Divergências imaginárias para encobrir a divergência real

Página 13 divulga texto de Marcos Jakoby sobre polêmica envolvendo a tendência petista “O Trabalho”, acerca da análise que esta tendência faz da tese da chapa “Em Tempos de Guerra, a Esperança É Vermelha”.

Divergências imaginárias para encobrir a divergência real

Não sei se O Trabalho já publicou minha resposta às críticas feitas por Luna.

Mas já há uma réplica, escrita pelo mesmo Luna.

A esse respeito, faço os seguintes e breves comentários.

1/A acusação de que a AE é “campeão de retórica no PED” deve-se, agora entendemos, a nossa afirmação de que “Vivemos tempos de guerra”. Luna pergunta quando foi que não vivemos esse “tempo”? Resposta: houve, a partir do final de 2014, uma mudança de qualidade na luta de classes. Chamamos esta mudança de qualidade de tempos de guerra não por “retórica vazia”, nem para “excitar” ninguém, mas porque na nossa opinião a classe dominante está trabalhando para aniquilar nossas organizações.

2/sobre o fascismo, Luna diz o seguinte: “O “bolsonarismo está no fascismo”? Sim e não”. Esta resposta já é um progresso em relação a dúvida expressa no primeiro texto de Luna. Vale dizer que nós da AE não afirmamos que o governo Bolsonaro é fascista. O que dizemos é que o bolsonarismo é fascista. No fundo Luna diz algo parecido. Mas como ele quer demarcar com a AE a todo custo….

3/Luna diz que a “retórica aí facilita que alguns concluam do “fascismo” a frente antifascista… com o STF que não é fascista, com outros setores golpistas (os quais não são todos fascistas)… e, então, o “aliancismo” que saiu por uma porta, voltaria pela janela”. Estamos de acordo com Luna. E a crítica que ele faz deve ser dirigida a outros setores do PT, a começar por setores da CNB (com quem O Trabalho fez chapa comum em 2017).

4/sobre as alianças, o caso é simples: ao acusador cabe o ônus da prova. Reiteramos o pedido: que Luna nos diga onde, quando e como a AE teria defendido uma aliança com o PMDB e defendido Temer de vice?

5/sobre os governadores: primeiro Luna disse que não falamos deles. Agora, sem pedir desculpas pela informação errada, Luna diz que nosso problema é que não falamos “qual governador afrontou qual posição?”. De fato a nossa tese não fala. Mas por favor!!! Basta consultar o site da AE para ver muitos textos em que colocamos o dedo nas feridas. Reiteramos: Luna quer demarcar conosco a qualquer custo e inventa divergências onde não há!

6/sobre os 13 anos de governos do PT, Luna agora explica que acha que o nosso problema não seria nossa atitude frente aos governos, mas sim em relação ao chamado mensalão. Sobre isso, recomendamos ler o texto “o PT e a luta contra a corrupção”. Em resumo: achamos que um setor do PT adotou relações promíscuas com o empresariado e usou dinheiro do empresariado na luta interna do PT. Já O Trabalho chegou a considerar o Palocci como alguém digno de ser defendido. Ou seja: em nome da justa causa de defender o PT, chegaram a defender o que não pode nem deve ser defendido.

7/sobre o PED, Luna diz “se a AE votou contra, esqueceu rapidinho. Porque, se não erramos, esteve entre os três (com Soriano e Silvinho, o Secretário de Organização) que redigiram o modelito do princípio das “eleições diretas no PT” proposto por Zé Dirceu, na verdade.” Então Luna, você está errado. Simples assim. Você está errado. Não sabemos de onde você tirou esta fábula, mas o “modelito” do PED é uma criação de total responsabilidade dos fundadores da CNB. Nós da AE fomos e somos contra o PED desde quando Cristóvão Buarque propôs, e desde então votamos contra o PED sempre. Mais uma vez, você nos ataca por atacar, sem fundamento algum.

8/sobre o fundo exclusivo, de fato foi do Sokol a iniciativa de cobrar (na reunião da CEN que discutiu o regulamento do PED 2019) a existência do Fundo. Mas chega a ser infantil achar que “se o Sokol não “reafirma” (na verdade, cobra) o tal Fundo, não haveria a discussão, pois ninguém lembra da exigência democrática dos Estatutos de que as chapas do PED sejam financiadas por um Fundo Eleitoral Exclusivo”. É infantil porque esta exigência consta dos estatutos que foram aprovados não apenas por causa do Sokol, mas porque havia uma maioria favorável, inclusive a AE. Os únicos que não tem sérios problemas financeiros para participar do PED são os que controlam as finanças do Partido.

9/Luna diz que “o ângulo da AE e outras chapas no tema financeiro como vimos nos debates, é atacar o controle pelo CNB da Tesouraria, pedindo sua democratização (somos a favor). Mas por que ficar no ataque a CNB e não começar agora, democratizando o financiamento das chapa?” Resposta: hoje não tem fundo exatamente porque a CNB controla a tesouraria. E por isso a CNB tem os meios para decidir se concede ou não o direito estatutário. Quando quer, concede. Quando não quer, não concede. Se não tirarmos a tesouraria das mãos da CNB (eles controlam q tesouraria ininterruptamente desde 1995), o exercício deste direito estatutário sempre dependerá deles!

