Freixo 28% e Neves com 11%.

O desempenho de Claudio Castro surpreendeu ao obter 58,67% (4.930.288 votos), seguindo por Freixo com 27,38% (2.300.980 votos). Rodrigo Neves recebeu 8% (672.291 votos), Ganime 5,31%, Juliete 0,33%, Cyro Garcia 0,15% Serra 0,13%. Interessante comparar com os resultados do primeiro turno de 2018, quando Wilson Witzel/PSC obteve 41,28% (3.154.771 votos), Eduardo Paes/DEM 19,56% (1.494.831 votos), Tarcísio/Psol 10,72% (819.248 votos), Romário/Podemos 8,7% (664.511 votos), Pedro Fernandes 6,11% (466.954 votos), Índio da Costa/PSD 5,95% (454.928 votos), Marcia Tiburi/PT 5,85% (447.376 votos), Marcelo Trindade/Novo 1,14% (86.820 votos), André Monteiro/PRTB 0,46% (35.237 votos), Dayse/PSTU (17.499 votos).

Observamos que em 2018, o segundo colocado, Eduardo Paes, foi para o segundo turno com 1.494.831 votos, 19,56% dos votos válidos. Em 2022 Freixo obteve 2.300.980 votos, representando 27,38%. A campanha de Freixo apresentou insuficiências, equívocos e contradições, como uma tentativa errática de se distanciar de sua identidade política, limitada construção coletiva, excesso da abordagem da temática da corrupção. Cabe observar que parte da esquerda não fez a campanha da frente progressista, flertando desde a pré-campanha com Claudio Castro. Estas questões foram a razão principal para a derrota no primeiro turno? A comparação dos números e candidaturas de 2018 e 2022 sugere que não, reforçado pelas condições materiais e institucionais da disputa no Rio de Janeiro.

Na eleição do senado tivemos uma fragmentação de candidaturas: Romário/PL 2.384.331 votos (29,19%), Molon/PSB 1.731.786 votos (21,2%), Daniel Silveira/PTB 1.566.352 votos (19,18%), Clarice Garotinho/União 1.145.413 votos (14,02%), André Ceciliano 986.676 votos (12,08%), Cabo Daciolo 285.037 votos (3,49%), Itagiba/Avante 18.224 votos (0,22%), Barbara/PSTU 18.222 votos (0,22%), Sued/MDB 11.933 votos (0,15%). As candidaturas dos partidos UP, PCB e PCO somados não representaram 0,5%.

Diferente da disputa ao governo estadual, a disputa do Senado teve três fortes candidaturas do campo bolsonarista (Romário, Daniel e Clarice), portanto, uma divisão que apresentava boas perspectivas de vitória eleitoral para o campo progressista. Os números finais de Molon e André reforçam tal perspectiva. Infelizmente a falta de unidade tornou a participação da esquerda na eleição ao Senado uma marcação de posição e disputa interna.

Após as eleições a prioridade do PT, dos movimentos sociais, do governo e mandatos deve ser manter e intensificar a disputa da sociedade. A extrema direita já mostrou que não dará trégua na luta social, ideológica, institucional. O papel do PT e dos movimentos sociais populares é avançar na mobilização e organização da população para aumento da influência dos valores e princípios de esquerda, componente central para a sustentação do governo Lula e as mudanças democrático-populares.

Orientamos a militância da AE a propor aos núcleos de base, Diretórios Zonais e Municipais o início de campanha de abaixo-assinado por recursos no orçamento da União para (i) os remédios da Farmácia Popular; (ii) manutenção dos 600,00 para o bolsa-família e (iii) o reajuste do salário-mínimo. Denunciando, inclusive, a mentira de Bolsonaro. Instrumento para trabalho de base.

Tendência petista Articulação de Esquerda do Rio de Janeiro

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