Por Gilderlei Soares (*)
O retorno recente de Bolsonaro dos Estados Unidos, depois de seu exílio de medo, suscitou muito debate sobre qual será o seu papel na oposição ao governo Lula e se conseguirá preservar seu capital político.
Antes de qualquer análise, precisamos admitir. Bolsonaro e seu Bolsonarismo não são águas passadas.
Os mais de 58 milhões de votos em Bolsonaro provam que Lula de fato era o único candidato capaz de derrotá-lo. Neste sentido, foi fundamental a compreensão de alguns setores da esquerda, que decidiram apoiar Lula desde o primeiro turno. Assim como alguns setores do centro, e, até mesmo da direita.
Porém, o principal fator que levou Lula à vitória no segundo turno foi a esperança de 60 milhões de brasileiros e brasileiras, que sonham com um país mais justo, que volte a olhar para as necessidades dos mais pobres e que retome sua soberania, ocupando um importante lugar nos debates globais.
Qual é o futuro do bolsonarismo? Não sabemos ao certo. Mas, em curto prazo não se dissipará. Uma boa parte do eleitorado de Bolsonaro foram pessoas que pensam igualmente como ele. Que viram no capitão alguém que pensa e se expressa como elas.
Essas pessoas seguiram divulgando suas fake news e continuam não aceitando o resultado das urnas.
Boa parte desse pessoal acampou em frente aos quartéis, absurdamente pedindo uma intervenção militar e tentaram um golpe de Estado em 8 de janeiro, com a invasão e depredação da sede dos três poderes.
As Forças Armadas não embarcaram em uma aventura golpista. Não porque são instituições democráticas, mas porque a conjuntura é muito diferente de quando realizaram um golpe em 1964. Apesar dessa avaliação, sempre é bom ficarmos atentos e alertas. Afinal, em toda avaliação de conjuntura política sempre pode haver erros.
As ideias que levaram Bolsonaro ao palácio do planalto sempre existiram e vão continuar existindo. A questão é se ele continuará sendo esse líder; se aparecerá outro para comandar esses setores ultra-conservadores ou se a direita moderada (estilo o que foi o PSDB nos tempos de FHC) retomará como alternativa.
Lembrando que a direita moderada, ao estimular o ódio exacerbado contra o PT, culminando com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, perdeu amplo espaço para essa ultra-direita.
Qual o futuro de Bolsonaro? Também não sabemos. Minha torcida é que ele pague pelos crimes que cometeu contra o povo brasileiro, começando pela sua inelegibilidade que parece próxima de ser julgada pelo TSE.
Não sabemos se Bolsonaro ficará isolado. Ele faz parte de um movimento mundial da extrema-direita, que pode apoiá-lo financeiramente e politicamente.
O silêncio em que ele entrou após o resultado final do segundo turno pode ter contribuído para apequenar ao longo do tempo sua liderança. Porém, não podemos esquecer que nunca um líder de extrema-direita teve tantos votos assim no Brasil.
Derrotamos Bolsonaro nas eleições. O desafio agora é derrotar as ideias conservadoras da direita brasileira que levaram uma figura como ele ao cargo de presidente da República.
Precisamos seguir travando a disputa política e cultural na sociedade. Desde as universidades até as comunidades mais carentes das nossas periferias.
(*) Gilderlei Soares é militante petista e professor no Rio Grande do Norte