Por Rayane Andrade (*)
Saudações petistas! Do Rio Grande Bonito do Norte escrevemos com a esperança de que a chegada de Lula à presidência se aproxima e com a esperança militante de que derrotaremos, com muita campanha de rua e nas redes, o cavernícola.
Focaremos em um balanço quente da nossa contribuição ao pleito eleitoral local. Do ponto de vista dos resultados das urnas, a candidatura Rayane Andrade alcançou 13.358 votos, sendo votada em 164 municípios potiguares, faltando apenas três deles para alcançar a totalidade dos territórios, o que significou chegarmos ao quarto lugar de desempenho eleitoral no PT e alcançarmos a terceira suplência da federação Brasil da esperança.
Iniciamos pelos frios números, pois na nossa realidade eles retratam como a campanha empolgou e conquistou corações e mentes, enfrentando temas difíceis como o debate sobre a questão da política racista de guerra às drogas, motivo de muitos ataques durante a campanha.
A única candidatura negra, feminina, jovem e LGBT da nominata partidária foi melhor votada que candidaturas petistas que já vinham com mandatos e mais estrutura econômica.
Deixamos para trás nomes expressivos como Henrique Alves (PSB), outrora presidente da Câmara Federal, e Larissa Rosado (União Brasil), que já foi deputada e é vereadora no segundo maior colégio eleitoral do Rio Grande do Norte.
Com o lema “um novo dia vai raiar”, inspirada no samba que na nossa avaliação sintetiza bem nossa conjuntura, fizemos uma campanha muito bonita tanto do ponto de vista estético, quanto do funcionamento diário.
Rodamos muitos quilômetros, boa parte deles a pé, conversando com as pessoas de olho no olho, nos locais de estudo, trabalho e moradia. Conquistamos a confiança da classe trabalhadora potiguar.
Não obtivemos uma vitória eleitoral, mas certamente fizemos um grande feito político que foi produto de muita dedicação de uma coordenação de maioria jovem, negra, LGBT e que contou com uma diversidade que não vemos refletir-se no final da composição global da Assembleia potiguar.
Infelizmente a imprevisibilidade dos recursos do fundo partidário e sua chegada na reta final prejudicou a nossa caminhada. A dificuldade de planejar diante de uma incerteza financeira é um gargalo político e burocrático que precisa ser apontado para a direção do PT como algo que precisamos superar. Mas, mesmo diante dessas questões, conseguimos colocar uma militância combativa nas ruas e nossa arrancada final foi bonita de se ver.
A dificuldade do letramento racial na nossa militância petista também foi uma barreira em nossa avaliação. Companheiros históricos que eleição após eleição se autodeclaravam brancos, passaram em 2022 a adotar outra identidade racial, coisa que não foi enfrentada de maneira firme pelas direções e que colocou nas candidaturas negras uma pressão política dura e que dificilmente será desvencilhada sem um aumento do patamar de debate interno sobre o que fazer diante de casos de fraude nas cotas raciais. O tema é complexo e nossa candidatura fez esse tensionamento, não só com sua existência, mas com os resultados que apresentou.
Destacamos ainda que nossa candidatura se manteve fiel às resoluções da tendência, fazendo dobrada exclusiva com nossa companheira Natália Bonavides, que temos a honra de ter contribuído para a marca histórica obtida, sendo a mais votada do RN. Cerrar fileiras ao lado de Natália nos honra e aumenta o patamar da defesa das nossas ideias, que não comporta nem recuos nem desânimo.
No estado, a vitória da companheira Fátima Bezerra foi muito bem vinda, e alcançamos resultados históricos, ampliamos a bancada petista na Assembleia com três cadeiras e que sabemos bem que contribuímos para esse excelente resultado.
Contudo, foi também a eleição que mostrou o dano que o bolsonarismo provocou. O candidato estadual campeão é um sujeito com vinculações ao que há de mais reacionário, ex-policial militar e assumidamente comprometido com a política de extermínio das juventudes negras. É uma pessoa que saiu da cadeia, fez uma atividade de rua que matou pessoas e posou em vídeos fazendo apoio de frente ao lado dos corpos abatidos e que em sua primeira entrevista prometeu invadir as comunidades periféricas.
Do ponto de vista da estratégia nacional, Lula arrastou com os piseiros e muita força a votação da classe trabalhadora potiguar. Vencemos em Natal, a capital em que historicamente não saímos vencedores, perdendo em apenas um dos municípios, a cidade de Parnamirim, reduto militar e fortemente influenciado pelo pensamento evangélico fundamentalista. É importante destacar que tanto Natália Bonavides quanto a candidatura Rayane Andrade obtiveram votações expressivas nesse mesmo município, o que aponta para a total capacidade de ampliarmos a votação nacional nesse território.
O desafio da Assembleia é o mesmo da Câmara e do Brasil. Derrotar Bolsonaro, não significa derrotar o bolsonarismo. E essa é a nossa prioridade número zero, que deve envidar todos os nossos esforços e o acumulado da candidatura deve servir a esse propósito. O que sabemos é que as nossas vitórias eleitorais, a marca histórica atingida por Natália Bonavides, a chegada de Daniel Valença como vereador da capital e o excelente resultado eleitoral que nossa candidatura obteve só aumenta o patamar de responsabilidade da tendência na definição do cenário político local.
Criamos uma referência forte que precisa ser cultivada, para, como diz a canção “mandar essa tristeza embora”.
Gratidão a toda militância da Articulação de Esquerda, que construiu essa campanha que marcou nossas vidas e fez história! ]
(*) Rayane Andrade é secretária de direitos humanos do PT RN