Por Patrick Araújo (*)
Que o Partido dos Trabalhadores possui uma direção, não há dúvidas. Ao menos no sentido estrito da palavra, o 7º congresso do PT elegeu um diretório nacional e este uma Comissão Executiva Nacional. Existem, portanto, estruturas de direção eleitas e em todas elas a presença de uma mesma maioria política. Uma maioria que vem utilizando esta condição para dirigir, a partir dela, o conjunto do partido.
Se o fato fosse apenas este, já existiram diversos problemas. Mas a questão é que a atual maioria da direção do PT tem buscado conduzir o conjunto do partido unicamente a partir das suas posições e na maior parte das vezes em detrimento das demais posições e ignorando as divergências e as diferenças existentes no partido.
É a partir desta constatação (mas não apenas) que se pode identificar duas visões distintas sobre a atual direção do PT. Existem aqueles que consideram que a atual direção está fazendo tudo o que pode e que deve ser feito na luta contra o governo Bolsonaro. E existem aqueles que consideram que a atual direção está longe de cumprir com esse papel, seja pela política e pela estratégia equivocadas que a maioria defende, seja pelos métodos adotados por ela.
Contraditoriamente aos métodos que usa internamente, entre a maioria política que dirige o partido parece prevalecer uma visão do PT como “partido da ordem”, aprisionado nas amarras das ações institucionais que supostamente pesam sob um partido que já elegeu por quatro vezes a presidência da república. Esta compreensão do papel republicano do partido funciona como uma bussola para as tomadas de decisão e ao mesmo tempo como um freio de mão para a execução das decisões tomadas.
Nesse sentido, pela visão da maioria, o PT não podia encampar a luta pelo Fora Bolsonaro, uma posição que já era defendida por setores do partido desde o 7º congresso. E não podia, entre outros motivos, porque o PT precisava ter, na opinião deles, “responsabilidade”. Uma responsabilidade que passa por não levantar bandeiras que sejam “apenas palavras de ordem” ou que deixassem o partido “isolado”.
A consequência prática desta visão foi a demora para o PT assumir a luta pelo Fora Bolsonaro e uma vez assumida, não definir qual o seu conteúdo. Tudo isso à revelia de opiniões existentes na própria direção nacional sobre a urgência do partido assumir a organização de uma campanha pelo fim do governo Bolsonaro.
A conjuntura, então, piorou rapidamente e a posição da maioria foi soterrada pelos fatos, de tal modo que o PT acabou agindo de forma tímida e apenas reativa diante de uma brutal ofensiva fascista. E no momento em que a luta chega às ruas, mesmo que durante um período de isolamento social, a maioria da direção se mostra incapaz de realizar sequer uma reunião virtual para discutir conjuntamente a posição e as medidas que o partido deve adotar.
Fica evidenciado que a política da maioria do PT é insuficiente para enfrentar a situação atual. A insistência numa estratégia moderada e baseada no calendário eleitoral é incompatível com o acirramento da luta de classes no país, que ainda está longe de atingir seu ponto mais elevado.
Assim, se faz necessária uma mudança urgente na linha política do partido, com uma mudança na sua atual estratégia, de forma que o PT possa articular uma alternativa política concreta. Uma alternativa que esteja sustentada nos trabalhadores e nas trabalhadoras organizadas e não em acordos ou alianças feitas com parte de seus adversários.
A questão que se coloca é que nenhuma mudança na política atualmente empreendida ocorrerá espontaneamente. Seus defensores parecem mesmo acreditar que a estratégia derrotada seguidamente em 2016 e 2018, com um ajuste aqui e outro acolá, pode servir para enfrentar a situação atual.
Por isso, é fundamental que o conjunto do petismo se mobilize para que as mudanças na política do partido possam ocorrer. Como já está mais do que demonstrado, a visão que prevalece hoje é a de jogar na defensiva, com uma linha de zaga que torce para que o atacante adversário caia no impedimento. Acontece que o adversário, além de não respeitar as regras, tem do seu lado o juiz e os bandeirinhas. É por isso que o caminho para vencer passar por mudar a estratégia, mudando a visão que nesse momento limita nossos movimentos e não nos permite atacar.
É preciso, finalmente, uma política que seja capaz de polarizar a disputa no país, na grande batalha ideológica e cultural que está ocorrendo. E nesta batalha, a maior força política e social que tem condições de enfrentar e derrotar o fascismo, continua sendo o petismo. Que essa força seja colocada e mobilizada em favor da classe trabalhadora brasileira.
(*) Patrick Araújo é integrante do Diretório Nacional do PT e editor do Poadcast “A esperança é vermelha”.