10/sobre a “frente única antiimperialista”, Luna contrapõe isto a “unidade da classe trabalhadora assalariada e classe trabalhadora de pequenos proprietários”. Ao contrapor, deixa claro que nesta sua frente única cabem setores sociais que não são trabalhadores nem pequenos proprietários. Ou seja: setores capitalistas, burgueses. A pergunta é: onde estão estes capitalistas dispostos a fazer frente contra o imperialismo? E qual o preço programático de sua inclusão? O PCdoB nisto é coerente: tira todas as decorrências do que propõe.

11/por fim, Luna concorda que “nossa retórica tem começo, meio e fim: atacamos as posições da CNB e defendemos derrotar a CNB”. E acrescenta: “É uma escolha de como fazê-lo.” Só não explica COMO O Trabalho pretende derrotar a CNB. Pois o que temos visto é O Trabalho buscar alianças com a CNB. E, portanto, atacar quem ataca a CNB, como ataca nós da AE. Mesmo que para isso precisem fabular e inventar divergências onde não existem.

Marcos Jakoby, em nome da chapa “Em tempos de guerra, a esperança é vermelha”.

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  1. Matéria da tendência petista O Trabalho onde esta faz uma análise das nove chapas que disputam o PED, de qual discordamos na caracterização  que ela faz da chapa Em Tempos de Guerra, a Esperança é Vermelha: http://otrabalho.org.br/ped-nove-chapas-nacionais-em-disputa/
  2. Nossa carta em resposta à matéria da tendência OT “Olá companheira Misa BoitoConforme sugerido por voce, solicitamos que seja publicado no site do jornal O Trabalho (e onde mais o texto de Luna tenha sido divulgado) a seguinte carta:
    A página www.otrabalho.org.br divulgou um texto intitulado “PED: nove chapas nacionais em disputa”, de autoria de João Alfredo Luna.O texto faz várias acusações contra a tendência petista Articulação de Esquerda. Gostaríamos que, mesmo que de maneira sumária, fosse registrado o contraponto a seguir:

    1) Luna pergunta “aonde” está a “guerra” e o “fascismo”. Resposta: a guerra está descrita no início da tese. O fascismo está no bolsonarismo e assemelhados.

    2) Luna diz que a tese da AE não avalia “o seu apoio (e do PT) à “aliança nacional com o PMDB”, e Temer vice, há 10 anos”. Resposta: criticamos a política de alianças dos antepassados da CNB desde 1993. Aproveitamos para pedir que o Luna nos recorde (com algum texto, alguma ata, algum vídeo, algum áudio) quando e onde e como foi que a AE apoiou a “aliança nacional com o PMDB e Temer vice”.

    3) Luna diz que a AE “não fala dos governadores do PT”. Luna deve reler a tese “Em tempos de guerra, a esperança é vermelha” (https://pt.org.br/wp-content/uploads/2019/08/em-tempos-de-guerra-2ago2019.pdf), pois lá está dito o seguinte: ” Para agravar, há governadores eleitos pelo PT que afrontam publicamente as posições do Partido, sem que a atual direção os enquadre”.

    4) Luna diz que “talvez para ofuscar a responsabilidade nos 13 anos de governos do PT, o apoio ao PED etc”, a AE “ficou sectária no debate chamando à “derrota o CNB”. Resposta: nossa principal “responsabilidade” nos “13 anos de governos do PT” foi defendê-los dos ataques da direita e, ao mesmo tempo, combater a política de conciliação de classes, especialmente a política econômica de Levy, Meirelles e Palloci. Quanto ao PED, a AE votou contra desde que ele foi proposto pelo então petista Cristovam Buarque.

    5) Luna fala que não cobramos “o Fundo Exclusivo”. Resposta: apoiamos esta demanda desde o início, inclusive na CEN e no DN, quando foi reafirmada pelo companheiro Marcos Sokol.

    6) Luna afirma que recusamos a “frente única anti-imperialista, socialmente mais ampla”. Resposta: eis aí um ótimo debate, pois como se viu no caso de Alcântara, as vezes o “socialmente mais amplo” discurso anti-imperialista pode andar de braços dados com a capitulação.

    7) Luna afirma que “a tese da AE é campeã de retórica”. Pode ser, sempre pode ser. Mas pelo menos nossa retórica tem começo, meio e fim: atacamos as posições da CNB e defendemos derrotar a CNB.

    Saudações petistas

    Marcos Jakoby, em nome da chapa Em tempos de guerra, a esperança é vermelha”

  3. Réplica de militante da tendência “O Trabalho” a nossa carta: http://otrabalho.org.br/resposta-a-articulacao-de-esquerda/

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