Por Articulação de Esquerda do Rio de Janeiro
Os resultados das eleições do Rio de Janeiro demonstram aspectos contraditórios. Assistimos de um lado o fortalecimento do PT e da esquerda nos parlamentos, e de outro a força da extrema direita no estado.
O PT-RJ apresentou um crescimento extraordinário nos parlamentos, de uma deputada federal passará a ter cinco, e de dois deputados estaduais passará a ter sete. Não é pouca coisa uma das principais figuras pública do estado de resistência ao golpe e de oposição ao bolsonarismo, Lindbergh Farias, ser o mais votado do PT e o oitavo mais votado do estado. Assim como é inédito a eleição da primeira mulher sem terra para a Alerj, Marina do MST.
Na eleição presidencial Bolsonaro obteve 51,09% e Lula 40,68% no primeiro turno. Essa diferença cresceu no segundo turno para 13,06%, Bolsonaro com 56,53% e Lula 43,47%, e o crescimento de Bolsonaro não foi maior porque a militância não saiu das ruas, mesmo com as dificuldades para receber material de campanha. O governador Claudio Castro foi reeleito no primeiro turno com 58,67% dos votos, e no segundo turno foi um cabo eleitoral atuante pró Bolsonaro, ligando para prefeitos e presente nos palanques de campanha.
Maiores Colégios Eleitorais
Capital:
Lula 43,47 – 47,34 (+ 3,87)
Bolsonaro 47 – 52,66 (+ 5,66)
Duque de Caxias:
Lula 40,1 – 41,7 (+ 1,6)
Bolsonaro 53,18 – 58,31 (+ 5,13)
São Gonçalo:
Lula 42,4 – 44,58 (+ 2,18)
Bolsonaro 50,09 – 55,42 (+ 5,33)
Nova Iguaçu:
Lula 35,8 – 37,03 (+ 1,23)
Bolsonaro 52,27 – 63,00 (+ 10,73)
Niterói:
Lula 46,56 – 51,21 (+ 4,65)
Bolsonaro 42,9 – 48,8 (+ 5,9)
São Joao de Meriti:
Lula 38,93 – 39,96 (+ 1,03)
Bolsonaro 54,3 – 60,00 (+ 14,03)
Campos:
Lula 34,16 – 36,86 (+ 2,7)
Bolsonaro 58,01 – 63,14 (+ 5,13)
Belford Roxo:
Lula 38,9 – 39,8 (+ 0,9)
Bolsonaro 54,8 – 60,2 (+ 5,4)
Petrópolis:
Lula 34 – 37,75 (+ 3,75)
Bolsonaro 55,23 – 62,25 (+ 7,02)
Volta Redonda:
Lula 44,54 – 47,12 (+ 2,58)
Bolsonaro 47,14 – 52,88 (+ 5,74)
Eduardo Paes/PSD, prefeito da capital, e Waguinho/União Brasil, prefeito de Belford Roxo, foram importantes apoios no segundo turno, contribuindo para que a derrota no RJ não fosse maior. A entrada de Waguinho na campanha tem sido argumento de setores do PT-RJ para defender as alianças estabelecidas em 2020 com a extrema direita, neoliberais e oportunistas. Tal argumento omite que desde 2020 se fez alianças formais e informais com Claudio Castro (governador), Washington Reis (prefeito de Duque de Caxias), Marcelo Delaroli (prefeito de Itaboraí), Rogério Lisboa (prefeito de Nova Iguaçu). Nenhum destes apoiou Lula, portanto, Waguinho é a exceção de uma política desastrosa, que fortalece os inimigos, enfraquece e humilha a militância do PT.
O PT-RJ acertou ao construir uma frente do campo progressista para a disputa ao governo estadual com Marcelo Freixo, reunindo PT, PSB, PCdoB, PV, Psol, PV e Rede. Posteriormente esta frente se ampliou com a entrada da federação PSDB/Cidadania. As pesquisas indicavam a possibilidade de 2º turno entre o candidato de Bolsonaro, o governador Claudio Castro/PL, e Freixo/PSB, candidato de Lula. No sábado 01/10, véspera do primeiro turno, o Datafolha indicava 44% dos votos válidos para Castro, 35% para Freixo e 10% para Rodrigo Neves/PDT. Paulo Ganime (Novo), com 4%, Wilson Witzel (PMB), Eduardo Serra (PCB) e Juliete (UP), todos com 2%, e Cyro Garcia (PSTU) e Luiz Eugênio (PCO), com 1%. O Ipec (ex-Ibope) apontava Castro com 47%, Freixo 28% e Neves com 11%.
