Por Valter Pomar (*)
Rodrigo Pacheco (DEM) foi eleito presidente do Senado e Arthur Lira (PP) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados.
No Senado não houve surpresa. Afinal, Pacheco foi apoiado tanto por Bolsonaro quanto pela bancada do PT.
Já na Câmara dos Deputados, muita gente acreditava que haveria segundo turno e até mesmo que Baleia Rossi (MDB) pudesse vencer.
Mas não foi isso que aconteceu: Lira levou no primeiro turno com 302 votos, enquanto Baleia teve apenas 145 votos.
Para registro: a oposição (PT, PCdoB, Psol, PSB, PDT e Rede) tem 129 parlamentares. Claro que muitos parlamentares destes partidos não votaram em Baleia; mesmo assim, o candidato de Temer & Maia teve menos votos da direita (“centrão” gourmet) do que da oposição de centro e esquerda.
Com apoio do PT ou sem apoio do PT, com apoio do PSOL ou sem apoio do PSOL, Baleia perderia do mesmo jeito; e Lira seria eleito no primeiro turno do mesmo jeito.
A esquerda, em particular nosso Partido dos Trabalhadores, terá que debater se fez a coisa certa, quando abriu mão de ter um bloco próprio e uma candidatura própria, preferindo apoiar uma candidatura golpista que ao final se demonstrou incapaz até mesmo de atrair apoio expressivo na própria direita.
Também caberá analisar a eleição do restante da Mesa e os impactos sobre as presidências de comissões e relatorias, que para muita gente eram quase ou mais importantes que a disputa da presidência.
A preços de agora, a impressão é que Churchill tinha razão: http://valterpomar.blogspot.com/2021/02/o-pt-na-mesa-sera-que-o-churchill-tinha.html
Entretanto, o mais importante é avaliar qual o efeito político da dupla vitória de candidaturas apoiadas por Bolsonaro.
Será a véspera do Apocalipse, com Bolsonaro e seus aliados controlando a maior parte das instituições? Será um prenuncio de uma nova vitória cavernícola em 2022?
Argumentos deste tipo foram usados e abusados, no debate interno ao PT, para nos empurrar a apoiar Baleia Rossi. Curiosamente, foram deixados de lado quando se debatia a presidência do Senado. Mais curiosamente ainda, não se adotou, nem se cogita adotar, nenhuma medida prática à altura dos perigos que nos rondam.
Entretanto, seja verdade ou exagero, uma coisa é certa: tanto as eleições municipais de 2020 quanto a eleição das Mesas confirmaram que – ao menos na atual situação histórica– não será por caminhos eleitorais e institucionais, muito menos através de alianças com setores da direita, que a esquerda derrotará Bolsonaro.
Ou mudamos a correlação de forças na sociedade, em particular na classe trabalhadora, ou a disputa institucional continuará sendo decidida em favor da direita (bolsonarista raiz ou bolsonarista eventual, centrão raiz ou centrão gourmet).
Ninguém gosta de derrota. Mas já que fomos derrotados, vamos pelo menos tirar alguma lição do ocorrido, a começar pela máxima do Barão: “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”. Insistir em aplicar uma estratégia superada só vai produzir novas derrotas.
Espero que a direção do PT convoque, mais cedo que tarde, um encontro nacional que sirva para debatermos e aprovarmos uma nova linha política, adequada aos “tempos de guerra” que estamos vivendo.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT