Braide (Podemos) x Duarte (Republicanos): um falso dilema para o PT em São Luís

Por João de Deus Castro (*)

Braide e Duarte

Apuradas as urnas, nenhuma candidatura de esquerda (dep. federal Rubens Jr. – PCdoB/10,58% dos votos, Franklin – Psol/0,68% e Hertz – PSTU/0,42%) ou centro-esquerda (Bira – PSB/4,30%) consegue ultrapassar o primeiro turno das eleições de São Luís/MA. Em vez disso, Eduardo Braide (Podemos/37,81%) e Duarte Jr. (Republicanos/22,15%), dentre diversas outras candidaturas de direita menos cotadas, vão disputar o segundo turno.

Diante da urgência da hora (são só 15 dias de campanha restantes), lideranças de todos os lados se posicionam diante de um dilema que, pelo menos para a esquerda deveria ser considerado falso, pois, além de se colocarem no abrangente campo da direita, as duas candidaturas estão vinculadas a partidos da base de apoio a Bolsonaro. Em que pese Duarte ter sido eleito dep. estadual pelo PCdoB, partido do governador Flávio Dino, migrou para o Republicanos, partido do vice-governador e da base de Bolsonaro – do que fez declaração entusiástica diante de uma plateia de líderes evangélicos da Igreja Universal.

Nenhum dos dois perfis expressam um bolsonarismo raiz. E ambos trazem consigo forças políticas reacionárias e/ou golpistas da direita tradicional – representadas, de um lado (o de Braide), por figuras como o senador tucano Roberto Rocha, presente na comitiva de recepção a Bolsonaro em sua última e desastrosa passagem pelo Maranhão e “pessoa maravilhosa, excepcional para que pudéssemos desenrolar tudo isso aí e assinar um projeto tratando do acordo para lançamentos de satélites na nossa base de Alcântara”, segundo o próprio presidente; e de outro lado (o de Duarte), o dep. federal Josimar de Maranhãozinho (PL), forte candidato ao posto de oligarca-mor do Maranhão, se orgulha de ter lançado mais de uma centena de candidaturas a prefeito no Estado, inclusive em São Luís, sua esposa, a dep. estadual Detinha (PL), que retirou a candidatura em prol de Duarte, mas não sem antes garantir a vice na chapa para a sobrinha Fabiana (PL, claro). Só para ficarmos em dois figurões emblemáticos da política maranhense.

Os naturais apoiadores de Braide seriam os opositores de direita do governo Flávio Dino, que na Assembleia Legislativa compreendem 1/3 das cadeiras. Com Duarte poderiam seguir naturalmente os apoiadores mais à direita ao governo Flávio Dino, cuja base total de apoio somam 2/3 da AL, um amplo leque que vai da esquerda à direita, que a partir de agora parece se dissolver. À guisa de balanço do primeiro turno no Maranhão, pode-se dizer que a esquerda e o governador Flávio Dino saem derrotados, é importante que se admita. Mas admitir isso não é fácil. Mais fácil é dourar a pílula apoiando Duarte, a pretexto de ser da base do governo, e por aí seguem Flávio Dino e o PCdoB. Tal saída parece ser a única diante da política de alianças que se tem e que agora cobra o seu preço.

Não entraremos aqui nas complicações das amplas políticas de alianças. Já a experimentamos nos governos Lula e Dilma e deu no que deu, ou seja, em golpe. Trazer para junto de si forças de direita e fazer delas elementos essenciais de sustentação de seus governos ainda não trouxe para a esquerda nenhum bom desfecho histórico. Mas as lições históricas são de difícil assimilação, principalmente quando a lógica predominante é a pragmática. O governador Flávio Dino, no primeiro turno, apesar da óbvia definição pelo candidato do próprio partido (Rubens), não se engajou na campanha, não fez gravações de apoio (o próprio Lula o fez) e, ainda por cima, declarou-se neutro na reta final com a desculpa de que havia 4 candidatos da base do governo.

Enfim, em meio à pandemia da covid-19, vamos resumir o pandemônio que tomou conta deste segundo turno em São Luís. O terceiro colocado, Neto Evangelista (dep. estadual pelo DEM/16,24%), da base de Flávio Dino, passa a apoiar Braide. Assim também, a Executiva do PDT da capital, partido da base aliada, vai de Braide, enquanto o senador pela sigla, Weverton Rocha, declara-se neutro. Deputados estaduais, Glaubert Cutrim (PDT) e Carlinhos Florêncio (PCdoB), pasmem, são agora Braide. Etc. Qualquer semelhança com um certo “sim” que golpeou Dilma Rousseff em 2016 não é mera coincidência. Duarte, por sua vez, aferra-se ao apoio do governador, disposto ao máximo de “diálogo” e “colaboração”. A recíproca é verdadeira. Oportunismo de um lado, ilusão de outro. Pragmatismo de ambos.

O PT é um capítulo à parte. Enquanto a direção municipal declara apoio a Duarte, uma parte do partido, insatisfeita com o governador Flávio Dino, resolve-se por Braide. O único dep. estadual, Zé Inácio, agora é Braide. O único federal, Zé Carlos, é Duarte desde o primeiro turno, num flagrante desrespeito ao partido, que se esforçava pela esquerda para eleger Rubens, com o único vereador na capital, Honorato, de vice. Abriu-se um conflito interno fratricida em torno de candidaturas de direita que de modo algum podem representar o bom combate, deixando de lado qualquer caráter ideológico, programático e estratégico. Em vez disso o partido poderia demarcar politicamente com o voto nulo e declaração de oposição firme a qualquer dos dois que viessem a se tornar prefeito de São Luís, mantendo-se na base de apoio pela esquerda ao governo Flávio Dino, na perspectiva de barrar sua superação pela via da direita e pelo menos tentar uma continuidade pela esquerda. É nisso que qualquer esquerda teria que pensar, pois de um ponto de vista de esquerda, o estigma do bolsonarismo veio a calhar tanto a Braide quanto a Duarte durante todo o primeiro turno, e em boa medida merecidamente. Mas o certo é que sendo os mesmos direitistas pragmáticos, já deram provas de que podem se aproximar mais ou menos do bolsonarismo, a depender do que for mais interessante para o momento.

Por outro lado, PT e PCdoB, nacionalmente, não têm identidade plena de tática e estratégia. E é legítimo que assim seja. O PCdoB tem defendido, assim como o próprio Flávio Dino, ampla aliança, inclusive com setores golpistas, como saída para derrotar o bolsonarismo. É sintomático dessa opção o fato de o governador gravar vídeo em apoio à candidatura de João Campos (PSB) em Recife agora no segundo turno, apesar da sórdida campanha, de fazer inveja a qualquer bolsonarista, empreendida por este último contra o PT e sua candidata, Marília Arraes. Certamente faltou um vídeo assim em defesa da candidatura de Rubens Jr., de seu próprio partido, no primeiro turno. Tal perspectiva não é a do PT, que tem o direito de se engajar localmente na construção e defesa de sua própria estratégia.

Tais questões certamente merecem um balanço mais profundo da esquerda maranhense e ludovicense. Mas isto fica para depois do segundo turno nas grandes cidades do Brasil, principalmente onde a esquerda conseguiu chegar à segunda volta, mantendo-se na tarefa urgente de derrotar a direita, bolsonarista ou não. São Luís, por enquanto, está fora.

(*) João de Deus Castro é servidor público e militante do PT/São Luís-Ma


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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