Clima, natureza e território: é pra cuidar e proteger

Por Joceli Veadrigo (Piccola) (*)

Os impactos dos eventos climáticos de maio de 2024 ainda estão sendo dimensionados no Rio Grande do Sul e na  Serra gaúcha. Em Caxias do Sul, o bairro de Galópolis foi duramente afetado e toda a região das encostas do município sentiram os fortes reflexos das tempestades e deslizamentos jamais vistos na região.

Graves danos foram impostos nas propriedades rurais, em diversas ruas dos bairros periféricos, em acessos às localidades, que ficaram isoladas no interior e em estradas que interligam Caxias do Sul com as demais cidades do RS.

As consequências, para além da destruição das propriedades, foi a interrupção do abastecimento de gêneros alimentícios, medicamentos, combustíveis, energia, água, insumos para a produção e serviços e até o escoamento dos produtos das indústrias.

A persistência das chuvas ameaçou o rompimento da barragem do Sistema Dal Bó, localizado em plena área urbana do município, levou à evacuação da população de várias regiões do município.  A represa suportou a pressão, mas o transbordamento da mureta ainda exigia o deslocamento dos moradores que residiam no entorno do complexo.

Em Caxias do Sul, o saldo da tragédia foi de 8 mortes, sete das quais do bairro de Galópolis e uma causada por deslizamento de terra que atingiu a usina de asfalto da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) e parte do complexo.

Muitos dos agricultores perderam casas, carros, tratores, roçadeiras, motores e compressores, entre outros equipamentos que traduzem sua forma de sustento. Na região, o maior risco ainda é o de desmoronamentos.

A assistência às vítimas, bem como a implementação de ações paliativas para restaurar as estruturas públicas e vias de acesso, envolveram voluntários, equipes de servidores municipais, de forças de proteção civil, militar e especialistas do município, do estado, de outros estados e da federação, de empresários locais e demais forças vivas da sociedade.

A população como um todo protagonizou diversas campanhas de doações para as vítimas da cidade e também para os demais municípios atingidos no Rio Grande do Sul.

O Aeroporto Hugo Cantergiani de Caxias do Sul, em processo de internacionalização, se tornou um corredor humanitário para o recebimento de donativos às vítimas da enchente e acabou atendendo a grande parte da demanda de voos comerciais, em virtude do fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

A Deputada Federal Denise Pessoa (PT-RS), caxiense, vem empregando esforços no sentido de ajudar a Serra gaúcha. Ela garantiu ao município, por exemplo, verba superior a R$ 10 milhões, que serão empregados na construção de quatro tanques de contenção (piscinões), um dos quais será instalado em Galópolis.

Há muito o que ser feito para a reconstrução de Caxias do Sul que envolve a elaboração de planos de curto, médio e longo prazo. Como em todo o estado do Rio Grande do Sul, a sociedade caxiense ainda terá que conviver com dificuldades causadas pela tragédia, enquanto aguarda a execução desses planos.

Por certo, a tragédia climática teve causas que não são desconhecidas e ao longo de décadas foram indicadas pelos cientistas. E também é certo que haverão novos eventos climáticos de excesso e falta de chuvas e as soluções devem considerar o monitoramento meteorológico, a prevenção, a resiliência e a sustentabilidade do município. Mas isso tudo, de nada vai servir se os planos e ações não forem integrados com todos os municípios ao longo das bacias hidrográficas da qual Caxias do Sul também faz parte.

Os maiores obstáculos para a reconstrução e planejamento futuro multidisciplinar e de abrangência geográfica, é a ação nefasta da extrema-direita com o negacionismo climático e científico, da usura e esgotamento dos recursos naturais, do desmantelamento da educação e ataque contra as instituições democráticas.

(*)  Joceli Veadrigo (Piccola) é presidenta PT Caxias do Sul

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