Por Lucas Rafael Chianello (*)
Nota-se nos últimos tempos uma tentativa de revisão histórica sobre a presidenta Dilma Rousseff.
Primeiro, foi o senhor Washington Quaquá, que afirmou que Dilma não possui mais relevância eleitoral.
Depois, Tereza Cruvinel, que numa tentativa sôfrega de canonizar Alckmin (o tema da possível aliança deixamos para depois), escreveu:
“Outros dizem: Ah, com Alckmin de vice a direita vai tramar um golpe contra Lula para empossá-lo, como fizeram com Temer. Contra isso, não temo dizer: se Lula fosse o presidente em 2016, não teria havido golpe. Tanto é que Dilma o buscou como ministro da Casa Civil na certeza de que ele, com sua habilidade e capacidade de articulação, evitaria o impeachment.”
Importante lembrar, no caso citado por Tereza Cruvinel, que tempos antes do grampo de Sergio Moro no Jornal Nacional e da farsa a jato criar comoção pedindo a cabeça de Lula, Dilma já havia oferecido-o a Casa Civil e ele negou a oferta sob o argumento de que não caberiam dois presidentes do mesmo palácio.
Tivesse aceito a Casa Civil de prontidão, não teria caído nas garras da República de Curitiba que tanto o assustava.
Foi aceitar o convite quando já estava marcado para ser preso e o STF, que até então avalizava a farsa a jato, retirou dele, via Gilmar Mendes, a possibilidade do foro por prerrogativa de função, porcamente chamado de “foro privilegiado”.
Lelê Teles, em tom de debochado, escreveu:
““Lula não é Dilma”, cortou-me o selvagem, “e pra dar uma rasteira no Lula, meu camarada, o cabra tem que ser capoeirista da escola de mestre Bimba””.
Agora, o próprio presidente Lula, que afirma em entrevista à CBN no Vale do Paraíba:
“Aonde que a companheira Dilma, na minha opinião, erra? É na política. Ela não tem a paciência que a política exige que a gente tenha para conversar, para ouvir as pessoas dizerem não, para atender as pessoas mesmo quando você não gosta do que elas estão falando.”
As críticas de Quaquá, Cruvinel, Teles e Lula colocam na pessoa da Dilma a culpa pelo golpe de 2016, como se dentro da luta de classes o desequilíbrio para que não houvesse o golpe tivesse de ser o carisma e a habilidade negocial de Dilma, quando na verdade se trata de uma questão de correlação de forças.
Logo, as críticas recém recebidas pela presidenta são intelectualmente desonestas, pois ultra personalizam a apuração de uma responsabilidade que deveria ser o menos personalizada possível.
Quando aprovada no PT, em 1995, a política de ampliação do leque de alianças eleitorais e divulgada a Carta aos Brasileiros em 2003, criou-se uma profissão de fé dentro do partido de que após a queda do Muro de Berlim e os supostos rumos autoritários de revoluções socialistas, que inclusive teriam atentado contra os direitos humanos, apenas alianças políticas heterogêneas de coalizão proporcionariam a construção de uma sociedade menos injusta e desigual.
O grupo que controla o PT passou a optar demasiadamente pelo pragmatismo aliancista extremo, o que seria o ponto de segurança contra qualquer instabilidade política interna e externa.
O Brasil é um país marcado por rupturas institucionais dentro de um continente que talvez tenha a maior taxa de golpes de Estado no mundo.
Aprovar programas sociais no Congresso custava despolitizar aqui fora sob o argumento da “nova classe média” e a partir do momento em que o próprio vice-presidente liderava uma coalização golpista para realinhar o Brasil ao neoliberalismo, o que ficou batizado de “Ponte Para o Futuro”, o esforço de propaganda das mídias tradicionais e das redes sociais neutralizou qualquer chance de resistência popular.
Tudo porque há longínquos 20, 25 anos, introduziu-se a profissão de fé “Com alianças, sem golpe”, estratégia da qual Dilma não participou da formulação.
No país da história por cima, dos pactos de elite, cujas heranças contribuem para que até hoje sejamos civilizadamente atrasados em diversos fatores, foi uma mulher presa e tortura na época da ditadura que se tornou sua primeira presidenta.
Culpá-la pelo golpe de 2016 diz muito mais respeito à incapacidade de leitura de seus críticos do que de falhas dela mesma.
Viva Dilma Rouseff, a primeira mulher presidenta do Brasil!
(*) Lucas Rafael Chianello é militante petista em Minas Gerais