O desempenho de Claudio Castro surpreendeu ao obter 58,67% (4.930.288 votos), seguindo por Freixo com 27,38% (2.300.980 votos). Rodrigo Neves recebeu 8% (672.291 votos), Ganime 5,31%, Juliete 0,33%, Cyro Garcia 0,15% Serra 0,13%. Interessante comparar com os resultados do primeiro turno de 2018, quando Wilson Witzel/PSC obteve 41,28% (3.154.771 votos), Eduardo Paes/DEM 19,56% (1.494.831 votos), Tarcísio/Psol 10,72% (819.248 votos), Romário/Podemos 8,7% (664.511 votos), Pedro Fernandes 6,11% (466.954 votos), Índio da Costa/PSD 5,95% (454.928 votos), Marcia Tiburi/PT 5,85% (447.376 votos), Marcelo Trindade/Novo 1,14% (86.820 votos), André Monteiro/PRTB 0,46% (35.237 votos), Dayse/PSTU (17.499 votos).
Observamos que em 2018, o segundo colocado, Eduardo Paes, foi para o segundo turno com 1.494.831 votos, 19,56% dos votos válidos. Em 2022 Freixo obteve 2.300.980 votos, representando 27,38%. A campanha de Freixo apresentou insuficiências, equívocos e contradições, como uma tentativa errática de se distanciar de sua identidade política, limitada construção coletiva, excesso da abordagem da temática da corrupção. Cabe observar que parte da esquerda não fez a campanha da frente progressista, flertando desde a pré-campanha com Claudio Castro. Estas questões foram a razão principal para a derrota no primeiro turno? A comparação dos números e candidaturas de 2018 e 2022 sugere que não, reforçado pelas condições materiais e institucionais da disputa no Rio de Janeiro.
Na eleição do senado tivemos uma fragmentação de candidaturas: Romário/PL 2.384.331 votos (29,19%), Molon/PSB 1.731.786 votos (21,2%), Daniel Silveira/PTB 1.566.352 votos (19,18%), Clarice Garotinho/União 1.145.413 votos (14,02%), André Ceciliano 986.676 votos (12,08%), Cabo Daciolo 285.037 votos (3,49%), Itagiba/Avante 18.224 votos (0,22%), Barbara/PSTU 18.222 votos (0,22%), Sued/MDB 11.933 votos (0,15%). As candidaturas dos partidos UP, PCB e PCO somados não representaram 0,5%.
Diferente da disputa ao governo estadual, a disputa do Senado teve três fortes candidaturas do campo bolsonarista (Romário, Daniel e Clarice), portanto, uma divisão que apresentava boas perspectivas de vitória eleitoral para o campo progressista. Os números finais de Molon e André reforçam tal perspectiva. Infelizmente a falta de unidade tornou a participação da esquerda na eleição ao Senado uma marcação de posição e disputa interna.
Após as eleições a prioridade do PT, dos movimentos sociais, do governo e mandatos deve ser manter e intensificar a disputa da sociedade. A extrema direita já mostrou que não dará trégua na luta social, ideológica, institucional. O papel do PT e dos movimentos sociais populares é avançar na mobilização e organização da população para aumento da influência dos valores e princípios de esquerda, componente central para a sustentação do governo Lula e as mudanças democrático-populares.
Orientamos a militância da AE a propor aos núcleos de base, Diretórios Zonais e Municipais o início de campanha de abaixo-assinado por recursos no orçamento da União para (i) os remédios da Farmácia Popular; (ii) manutenção dos 600,00 para o bolsa-família e (iii) o reajuste do salário-mínimo. Denunciando, inclusive, a mentira de Bolsonaro. Instrumento para trabalho de base.
Tendência petista Articulação de Esquerda do Rio de Janeiro