Congresso da Apeoesp: balanço

Por Karen Aparecida Silveira (*) e Lidney Soares (**)

“Tô de boa, mas não estou de toca”. Durante um período, essa expressão era muito utilizada nas periferias paulistanas. Em meio ao desuso, ela queria traduzir que a pessoa estava bem, mas não estava vacilando e que estava esperta e atenta.

Participamos, de 25 a 27 de setembro, na cidade de Serra Negra, interior de São Paulo, do XXVIII Congresso Estadual da Apeoesp. Foi um encontro grandioso e digno, à altura do maior sindicato da América Latina, com a presença de 1.517 delegados e delegadas.

A Apeoesp é um sindicato de proporcionalidade que abrange muitas correntes, das mais diversas linhas políticas e representações sindicais ligadas à CSP–Conlutas, CTB, Intersindical e à CUT, da qual o sindicato é filiado, além daquelas que se intitulam independentes.

O clima do Congresso foi muito intenso, com debates acalorados. Em alguns momentos, a oposição, que estava concentrada em oito teses, chegou a ocupar a mesa, fazendo o ambiente esquentar, nada surpreendente para os parâmetros desse sindicato.

Os trabalhos do primeiro dia se encerraram próximo da meia-noite, garantindo que todas as teses fossem defendidas. O caderno de teses totalizava 18, mas, de fato, 16 foram apresentadas; duas não tiveram representantes.

Por incrível que pareça, houve muitas convergências entre as teses: as críticas ao governo Tarcísio, o adoecimento da categoria, o absurdo da plataformização. Também foi muito comentada a mobilização do último dia 21 de setembro, como exemplo da esquerda nas ruas contra a “PEC da Blindagem/Bandidagem” e contra a anistia, que deveria servir de norte para outras movimentações de rua. Entretanto, na defesa da tese 18, do PCO, foi dito que essas manifestações teriam sido mobilizadas pelo imperialismo e pela Rede Globo.

No debate programático, apareceu mais de uma vez a defesa das terras raras e minerais críticos, a importância de proteger o petróleo e a oposição aos leilões da margem equatorial. Houve ainda discussões sobre a crise do capitalismo e a disputa hegemônica entre EUA e BRICS, além da unidade intransigente em defesa da Palestina. Foi um debate rico, mostrando que professores e professoras estão antenados e contextualizados para além das dificuldades diárias da sala de aula.

Tivemos momentos quentes, a oposição criticou bastante o que considera pouca democracia do sindicato em relação às minorias e defendeu independência de classe diante do governo Lula. De outro lado, defendeu-se com força a importância de reeleger Lula em 2026 — alguns com a proposta de uma frente ampla, outros contrários a essa política. Porém, tanto oposição quanto grupo majoritário concordaram na necessidade de derrotar o neofascismo no Brasil.

Chamaram a atenção algumas questões. A radicalização da oposição faz muito barulho, mas representa um grupo pequeno diante da magnitude de um sindicato com cerca de 180 mil associados. Assim, usam bastante as redes sociais para polarizar com a diretoria. Do outro lado, o entusiasmo das nossas próprias fileiras me preocupa mais — explico adiante.

Nas eleições da Apeoesp de 2023, formou-se em torno da corrente majoritária ArtSind a chapa UMA, reunindo correntes do campo cutista, grupos independentes, além da CTB e da Intersindical psolista, concentrada no antigo Fórum das Oposições, que hoje agrega nove correntes e se intitula apenas Fórum.

Esse campo, que venceu as eleições, continua sendo chamado de UMA. Como todas as oposições somaram apenas 15% dos votos totais, não alcançaram o número necessário para compor a direção. Assim, a totalidade das 120 representações da diretoria colegiada ficou com a chapa UMA, assim como a grande maioria das 94 subsedes e dos 945 conselheiros regionais estaduais. Criou-se, assim, uma grande maioria em torno desse grupo.

Nas reuniões do Conselho Estadual de Representantes (CER), observa-se o mesmo tipo de enfrentamento da oposição com o campo da UMA. É interessante notar que quem sempre combate a oposição é alguém da ArtSind, corrente majoritária, e algum representante do Fórum. Quando uma questão entra em votação, às vezes dividem a defesa — muito próximo do que vimos nos debates do Congresso. E é preciso admitir: as defesas desse campo arrancam muitos aplausos e despertam emoção na base militante e dirigente.

Neste Congresso, vimos uma multiplicidade de rostos e posições. É importante salientar que boa parte era de aposentados, que, de fato, mantêm a vida do sindicato. Mesmo depois de suas aposentadorias, continuam sustentando a luta de forma incansável. Há aposentados em todos os grupos, mas em menor número na oposição e em grande quantidade na corrente majoritária.

Na sociologia, há dois elementos fundamentais para análise: tempo e espaço. Observamos que o grupo concentrado na UMA vem conquistando muitos aplausos e corações em nosso meio, com falas contundentes e, por diversas vezes, sendo os maiores combatentes da fração de oposição mais radicalizada. Além disso, o prognóstico para os próximos congressos mostra que o elemento tempo será implacável.

É aí que a conquista, por dentro e em um futuro próximo, pode significar perder este sindicato para aqueles que hoje estão conosco. Muito sintomática foi a divergência de parte desse campo da UMA, que faz parte da direção, de não concordar com a mudança estatutária de aumentar de três para quatro anos o mandato. Por isso, acreditamos que essa não é apenas uma questão da ArtSind, mas um desafio para toda a CUT, pois estamos falando de um sindicato com mais de 180 mil associados e que representa quase 200 mil professores na ativa. Nossos dirigentes precisam pensar em um plano de ação capaz de observar esse cenário e criar estratégias.

Obviamente, o Congresso foi um grande momento, que culminou em um plano de lutas importante — se efetivado, pode fortalecer muito as batalhas diárias da categoria. Mas também trouxe este outro olhar da nossa situação futura: sabemos que faltam vários elementos para enriquecer esta análise, contudo, ainda assim, é um ponto de atenção. Porque, afinal, talvez não estejamos tão “de boa” assim.

(*) Karen Aparecida Silveira é conselheira Estadual da APEOESP, secretaria da Subsede da APEOESP de Ribeirão Pires/Rio Grande da Serra e coordenadora do FRE ABCDMRR.

(**) Lidney Soares é conselheiro estadual da subsede da Apeoesp de São Bernardo do Campo

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