Edinho e a selfie com Bolsonaro

Por Valter Pomar (*)

Uma parte da tendência Construindo um Novo Brasil realizou, na sexta-feira 28 de março, uma reunião para dar apoio a pré-candidatura de Edinho Silva à presidência nacional do PT.

Há controvérsias sobre as consequências práticas do conclave. Uns falam que teria sacramentado o lançamento de duas chapas da CNB, outros dizem que teria acelerado a costura de um acordo entre as partes. Em qualquer dos casos, parece existir muito ressentimento acumulado.

Quanto à política que embasa a existência de duas ou mais “bandas” na CNB, recomendável ouvir no Instagram os “melhores momentos” do discurso feito no conclave por Edinho, para quem “derrotar o fascismo” ocupa lugar importante.

É interessante contrastar esse “bordão” com a posição que o hoje pré-pré-candidato assumiu em 2022, quando propôs que Lula e Bolsonaro tirassem uma foto juntos, com o fito de “baixar a temperatura”.

Embora na época tenha lido a insólita proposta, apaguei a lembrança até que a provocação de alguém mais atento me fez ir atrás e confirmar.

Os bastidores não sei, só sei que foi publicado assim no UOL dia 4/11/2022:  Edinho disse que “o presidente Lula tem que tomar posse no ambiente de estabilidade institucional. Temos que criar as condições para tanto. Eu defendo que se abra um amplo diálogo com as próprias forças que foram derrotadas (…) Isso não é sequer consenso no meu partido, mas é a minha posição. Se existiu uma foto de Fernando Henrique e Lula na transição de 2002, por que nós não podemos construir essa foto agora com Bolsonaro e Lula, mostrando ao país que existe uma transição madura, adulta, dentro de um ambiente democrático? Isso seria um gesto que efetivamente baixaria a temperatura do Brasil”.

Edinho comparou esta sua proposta com o que supostamente teria sido feito pelo “ex-chanceler alemão Konrad Adenauer, [que] quando foi empossado, se encontrou com lideranças do nazismo para depois destruir o nazismo. Do ponto de vista histórico, o encontro Lula e Bolsonaro pode ser importante e não significa nenhuma concessão”.

Na história que estudei, Adenauer não “destruiu o nazismo”, muito antes pelo contrário. Mas o mais importante é que – como ficou demonstrado pelas investigações do STF – no momento em que Edinho queria fazer uma foto, Bolsonaro e os seus estavam (como seguem estando) numa vibe pouco amigável, digamos assim.

Edinho aprendeu a lição? Pela ênfase beirando a temerosa que ele dá ao fascismo, pareceria que sim. Mas suas declarações acerca da “polarização” & outros assuntos mostram que ele segue não entendendo que para “destruir o nazismo” é preciso um partido para tempos de guerra, onde ninguém ache boa ideia fazer selfie com fascista.

O artigo citado pode ser lido aqui:

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/11/04/coordenador-petista-defende-foto-de-lula-com-bolsonaro-transicao-madura.htm

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

Uma resposta

  1. Acho temerária a posição política conciliatória em que é sobejamente sabido que a outra parte não só é fascista, mas cultua a ideologia da direita radical, oa exploração do povo trabalhador através de domínio do legislativo e produzindo leis de atraso para as classes dominantes.
    Perdemos o eixo, o rumo, perdemos o ímpeto por justiça social. Coitado do militante de base do partido, hoje só massa de manobra de Deputados.

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