Foto de Germano Portela
Contribuições para a avaliação do resultado eleitoral de 2020
O resultado eleitoral de 2020 foi, antes de tudo, um recado para quem acredita que a derrota do bolsonarismo e da política ultraliberal se resolverá tão somente pelas urnas.
Embora as candidaturas diretamente declaradas bolsonaristas não tenham, aparentemente, logrado o êxito esperado, fica claro que foram os partidos da centro-direita (da “velha direita”) os que mais elegeram.
Esse resultado deixa explícito que não existe “direita democrática”. Quando se trata de assegurar seus interesses de classe, o discurso “gourmetizado” das pautas identitárias (eventualmente presentes em candidaturas burguesas) rapidamente se esvai.
Que o diga Kleber Montezuma ao afirmar: “Temos valores diferentes dos deles”.
Zero surpresa!
Fake News como kit gay, defesa da pedofilia e ideologia de gênero, continuaram sendo amplamente usadas de forma cínica na disputa.
A diferença é que agora, saem das bocas cínicas dos “liberais moderados” que despudoradamente repercutem o mesmo discurso dos fascistas.
No final das contas, a Direita apostou no discurso polarizado e federalizado. Por isso, cresceu eleitoralmente e politicamente.
Mesmo que, por vezes, escondesse o apoio a Bolsonaro, não se fez de rogada ao acionar a narrativa da “ditadura gayzista”.
Para além das derrotas eleitorais, a preocupação agora deve se dar em torno da derrota política sofrida sempre que desistimos de defender nossas bandeiras históricas.
Em Belém, onde a disputa foi totalmente polarizada, a esquerda compreendeu a importância da unidade e do diálogo incansável para disputar a sociedade.
Edmilson Rodrigues, candidato à prefeito pelo PSOL, juntamente com Edilson Moura do PT, não titubearam em polarizar.
Mostraram que é possível dialogar com os evangélicos partindo de uma realidade de exploração que unifica toda a classe trabalhadora, sem abrir mão de um programa que contemplasse as pautas identitárias.
A compreensão da necessidade histórica se impôs de forma madura e responsável. O resultado foi uma campanha linda, com militância aguerrida nas ruas da capital paraense.
Mesmo reconhecendo que as divergências que dividem a esquerda em estratégias e programas são legítimas e complexas, temo pelas vezes que, embriagadas pelo eleitoralismo, esqueçamos de onde vem o inimigo.
Temo principalmente, pelas e pelos que se deixaram acuar, desistindo de organizar a classe trabalhadora e dialogar com as comunidades.
Em 2022 precisamos estar unidas, unidos e conscientes de que a redemocratização do país passa por reconhecer que vivemos os desdobramentos políticos de um golpe que não foi tão somente contra o PT, mas contra as ideias democráticas de esquerda.
A miséria e a rede de desinformação tenderá a avançar como jamais visto nesse país.
O crescimento da informalidade, precarização no trabalho, fome e violência contra o povo das periferias nos reservará desafios cada vez mais difíceis.
Para virarmos o jogo, precisaremos de maturidade, responsabilidade, muito fôlego e unidade.
(*) Fabíola Lemos é militante da tendência petista Articulação de Esquerda